Questões de Concurso Público Câmara de Maringá- PR 2017 para Advogado
Foram encontradas 2 questões
Ano: 2017
Banca:
INSTITUTO AOCP
Órgão:
Câmara de Maringá- PR
Prova:
INSTITUTO AOCP - 2017 - Câmara de Maringá- PR - Advogado |
Q1345724
Português
Texto associado
Texto 1
O livreiro Garnier
Segunda-feira desta semana, o livreiro
Garnier saiu pela primeira vez de casa para ir
a outra parte que não a livraria. Revertere ad
locum tuum — está escrito no alto da porta do
cemitério de S. João Batista. Não, murmurou
ele talvez dentro do caixão mortuário, quando
percebeu para onde o iam conduzindo, não
é este o meu lugar; o meu lugar é na Rua do
Ouvidor 71, ao pé de uma carteira de trabalho,
ao fundo, à esquerda; é ali que estão os meus
livros, a minha correspondência, as minhas
notas, toda a minha escrituração.
Durante meio século, Garnier não fez outra
coisa senão estar ali, naquele mesmo lugar,
trabalhando. Já enfermo desde alguns anos,
com a morte no peito, descia todos os dias de
Santa Teresa para a loja, de onde regressava
antes de cair a noite. Uma tarde, ao encontrálo na rua, quando se recolhia, andando
vagaroso, com os seus pés direitos, metido
em um sobretudo, perguntei-lhe por que não
descansava algum tempo. Respondeu-me
com outra pergunta: Pourriez-vous résister, si
vous étiez forcé de ne plus faire ce que vous
auriez fait pendant cinquante ans? Na véspera
da morte, se estou bem-informado, achandose de pé, ainda planejou descer na manhã
seguinte, para dar uma vista de olhos à livraria.
Essa livraria é uma das últimas casas da
Rua do Ouvidor; falo de uma rua anterior e
acabada. Não cito os nomes das que se foram,
porque não as conhecereis, vós que sois mais
rapazes que eu, e abristes os olhos em uma
rua animada e populosa, onde se vendem, ao
par de belas jóias, excelentes queijos [...]
ASSIS, Machado de. O livreiro Garnier. In: SANTOS, Joaquim Ferreira
dos. (Organização e introdução). As Cem Melhores Crônicas Brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 41-43. Fragmento.
No trecho “[...] porque não as
conhecereis [...]”, o verbo conhecer
está flexionado na 2ª pessoa do plural
no Futuro do Presente do Indicativo. Ao
ser flexionado no Futuro do Subjuntivo,
respeitando-se a mesma pessoa, a forma
verbal correta é
Ano: 2017
Banca:
INSTITUTO AOCP
Órgão:
Câmara de Maringá- PR
Prova:
INSTITUTO AOCP - 2017 - Câmara de Maringá- PR - Advogado |
Q1345726
Português
Texto associado
Texto 2
Lições de pesquisa
Para Bourdieu, no social tudo é relacional.
As implicações desse postulado teórico da
sociologia bourdiana têm sido valiosas, na
medida em que coloca o pesquisador em
condições de perceber com maior rigor as
características específicas dos objetos de
estudo. Nessa lógica, o enquadramento
do objeto é produzido de forma a permitir
perceber a sua posição relativa no conjunto de
objetos semelhantes, o que possibilita avaliar,
de forma mais acurada, o seu sentido (valor,
significado, pertinência) em uma determinada
configuração do social.
A proposta bourdiana de pôr em jogo
as coisas teóricas, por sua vez, obriga o
pesquisador a operar com os conceitos, ou
seja, usá-los como ferramentas de construção
dos fenômenos empíricos que constituem o
foco da investigação. É, portanto, o avesso de uma prática acadêmica ainda frequente,
em que discursos teóricos antecedem e se
articulam a objetos de estudo pré-construídos.
O resultado mais comum da sobrevaloração
das referências teóricas é o “efeito teoria”
(Bourdieu, 1989, p. 47) que leva o pesquisador
a enxergar o que já se predispunha a encontrar,
ou seja, torna-se a antítese da atividade de
pesquisa que se propõe problemas e questões
a serem verdadeiramente pesquisados.
A recorrência dos quadros teóricos que
antecediam as pesquisas — tão comum
no início da pós-graduação no Brasil — e
impunham-se sobre os objetos de pesquisa
foi uma expressão bastante comum desse
equívoco. No texto “Teoria como hipótese”
(Brandão, 2002), a autora desenvolve essa
reflexão referindo-se à pesquisa, entre nós,
e explicita o significado operacional das
teorias numa perspectiva bastante próxima da
proposta por Bourdieu.
A recusa dos monismos metodológicos
é, a meu ver, uma proposta profundamente
adequada ao caráter sempre provisório das
pesquisas em decorrência da complexidade
dos objetos sociais. As oposições quantitativo
x qualitativo, estrutura x história, questionários
x entrevistas, micro x macro são falsas e
respondem muito mais pela “arrogância da
ignorância” (Bourdieu, 1989, p. 25) do que pela
adequação teórico-metodológica ao problema
sob investigação [...].
BRANDÃO, Zaia. Operando com conceitos: com e para além de
Bourdieu. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.36, n.1, p. 227-241,
jan./abr. 2010. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/ep/v36n1/
a03v36n1.pdf>.Acesso em: 16 jul. 2017. Fragmento.
A flexão das formas verbais
predominantes no Texto 2