Leia a resenha a seguir e, a partir dela, responda a questão.
Quem pode sonhar com uma vida que não seja escrava da ação? Os ricos
A vida contemplativa é um clássico da literatura espiritual e também um tema essencial entre
cansados como nós.
A vida contemplativa é um clássico da literatura espiritual. Vista como um modo sublime de
estar com Deus, de ascese mística, ou, simplesmente, de se proteger da invasão da vida pelo mundo
e seu "páthos da ação" — obsessão apaixonada pela ação —, ela é um tema essencial entre cansados
como nós.
"Páthos da ação" é um conceito que o crítico cultural sul-coreano, radicado em Berlim, ByungChul Han trabalha no seu livro recém-publicado no Brasil "Vita Contemplativa ou Sobre a
Inatividade", da editora Vozes.
[...] Byung Chul-Han emplacou um golaço em 2010 com o seu "Sociedade do Cansaço",
também da editora Vozes, muito antes do burnout virar produto da cultura de consumo e das modas
de comportamento e de riquinhos com mal-estar com suas vidas entediadas pelo excesso de trabalho. [...] No último livro ele avança para fazer um elogio claro e filosoficamente sustentado da
recusa da positividade contemporânea como modo de estar no mundo, agora identificada com a
obsessão pela vida ativa — o tal "páthos da ação" referido acima.
Apesar de ter 174 páginas num formato pequeno, o livro é uma obra de fôlego, e, suspeito que
algum fã desavisado do autor, sem um sólido repertório filosófico, ficará a ver navios, enquanto se
afoga em meio à complexa teia de conceitos que ele vai montando de modo cuidadoso.
[...] Umas páginas a mais daria mais fôlego para o leitor amador — e, vale dizer, o tema
acomete todo tipo de gente — perceber que ele está falando do seu dia a dia.[...]
Há, especificamente, uma preocupação muito claramente típica dos europeus ocidentais —
diria, dos ricos em geral — com os excessos da ação humana focada na produção e seus efeitos na
natureza em geral.
[...] Para além do fato de que o diagnóstico do crítico está corretíssimo, e de que o capitalismo
— mas também o finado comunismo soviético — respira esse "páthos da ação", há um resíduo social, político e econômico, que coloca uma questão para qualquer defesa da vida contemplativa hoje em
larga escala — para além de pessoas de vida religiosa contemplativa "profissional".
Essa discussão está bem ambientada num país rico e organizado como a Alemanha e similares.
Em se tratando do Brasil e similares, essa discussão é chique como uma bolsa Prada. Quem pode
conceber uma vida real cotidiana em que a inatividade seja uma escolha possível? Afora jovens das
classes altas, quem mais pode sonhar com uma vida que não seja escrava do "páthos da ação"?
Ninguém.
PONDÉ, Luiz Felipe. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2023/08/quem-pode-sonhar-com-uma-vida-que-nao-seja-escrava-da-acao-os-ricos.shtml. Acesso: 13 ago. 2023. (Fragmento adaptado)