Questões de Concurso Público Prefeitura de São José dos Campos - SP 2019 para Analista em Gestão Municipal - Direito
Foram encontradas 2 questões
Ano: 2019
Banca:
VUNESP
Órgão:
Prefeitura de São José dos Campos - SP
Prova:
VUNESP - 2019 - Prefeitura de São José dos Campos - SP - Analista em Gestão Municipal - Direito |
Q1173123
Português
Texto associado
Leia o texto para responder a questão.
Do lado de fora, nada de extraordinário: apenas mais um
prédio residencial envelhecido no bairro Kung Tong, em Hong
Kong. Muitos deles têm lojas e restaurantes no primeiro e no
segundo piso, placas penduradas na fachada.
Por dentro, os apartamentos não são iguais. Alguns
deles foram subdivididos nos ilegais “apartamentos-gaveta”:
compartimentos minúsculos, onde é difícil conceber que uma
pessoa possa viver.
Kung Tong é o bairro mais densamente povoado do
território chinês. São mais de 57 mil pessoas por quilômetro
quadrado, uma das taxas mais altas do mundo. Espaço é um
luxo que muita gente não tem como pagar. A miséria é vertical.
É preciso entrar para entender.
Um dos apartamentos tem 58 metros quadrados e nele
moram 19 pessoas. Um banheiro minúsculo e imundo, assim
como a cozinha, são de uso compartilhado.
O espaço foi divido em dois “andares”. Os cubículos de
cima têm 1,4 metro quadrado, enquanto os de baixo têm
menos de 3 metros quadrados. Nesses, é possível ficar de pé,
mas, nos outros, só sentar ou deitar. A “gaveta” nada mais é
que um caixão para vivos.
Esses moradores pagam cerca de R$ 700 por mês, o
valor mais baixo possível por um teto, e sofrem ainda com
o calor e a falta de higiene. Não há controle dos preços do
aluguel ou do tamanho dos espaços habitáveis, e faltam
moradias sociais. Idosos e famílias têm prioridade nas mais
de 750 mil habitações subvencionadas da cidade, mas a
espera é longa — leva em média mais de quatro anos.
No bairro de Happy Valley, onde apartamentos são
facilmente alugados por mais de 10 mil dólares por mês, ao
menos 20 pessoas vivem em uma passagem subterrânea
para pedestres.
Imigrantes indianos, chineses e quatro idosos locais são
alguns dos sem-teto morando ao lado do prestigioso Jóquei
Clube de Hong Kong.
(Luiza Duarte. Pequim elege crise da moradia como raiz da mobilização
civil em Hong Kong. www.folha.uol.com.br, 25.09.2019. Adaptado)
Encontra-se em conformidade com as ideias presentes
no texto e com a norma-padrão a frase:
Ano: 2019
Banca:
VUNESP
Órgão:
Prefeitura de São José dos Campos - SP
Prova:
VUNESP - 2019 - Prefeitura de São José dos Campos - SP - Analista em Gestão Municipal - Direito |
Q1173127
Português
Texto associado
Leia o texto para responder a questão.
A entrevista estava marcada na casa dele, numa das
favelas mais pobres de Fortaleza. De manhã bem cedo, eu
e o fotógrafo esperávamos, na porta de uma ONG ainda
fechada, o educador que nos levaria até aquele emaranhado de endereços desencontrados, um território dividido por
duas quadrilhas rivais do tráfico de drogas. O menino apareceu de repente, vestido com uma camiseta do Brasil. Sem
olhar para mim, ele disse: “Na minha casa, não.” Não dizia
o porquê. Apenas sacudia a cabeça em sinal de negativa
explícita. Ele era pequeno para os seus 15 anos, mas o seu
“não” era enorme.
A porta da ONG abriu, e ele entrou. Sentou-se na
cadeira da recepção e tentou ligar o computador. Passou-se
muito tempo, talvez quase uma hora de silêncios entre nós,
interrompidos por uma ou outra palavra que servia ao menino
apenas como demarcação do território. O território que ele
não queria que eu alcançasse, as palavras curtas marcando
que não haveria palavras longas. Eu não sabia se tinha o
direito de continuar ali, talvez nunca saiba. Mas ele também
não ia embora.
Então a cozinha da ONG abriu. E, de um salto, ele já
estava lá. Como se eu fosse um vira-lata esquecido, me chamou com displicência. Mas ainda não me olhava. Sentei-me
diante dele e o vi devorar um pão em menos de um minuto.
No segundo pão, ele me enxergou pela primeira vez, oferecendo-me um pedaço. A certa altura, parecendo com pena
de mim, disse:
– Você entende só um pouco de português, né?
O menino tinha razão. Eu não alcançava a riqueza da
sua língua portuguesa, que dava conta de um Brasil diverso,
com palavras nascidas ali mesmo. Expressões gestadas
na necessidade de dar conta de uma realidade na qual era
necessário, por exemplo, nomear o momento-limite em que o
gatilho da arma é acionado, mas a bala não sai.
Mas era mais do que isso. Eu demorei a lê-lo. Eu era
analfabeta dele. O seu “não” da altura de um edifício, a
postura do seu corpo, entre acuada e pronta para saltar no
meu pescoço, o seu medo de mim, que às vezes beirava a
raiva, era fome. Frequentemente me deparei com essa fome,
a fome que é um substantivo sem adjetivo possível.
O menino me leu muito antes de eu a ele. Percebeu que
eu era estrangeira ao seu Brasil. Estranhou a cor da minha
pele, a tonalidade do meu cabelo, a forma e o som das minhas palavras. Estranhou que eu precisasse de tradução
para algumas de suas frases. Estranhou porque havia que
estranhar.
(Eliane Brum. Limites da linguagem.
https://brasil.elpais.com, 04.08.2014. Adaptado)
Encontra-se em conformidade com a norma-padrão da
língua, quanto à colocação dos pronomes, a seguinte
frase: