Questões de Concurso Público TJ-SP 2023 para Oficial de Justiça
Foram encontradas 3 questões
Q2307847
Português
Texto associado
Os fantasmas não fumam
Os fantasmas não fumam. Mas não por causa da campanha antitabagista que está na moda. Os fantasmas deixaram
de fumar desde o doloroso acidente ocorrido no seu nevoento mundo.
Era um fantasma que tinha a mania de assistir ao deitar
e ao despertar das moças quando se despiam ou vestiam.
Nuas em pelo, elas não lhe interessavam. Como se vê, tratava-se de um fantasma antiquado.
Ora, uma noite, invisibilizando-se como fazia em tais ocasiões, ele entrou pela primeira vez no quarto de Lurdinha.
E, como vocês felizmente ainda ignoram, não é só para
mim que Lurdinha é irresistível. O destino dela é inspirar amor
à primeira vista, mas amor no duro – não a simples contemplação olhativa com que o fantasma até então se divertira.
Um amor para casar.
Ante essa impossibilidade, a vida do fantasma era um
suspiro só.
Até que um dia recordou ter lido, em um poeta chinês,
que fumar era uma maneira disfarçada de suspirar...
E o nosso fantasma apaixonado fumou tanto, tanto, que
acabou fumando-se a si mesmo.
(Mario Quintana, Da preguiça como método de trabalho, 2013. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a colocação pronominal
está em conformidade com a norma-padrão.
Q2307852
Português
Texto associado
O significado de conviver com o semiárido
O sentido da expressão “convivência com o semiárido”,
em uma primeira visão ou leitura, pode levar a uma compreensão equivocada: viver no semiárido, sofrendo com a problemática das mudanças climáticas que tanto aflige, principalmente, os agricultores e agricultoras de base familiar.
Mas o sentido real da expressão “convivência com o semiárido” traz em seu arcabouço o real significado sociotransformador: viver buscando transformar os obstáculos provocados pelas mudanças climáticas e pelas injustiças sociais
em oportunidades para mudar as condições de vida a partir
de transformações no comportamento. Isso inclui premissas
como o cuidado com o meio ambiente para uma vida digna,
evitando que a região venha a se constituir um deserto.
É grande a riqueza de possibilidades, de caminhos, de
alternativas que já foram geradas. São frutos das lutas populares, dos trabalhos pastorais, comunidades eclesiais de
base etc., a partir das quais muitas organizações sociais
nasceram e permanecem até hoje. Elas mobilizam os agricultores e agricultoras, promovendo trocas de experiência
e qualificando-os a partir da estratégia de construção coletiva
do conhecimento.
Essas organizações sociais geram reais possibilidades
de se conviver com o semiárido e ter vida digna, sobretudo a
partir da produção agroecológica, da transição energética, da
captação e manejo de água de chuva, que gera vida não só
para os seres humanos, mas para todos que habitam o semiárido no bioma caatinga.
(José Dias, “O significado de conviver com o semiárido”.
Folha de S.Paulo, 10.08.2023. Adaptado)
Considere as passagens:
• Isso inclui premissas como o cuidado com o meio ambiente para uma vida digna... (2o parágrafo)
• Elas mobilizam os agricultores e agricultoras, promovendo trocas de experiência... (3o parágrafo)
Os termos destacados referem-se, correta e respectivamente, a:
• Isso inclui premissas como o cuidado com o meio ambiente para uma vida digna... (2o parágrafo)
• Elas mobilizam os agricultores e agricultoras, promovendo trocas de experiência... (3o parágrafo)
Os termos destacados referem-se, correta e respectivamente, a:
Q2307860
Português
Texto associado
Kazukuta
Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas,
das pitangas e das goiabas, e era mesmo por gritarmos ou
por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento
de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta
ia sobrar para a fome dele.
Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de
pele já escura que ninguém apanhava. Mexia-se sempre devagarinho, bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho
de sol para lhe acudir as feridas, ou então mesmo buscar regresso na casota dele. Às vezes, mesmo no meio das brincadeiras, meio distraído, e antes de me gritarem com força para
eu não estar assim tipo estátua, eu pensava que, se calhar, o
Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes,
ele podia estar a pensar. Mesmo se a vida dele era só estar ali
na casota, sair e entrar, tomar banho de mangueira com água
fraca, apanhar nêsperas podres e voltar a entrar na casota
dele, talvez ele estivesse a pensar nas tristezas da vida dele.
Acho que o Kazukuta era um cão triste. Nós não lhe ligávamos nenhuma. Ninguém brincava com ele, nem já os mais velhos lhe faziam só uma festinha de vez em quando.
Mesmo nós só queríamos que ele saísse do caminho e não
nos viesse lamber com a baba dele bem grossa de pingar
devagarinho e as feridas quase a nunca sararem. Acho que
o Kazukuta nunca apanhou nenhuma vacina, se calhar ele
tinha alergia ou medo de vacina, não sei, devia perguntar
ao tio Joaquim. Também o Kazukuta não passeava na rua e
cada vez andava só a dormir mais.
(Ondjaki, Os da minha rua, 2007. Fragmento)
Na passagem do 2o
parágrafo – ... e era capaz de ir procurar um bocadinho de sol para lhe acudir as feridas... –,
o pronome “lhe” expressa o mesmo sentido que o destacado em: