Questões de Concurso Sobre gêneros textuais em português

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Q3010815 Português

O SUMIÇO DO PEN DRIVE 


Houve época em que a força bruta era poder. Houve uma época em que a riqueza era poder. Hoje, informação é poder. Quanto mais informados (mas notem, isto não tem a ver necessariamente com conhecimento ou com sabedoria), mais poderosos somos, ao menos teoricamente. Daí esta avalanche, este tsunami de informações. A cotação do dólar, a taxa de inflação, o número de casos de determinada doença, candidatos dos vários partidos, a escalação de times de futebol – nomes e números em profusão, que nos chegam por jornais, revistas, livros, filmes, noticiários de rádio, internet, e que tratamos de armazenar em nossa mente.

Aí surge o problema: para armazenar a informação, a natureza nos deu um cérebro, que é a sede da memória. E nesta memória queremos enfiar o máximo possível de informações. Diferente da memória do computador, porém, a nossa é governada por fatores que nada têm a ver com a informática. O estado de nossas células cerebrais, as nossas emoções; tudo isso pode representar uma limitação para nossa capacidade de lembrar. Coisa que sistematicamente negamos. Como alguém que está se preparando para uma longa viagem (e o que é a vida, senão uma viagem que esperamos longa?), tratamos de socar na mala da memória a maior quantidade possível de coisas. As malas até podem se submeter, mas a memória simplesmente não aceita a nossa irracionalidade.


Felizmente a tecnologia tem vindo em nosso auxílio. Primeiro foi o computador propriamente dito, com sua memória cada vez maior; depois, vieram os dispositivos de armazenamento, os CDs, os pen drives. Coisa incrível, o pen drive: um pequeno objeto no qual cabe uma existência, ou pelo menos uma importante parte dela. Para quem, como eu, viaja bastante e tem de trabalhar em aviões ou em hotéis, é um recurso precioso. No meu pen drive eu tinha artigos, material de consulta, endereços, telefones. A primeira coisa que eu fazia, ao sair de casa para ir ao aeroporto era colocar o pen drive num lugar que eu imaginava seguro: o bolso da camisa. Seguro – e simbólico, já que o pen drive ficava próximo ao coração.


Vocês já notaram que estou usando os verbos no passado – passado imperfeito, aliás. E isso por boas razões. Esses tempos, ao chegar ao aeroporto, meti a mão no bolso para dali retirar o pen drive. Mas não encontrei pen drive algum. Encontrei um buraco, verdade que pequeno, mas de tamanho suficiente para dar passagem (ou para dar a liberdade?) ao pen drive. Que tinha caído por ali.


Um transtorno, portanto. Perguntei no aeroporto, entrei em contato com o táxi que me trouxera, liguei para casa: nada. O pen drive tinha mesmo sumido. O buraco da camisa era, portanto, um buraco negro, aqueles orifícios do universo em que toda a energia é sugada e some. Antes que vocês me repreendam, devo dizer que tinha tomado minhas precauções: havia cópia de todo o material, nada se perdeu. Mas o episódio me inspirou várias reflexões. De repente eu me dava conta de como nossa existência é frágil, de como somos governados pelo acaso e pelo imprevisto. Nenhuma queixa contra o pen drive, que veio para ficar; aliás, meu palpite é que,  no dia do Juízo Final, cada um de nós vai inserir o pen drive de sua vida no Grande Computador Celestial. Virtudes e pecados serão instantaneamente cotejados e o destino final, Céu ou Inferno, decidido de imediato. Pergunta: o que acontecerá com aqueles que, por causa de um buraco na camisa, perderam o pen drive?



Fonte: Moacyr Scliar. Zero Hora (RS), 11/5/2010. Disponível em:http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?inf oid=10352&sid=695.

