Questões de Concurso Público IF-SC 2014 para Professor - Português
Foram encontradas 5 questões
Q439360
Português
Texto associado
Considere a leitura do texto a seguir para responder a questão.
Você é um número
Se você não tomar cuidado vira número até para si mesmo. Porque a partir do instante
em que você nasce classificam-no com um número. Sua identidade no Félix Pacheco é um
número. O registro civil é um número. Seu título de eleitor é um número. Profissionalmente
falando você também é. Para ser motorista, tem carteira com número, e chapa de carro. No
Imposto de Renda, o contribuinte é identificado com um número. Seu prédio, seu telefone, seu
número de apartamento – tudo é número.
Se é dos que abrem crediário, para eles você é um número. Se tem propriedade,
também. Se é sócio de um clube tem um número. Se é imortal da Academia Brasileira de
Letras tem o número da cadeira.
É por isso que vou tomar aulas particulares de Matemática. Preciso saber das coisas.
Ou aulas de Física. Não estou brincando: vou mesmo tomar aulas de Matemática, preciso
saber alguma coisa sobre cálculo integral.
Se você é comerciante, seu alvará de localização o classifica também.
Se é contribuinte de qualquer obra de beneficência também é solicitado por um número.
Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negócio recebe um número. Para tomar um
avião, dão-lhe um número. Se possui ações também recebe um, como acionista de uma
companhia. É claro que você é um número no recenseamento. Se é católico recebe número de
batismo. No registro civil ou religioso você é numerado. Se possui personalidade jurídica tem. E
quando a gente morre, no jazigo, tem um número.
E a certidão de óbito também. Não somos ninguém? Protesto. Aliás é inútil o protesto. E
vai ver meu protesto também é um número.
Uma amiga minha me contou que no Alto Sertão de Pernambuco uma mulher estava
com filho doente, desidratado, foi ao Posto de Saúde. E recebeu a ficha número 10. Mas dentro
do horário previsto pelo médico a criança não pôde ser atendida porque só atenderam até o
número 9. A criança morreu por causa de um número. Nós somos culpados.
Se há uma guerra, você é classificado por um número. Numa pulseira com placa
metálica, se não me engano. Ou numa corrente de pescoço, metálica.
Nós vamos lutar contra isso. Cada um é um, sem número. O si-mesmo é apenas o si-
mesmo.
E Deus não é número.
Vamos ser gente, por favor. Nossa sociedade está nos deixando secos como um
número seco, como um osso branco seco exposto ao sol. Meu número íntimo é 9. Só. 8. Só. 7.
Só. Sem somá-los nem transformá-los em novecentos e oitenta e sete. Estou me classificando
com um número? Não, a intimidade não deixa. Veja, tentei várias vezes na vida não ter número
e não escapei. O que faz com que precisemos de muito carinho, de nome próprio, de
genuinidade.
Vamos amar que amor não tem número. Ou tem?
Você é um número
Se você não tomar cuidado vira número até para si mesmo. Porque a partir do instante
em que você nasce classificam-no com um número. Sua identidade no Félix Pacheco é um
número. O registro civil é um número. Seu título de eleitor é um número. Profissionalmente
falando você também é. Para ser motorista, tem carteira com número, e chapa de carro. No
Imposto de Renda, o contribuinte é identificado com um número. Seu prédio, seu telefone, seu
número de apartamento – tudo é número.
Se é dos que abrem crediário, para eles você é um número. Se tem propriedade,
também. Se é sócio de um clube tem um número. Se é imortal da Academia Brasileira de
Letras tem o número da cadeira.
É por isso que vou tomar aulas particulares de Matemática. Preciso saber das coisas.
Ou aulas de Física. Não estou brincando: vou mesmo tomar aulas de Matemática, preciso
saber alguma coisa sobre cálculo integral.
Se você é comerciante, seu alvará de localização o classifica também.
Se é contribuinte de qualquer obra de beneficência também é solicitado por um número.
Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negócio recebe um número. Para tomar um
avião, dão-lhe um número. Se possui ações também recebe um, como acionista de uma
companhia. É claro que você é um número no recenseamento. Se é católico recebe número de
batismo. No registro civil ou religioso você é numerado. Se possui personalidade jurídica tem. E
quando a gente morre, no jazigo, tem um número.
E a certidão de óbito também. Não somos ninguém? Protesto. Aliás é inútil o protesto. E
vai ver meu protesto também é um número.
Uma amiga minha me contou que no Alto Sertão de Pernambuco uma mulher estava
com filho doente, desidratado, foi ao Posto de Saúde. E recebeu a ficha número 10. Mas dentro
do horário previsto pelo médico a criança não pôde ser atendida porque só atenderam até o
número 9. A criança morreu por causa de um número. Nós somos culpados.
Se há uma guerra, você é classificado por um número. Numa pulseira com placa
metálica, se não me engano. Ou numa corrente de pescoço, metálica.
Nós vamos lutar contra isso. Cada um é um, sem número. O si-mesmo é apenas o si-
mesmo.
E Deus não é número.
Vamos ser gente, por favor. Nossa sociedade está nos deixando secos como um
número seco, como um osso branco seco exposto ao sol. Meu número íntimo é 9. Só. 8. Só. 7.
Só. Sem somá-los nem transformá-los em novecentos e oitenta e sete. Estou me classificando
com um número? Não, a intimidade não deixa. Veja, tentei várias vezes na vida não ter número
e não escapei. O que faz com que precisemos de muito carinho, de nome próprio, de
genuinidade.
Vamos amar que amor não tem número. Ou tem?
07 de agosto de 1971.
(LISPECTOR, Clarice. Você é um número. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999).
(LISPECTOR, Clarice. Você é um número. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999).
Considerando a leitura do texto, assinale a alternativa CORRETA.
Q439367
Português
Texto associado
Considere a leitura do texto a seguir para responder à questão.
Tendo em vista a leitura do texto, marque V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas.
( ) Embora informe objetivamente os benefícios dos alimentos para o organismo e para a saúde, o texto é classificado como literário.
( ) As batatas, fritas, e os legumes, esquartejados são assassinados pelo eu-lírico, sem demonstração de remorso, o que justifica o título do poema.
( ) Em “Como um selvagem” e “alfaces desmaiam ao molho de limão-mostarda- azeite,/cebolas soluçam sobre a pia”, há ambiguidade e prosopopeia, respectivamente.
( ) O eu-lírico, no poema, posiciona-se como um vegetariano que observa, em uma refeição, o sofrimento de legumes, frutas e verduras, por ele devorados.
( ) Nos versos, “Como tapando o ouvido, fechando os olhos” e “de quem mata para viver”, há, respectivamente, antítese e paradoxo.
Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA, de cima para baixo.
( ) Embora informe objetivamente os benefícios dos alimentos para o organismo e para a saúde, o texto é classificado como literário.
( ) As batatas, fritas, e os legumes, esquartejados são assassinados pelo eu-lírico, sem demonstração de remorso, o que justifica o título do poema.
( ) Em “Como um selvagem” e “alfaces desmaiam ao molho de limão-mostarda- azeite,/cebolas soluçam sobre a pia”, há ambiguidade e prosopopeia, respectivamente.
( ) O eu-lírico, no poema, posiciona-se como um vegetariano que observa, em uma refeição, o sofrimento de legumes, frutas e verduras, por ele devorados.
( ) Nos versos, “Como tapando o ouvido, fechando os olhos” e “de quem mata para viver”, há, respectivamente, antítese e paradoxo.
Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA, de cima para baixo.
Q439369
Português
“NORMALMENTE, quando as pessoas falam em gramática, desconhecem que podem estar
falando não de uma coisa só, mas de coisas bem diferentes. Essa falsa impressão é também
decorrente daquela já referida redução que os fatos linguísticos têm sofrido.
Na verdade, quando se fala em gramática, pode-se estar falando:
a) das regras que definem o funcionamento de determinada língua, como em: “a gramática do
português”; nessa acepção, a gramática corresponde ao saber intuitivo que todo falante
tem de sua própria língua, a qual tem sido chamada de ‘gramática internalizada”;
b) das regras que definem o funcionamento de determinada norma, como em: “a gramática
da norma culta”, por exemplo;
c) de uma perspectiva de estudo, como em: “a gramática gerativa”, “a gramática
estruturalista”, a “gramática funcionalista”; ou de uma tendência histórica de abordagem,
como em: “a gramática tradicional”, por exemplo;
d) de uma disciplina escolar, como em: “aulas de gramática”;
e) de um livro, como em: “a gramática de Celso Cunha”.
Cada uma dessas acepções se refere a uma coisa diferente. Todas, na verdade, coexistem.
Sem problemas, mas precisam ser percebidas nas suas particularidades, nas suas funções e
nos seus limites.”
ANTUNES, Irandé. Que gramáticas existem?. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. P. 25-26.
Acerca das ideias apresentadas no texto, analise as seguintes afirmativas e assinale a que estiver CORRETA:
falando não de uma coisa só, mas de coisas bem diferentes. Essa falsa impressão é também
decorrente daquela já referida redução que os fatos linguísticos têm sofrido.
Na verdade, quando se fala em gramática, pode-se estar falando:
a) das regras que definem o funcionamento de determinada língua, como em: “a gramática do
português”; nessa acepção, a gramática corresponde ao saber intuitivo que todo falante
tem de sua própria língua, a qual tem sido chamada de ‘gramática internalizada”;
b) das regras que definem o funcionamento de determinada norma, como em: “a gramática
da norma culta”, por exemplo;
c) de uma perspectiva de estudo, como em: “a gramática gerativa”, “a gramática
estruturalista”, a “gramática funcionalista”; ou de uma tendência histórica de abordagem,
como em: “a gramática tradicional”, por exemplo;
d) de uma disciplina escolar, como em: “aulas de gramática”;
e) de um livro, como em: “a gramática de Celso Cunha”.
Cada uma dessas acepções se refere a uma coisa diferente. Todas, na verdade, coexistem.
Sem problemas, mas precisam ser percebidas nas suas particularidades, nas suas funções e
nos seus limites.”
ANTUNES, Irandé. Que gramáticas existem?. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. P. 25-26.
Acerca das ideias apresentadas no texto, analise as seguintes afirmativas e assinale a que estiver CORRETA:
Q439373
Português
Considere a leitura do excerto a seguir para responder à questão.
[...] a primeira campanha a ser feita, por todos na sociedade, é a favor da mudança de atitude.
Cada um de nós, professor ou não, precisa elevar o grau da própria auto-estima linguística:
recusar com veemência os velhos argumentos que visem menosprezar o saber linguístico
individual de cada um de nós. Temos de nos impor como falantes competentes de nossa língua
materna. Parar de acreditar que “brasileiro não sabe português”, que “português é muito difícil”,
que os habitantes da zona rural ou das classes sociais mais baixas “falam tudo errado”. Acionar
nosso senso crítico toda vez que nos depararmos com um comando paragramatical e saber
filtrar as informações realmente úteis, deixando de lado (e denunciando, de preferência) as
informações preconceituosas, autoritárias e intolerantes.
(BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2004, p. 115)
De acordo com o excerto, assinale a alternativa CORRETA.
[...] a primeira campanha a ser feita, por todos na sociedade, é a favor da mudança de atitude.
Cada um de nós, professor ou não, precisa elevar o grau da própria auto-estima linguística:
recusar com veemência os velhos argumentos que visem menosprezar o saber linguístico
individual de cada um de nós. Temos de nos impor como falantes competentes de nossa língua
materna. Parar de acreditar que “brasileiro não sabe português”, que “português é muito difícil”,
que os habitantes da zona rural ou das classes sociais mais baixas “falam tudo errado”. Acionar
nosso senso crítico toda vez que nos depararmos com um comando paragramatical e saber
filtrar as informações realmente úteis, deixando de lado (e denunciando, de preferência) as
informações preconceituosas, autoritárias e intolerantes.
(BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2004, p. 115)
De acordo com o excerto, assinale a alternativa CORRETA.
Q439374
Português
Assinale a alternativa CORRETA, considerando as ideias apresentadas no seguinte trecho.
“A avaliação dos textos escritos pelos alunos é uma das atribuições mais importantes do professor (e uma das mais trabalhosas!). Devido a essa importância, é necessário desfazer um equívoco da cabeça de muitos professores: o mito segundo o qual avaliar é corrigir. Avaliação e correção não são a mesma coisa.
[...]
‘E qual o problema disso [corrigir as redações]?’ Alguém poderia perguntar. ‘Por acaso, existem redações de alunos perfeitas, que não têm erros?’, continuaria esse alguém. Essa pessoa estaria perdendo de vista o ponto mais importante da questão em foco. Se o professor lê o texto dos alunos com o objetivo de procurar erros e corrigi-los, a rigor, ele não lê o texto, pois a leitura de um texto é o ato de interação entre texto e leitor na produção de significados.”
OLIVEIRA, Luciano Amaral. Coisas que todo professor de português precisa saber – a teoria na prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. P. 163-4.
“A avaliação dos textos escritos pelos alunos é uma das atribuições mais importantes do professor (e uma das mais trabalhosas!). Devido a essa importância, é necessário desfazer um equívoco da cabeça de muitos professores: o mito segundo o qual avaliar é corrigir. Avaliação e correção não são a mesma coisa.
[...]
‘E qual o problema disso [corrigir as redações]?’ Alguém poderia perguntar. ‘Por acaso, existem redações de alunos perfeitas, que não têm erros?’, continuaria esse alguém. Essa pessoa estaria perdendo de vista o ponto mais importante da questão em foco. Se o professor lê o texto dos alunos com o objetivo de procurar erros e corrigi-los, a rigor, ele não lê o texto, pois a leitura de um texto é o ato de interação entre texto e leitor na produção de significados.”
OLIVEIRA, Luciano Amaral. Coisas que todo professor de português precisa saber – a teoria na prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. P. 163-4.