Por longo tempo, jovem demais, estranhei a visão de felicidade que prevalecia em nossa cultura, a recorrência da
noção de uma felicidade efêmera, momento fugidio que mal
faz estremecer a dor contínua. “A tristeza é senhora”, cantava
João Gilberto, e eu cantava junto tentando acompanhar seu
ritmo impossível, mas acompanhando menos ainda o sentimento. Creio ter sido esta a primeira metáfora que admirei na
vida, e a primeira que descartei como imprecisa: “A felicidade
é como a gota de orvalho numa pétala de flor. Brilha tranquila, depois de leve oscila, e cai como uma lágrima de amor.”
Essa mesma lágrima, essa lágrima de orvalho e de amor, não
seria, pelo contrário, a mais linda expressão da tristeza, ela
sim breve e lírica?
(Julian Fuks. Em: www.uol.com.br/ecoa, 05.11.2022. Adaptado)