No texto fica evidente a discussão em torno do armazenamento de informações e memória, bem como a relação entre essa relação material e imaterial. Tomando como ponto central a figura de um pen drive.
De acordo com a caracterização apresentada, trata-se do gênero: 
Alternativas
Q3010560 Português




Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/16255248647382535/

O humor no texto, característica do gênero em questão, é estabelecido nesse exemplo pela proposta:


Assinale a alternativa CORRETA:  

Alternativas
Q3010558 Português




Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/16255248647382535/

No texto acima, identificamos a presença da linguagem verbal e não verbal na construção humorística da mensagem. Esse tipo de texto faz uso de frases de efeito e personagens de conhecimento coletivo. Muito utilizado nas redes sociais da internet, trata-se do gênero textual conhecido como:

Assinale a alternativa CORRETA: 
Alternativas
Q3010555 Português

O homem do mediterrâneo


(Rubem Braga)



    Uma tarde, em algum lugar da Grécia. Curvada para o chão, a velha recolhe as azeitonas e as joga dentro de um cesto. Talvez não seja muito velha, e a fadiga do trabalho a faça parecer menor e mais lenta. Com uma longa vara, o homem de cabelos grisalhos bate os galhos da oliveira. Um burrisco, ali perto, espera a hora de escurecer, de sentir um peso nas costas e marchar lentamente de volta à casa: o homem lhe dará a ordem numa só palavra resmungada.


     Talvez em português, talvez em italiano, talvez em grego. Muda pouco a paisagem, mudam pouco as rugas do camponês, as oliveiras têm esse mesmo verde prateado, desfalecido, seja o pé de um convento manuelino, de um arco romano, de umas colunas dóricas abandonadas na planura. Novembro começa: e lentamente, como se o fizessem apenas nas horas de lazer, homens e mulheres começam a colher olivas, apenas de uma árvore ou outra, como na abertura de um rito.


     Sento-me no chão, à sombra de uma oliveira: o sol se faz subitamente muito claro, quase quente. Eu podia tirar uma fotografia, mas sou um mau turista: fico ali sentado no chão, analfabeto, animal; no chão, à sombra de uma oliveira: o sol se faz subitamente muito claro, quase quente. Eu podia tirar uma fotografia, mas sou um mau turista: fico ali sentado no chão, analfabeto, animal; pensando que eu poderia ser, com esta mesma cara, aquele homem de cabelos grisalhos; e aquela mulher que se curva para a terra, de pano na cabeça, poderia ser minha mulher; e eu poderia estar repetindo lentamente, na mesma faina de sempre, o mesmo gesto do meu avô, meu bisavô, na mesma terra, junto, quem sabe, à mesma oliveira secular. Sinto que sou um europeu do Mediterrâneo, me reencarno na rude pele de qualquer antepassado. Se eu ficasse louco neste momento, e perdesse a memória, talvez acabasse a vida nesta aldeia; e, como seria um louco manso, talvez me admitissem lentamente a cuidar da terra, a pastorear as ovelhas, a limpar os vinhedos, a colher azeitonas. Dar-me-iam algum monte de feno onde dormir, ao abrigo do tempo; e, ao cabo, talvez mim um dos seus.


     Como o Brasil está longe, além dos mares, das gerações! (Mas, mesmo na minha loucura mansa, perdida toda a memória, talvez eu guardasse um certo nome de mulher – e o repetisse baixinho, comigo mesmo, quando, perante um desses mármores lavados pelas chuvas, dourados violenta vontade de chorar.)

No texto de Rubem Braga, há uma narrativa memorialista em que o narrador conduz o leitor a uma descrição sobre a vida e o viver: pontos de vista, expectativas e conclusões.
Por se tratar de uma crônica, há a presença de:
Assinale a alternativa CORRETA:
Alternativas
Q3008078 Português

Texto 2


Coração Materno




        Duas horas da tarde. Ali no início do Morro da Viúva fizeram sinal: duas senhoras, ambas de cabelos brancos, preparavam-se para entrar no lotação, quando o motorista gritou: “Um lugar só”. A velhinha mais velha, já com o pé colocado no carro com imensa dificuldade, conseguiu retirar a perna comprometida, com dificuldade ainda maior, sob os protestos persuasivos da velha mais moça, que dizia:
        ─ Vai, mamãe, vai a senhora, eu vou em outro.
        A mãe, se desmanchando em timidez, medo e bondade, sorria:
        ─ Não, minha filha, eu não posso te deixar aqui sozinha.
        ─ Vai, mamãe.
        ─ Não, minha filha.
        ─ Pelo amor de Deus, mãe; o homem está esperando.
        ─ Mas... minha filha?!
       Os passageiros aguardavam com a tolerante paciência de quem tem ou já teve mãe. O motorista fez força (e o conseguiu, parabéns) para refrear a sua fúria de Averno1 .
        ─ Vai, mãezinha; aqui neste ponto é difícil arranjar dois lugares.
        ─ Não posso te deixar sozinha, minha filha. Nunca!2
        Diante do impasse, levantou-se, resoluto, um senhor sentado no banco da frente, oferecendo-se para ir em pé, as duas senhoras iriam sentadas. Ah, mas isso não, aparteou o motorista, era contra o regulamento, dava multa. O amável passageiro descompôs o regulamento do tráfego e os demais regulamentos: eram desumanos. Ao pé da calçada, o torneio sentimental de mãe e filha continuava:
        ─ Vai, vai, mãe.
        ─ Não posso ir sem você, minha filha.
       Quem viu a necessidade eventual de perder docemente a paciência foi a filha. Usando de energia adequada ao momento, segurou o braço da velhinha (mas3 velhinha mesmo, frágil, frágil), empurrou-a com o mínimo de força necessária, proferiu uma ordem imperiosa:
        ─ Vai, mãe.
        E a velha mais moça se afastou em passadas compridas, impedindo a contramarcha da velha mais velha, que estava no limite extremo de sua timidez, e não teve outro jeito senão agarrar-se ao braço do motorista, entrar penosamente, sorrir pedindo perdão para todos os passageiros4 . Ajeitou-se no banco, esperou o barulho do motor e comentou para a vizinha (que a olhava, compreendendo tudo, as velhas, as mães, o cosmos):
        ─ Coitadinha! Eu fico morrendo de pena de deixar ela aí, só, tão longe!
        Longe de onde? Das entranhas que criaram uma menina. Longe. Só.
        A viagem para o centro foi recomeçada, sem novidades, todos voltaram para dentro de si mesmos, esquecidos do episódio. A mãe, no entanto, furtiva (certa de já causar bastantes transtornos naquele dia) inspecionava todos os lotações que ultrapassavam o nosso, aflita em sua quietude, buscando lobrigar a filha. Mas foi só quando o lotação entrou na Avenida, e parou diante de um sinal, que, enfim, a velha mais moça, a filha, apareceu em um lotação ao nosso lado. As duas se sorriram como depois de uma longa e apreensiva travessia. A velhinha chegou a fazer graça:
        ─ Graças a Deus, minha filha! Você ainda chegou antes de mim.
        ─ Eu não disse, mãe, que não tinha perigo? 
        A filha desceu na esquina, chegou até perto da janela do nosso5 lotação, segurou a mão de sua mãe:
        ─ Agora vai direitinha, viu?
        ─ Você pode ir descansada, minha filha.
        O lotação arrancou de novo, gestos de adeus, a harmonia voltou ao rosto da nossa velhinha, que tranquilizou também a vizinha de banco:
        ─ Ela vai trabalhar no Ministério; eu vou para casa, moro no Rio Comprido.

CAMPOS, Paulo Mendes. In: Para gostar de ler. vol. 2. 8. ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 50-52. Adaptado.    

Analisando o Texto 2 do ponto de vista das construções linguísticas, de suas sequências tipológicas e de sua finalidade geral, pode-se afirmar que ele é uma
Alternativas
Respostas
1: B
2: D
3: C
4: B
5: B