Leia o texto a seguir para responder a questão.
O governo de um país com pouco mais de 5 milhões de
habitantes aceita gastar US$ 9 milhões para construir uma
fortaleza gelada na qual guarda sementes vindas do mundo inteiro, para sempre, como um seguro para a agricultura
mundial. Tudo de graça e sem ter nenhum direito sobre elas.
Parece mentira, mas tal coisa existe há dez anos, completados em fevereiro, quando esse banco incomum ultrapassou a marca de 1 milhão de depósitos realizados.
Não é o primeiro ato de generosidade da Noruega para
o planeta: a nação nórdica já reservou US$ 1 bilhão para custear projetos ambientais no Brasil, o Fundo Amazônia. Perto
disso, parece dinheiro de troco o custo do Cofre Global de
Sementes na ilha norueguesa de Spitsbergen, arquipélago
de Svalbard, a meio caminho entre a costa da Noruega e o
polo Norte.
Verdade que muito da renda que a Noruega tem sobrando provém da extração de gás natural e petróleo no Ártico.
Embora o país exporte a maior parte desses combustíveis
fósseis, pois sua matriz energética é muito limpa (quase toda
a eletricidade vem de usinas hidrelétricas), eles são queimados em algum lugar e, assim, contribuem muito para agravar
o aquecimento global.
Estocadas em envelopes selados de alumínio impermeável a 5% de umidade e a -18°C, sementes ainda podem germinar 30 anos depois, ou mais. Faz muito frio em Spitsbergen
—mesmo no verão os termômetros não vão muito além de
7°C. No interior de um túnel de 120 m montanha adentro, o
frio é maior, e a variação, mínima, o que ajuda a economizar
gastos com refrigeração.
É muito longe e caro chegar a Svalbard, o que reduz a
chance de ataques ao cofre. No entanto, há boa infraestrutura em Longyearbyen, vila com minas de carvão, porto e
aeroporto da qual a fortaleza dista meros 5 quilômetros.
Só no seu aniversário o banco recebeu, em uma cerimônia especial, 76330 amostras em 179 caixas provenientes de
25 instituições em 22 países.
Estão agora armazenados na montanha gelada 967216
envelopes lacrados cheios de caroços, que só os depositantes podem pedir para retirar. Assim ocorreu com milhares de
amostras provenientes de Aleppo, na Síria, sacadas do cofre
para reconstituir o acervo no Líbano e em Marrocos, em local
menos inseguro que uma nação em guerra civil.
Não fosse por essa retirada, o cofre de Svalbard guardaria ainda 1059646 saquinhos de sementes. Uma fortuna de
valor incalculável para a segurança alimentar de gerações
por vir.
(Marcelo Leite. “Cofre das sementes comemora 10 anos e 1 milhão de
amostras”. www1.folha.uol.com.br, 26.02.2018. Adaptado)