O mundo está ficando menos globalizado?
A globalização é um fenômeno complexo que envolve
o fluxo internacional de produtos, serviços, dinheiro,
informação, imigração e doenças, como a covid-19. As
grandes navegações propiciaram o acúmulo de capital,
dando início à Primeira Revolução Industrial. Outra fase se
deu na Segunda Revolução Industrial, no desenvolvimento
de novas tecnologias produtivas, especialmente em
comunicações, transporte e fontes de energia.
Já um terceiro momento ocorreu na segunda metade
do século 20, marcado pelo desenvolvimento de altas
tecnologias, em campos como a informática e a robótica, o
que caracterizou a Terceira Revolução Industrial e o
surgimento das empresas transnacionais, com a integração
das cadeias produtivas globais. Atualmente, estamos na
quarta fase da globalização, identificada pela hegemonia do
sistema capitalista de produção em quase todo o globo e
pela forte integração cultural entre os países.
Na década de 1990, vários políticos e pensadores
imaginaram que os princípios liberais de democracia,
direitos humanos e livre mercado pudessem “se espalhar
por todo o mundo, superar todos os obstáculos, apagar
todas as fronteiras nacionais e transformar o gênero
humano em uma comunidade global livre”, como anotou
Yuval Harari, em “21 Lições para o Século 21”. Dessa forma,
observamos um período de hiperglobalização, como narrou
Thomas Friedman em “O Mundo é Plano”, que perdurou até
os anos 2008 e 2009. Após esse período, segundo Paul
Krugman, “o comércio internacional, como parte da
economia mundial, tem estado mais ou menos estável por
14 anos” (New York Times, 8/9/2022).
Algumas questões da atualidade levam a crer no
recuo da globalização nos próximos anos. A primeira é
decorrente de fenômenos como a eleição de Donald Trump -
resposta popular às decisões políticas que levaram ao
fechamento de fábricas nos EUA e à transferência de parte
da cadeia produtiva para a China. A segunda é fruto da
situação vivida no início da pandemia, com a falta de
insumos médicos, que levou os países a repensarem suas
cadeias produtivas e a questão de vulnerabilidade por terem
renunciado à produção local. A terceira questão está
relacionada à dependência energética da Europa com a
Rússia. Políticos e cidadãos europeus estão preocupados
com as consequências de suas decisões passadas.
A globalização não irá acabar. Seus fluxos financeiros,
comerciais e de informação continuarão transcorrendo
normalmente. Talvez, estejamos apenas vivendo um
questionamento em relação às promessas fantasiosas do
liberalismo e do livre comércio, como panaceias que trariam
igualdade de desenvolvimento entre os países.
(Fonte: Revista CNT – adaptado.)