Um traço peculiar do regime imposto em 1964 gerou efeitos também peculiares para a vida privada de seus
opositores. A “Revolução de Março” foi essencialmente uma ordem autoritária pouco institucionalizada. Suas
regras eram cambiantes, e móveis as divisas entre o proibido e o permitido. Manteve, distorcidas, instituições
e liturgias próprias do sistema democrático: eleições (semicompetitivas), partidos políticos (cerceados),
espaço (estreito) para o Congresso, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais. Por isso, ao tratar do
Brasil, o cientista político espanhol Juan Linz preferiu escrever situação autoritária, em vez de regime
autoritário.
(ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de e WEIS, Luis. Carro Zero e Pau-de-Arara: o cotidiano da oposição de classe média ao regime
militar. IN: Scharcz, Lilia Moritz. História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998,p.327).
A situação acima descrita, sobre a natureza do regime militar instaurado no Brasil entre 1964-1985, permite
concluir que