Questões de Concurso Público Prefeitura de Mauá - SP 2014 para Fiscal de Tributos I

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Q616855 Português
                                          REPOLHOS IGUAIS

      Sempre me impressiona o impulso geral de igualar a todos ser diferente, sobretudo ser original, é defeito Parece perigoso E, se formos diferentes, quem sabe aqui e ali uma medicaçãozinha ajuda.

      Alguém é mais triste? Remédio nele. Deprimido? Remédio nele (ainda que tenha acabado de perder uma pessoa amada, um emprego, a saúde). Mais gordinho? Dieta nele. Mais alto? Remédio na adolescência para parar de crescer. Mais relaxado na escola? Esse é normal. Mais estudioso, estudioso demais? A gente se preocupa, vai virar nerd (se for menina, vai demorar a conseguir marido).

      Não podemos, mas queremos tornar tudo homogêneo, meninas usam o mesmo cabelo, a mesma roupa, os mesmos trejeitos; meninos, aquele boné virado. Igualdade antes de tudo, quando a graça, o poder, a força estão na diversidade. Narizes iguais, bocas iguais, sobrancelhas iguais, posturas iguais.

      Não se pode mais reprovar crianças e jovens na escola, pois são todos iguais. Serão? É feio, ou vergonhoso, ter mais talento, ser mais sonhador, ter mais sorte, sucesso, trabalhar mais e melhor.

      Vamos igualar tudo, como lavouras de repolhos, se possível... iguais. E assim, com tudo o que pode ser controlado com remédios, nos tornamos uma geração medicada. Não todos - deixo sempre aberto o espaço da exceção para ser realista, e respeitando o fato de que para muitos os remédios são uma necessidade —, mas uma parcela crescente da população é habitualmente medicada.

      Remédios para pressão alta, para dormir, para acordar, para equilibrar as emoções, para emagrecer, para ter músculos, para ter um desempenho sexual fantástico, para ter a ilusão de estar com 30 anos quando se tem 70 Faz alguns anos reina entre nós o diagnóstico de déficit de atenção para um número assustador de crianças.

      Não sou psiquiatra, mas a esta altura de minha vida criei e acompanhei e vi muitas crianças mais agitadas, ou distraídas, mas nem por isso precisadas de medicação a torto e a direito. Fala-se, não sei em que lugar deste mundo louco, em botar Ritalina na merenda das escolas públicas. Tal fúria de igualitarismo esconde uma ideologia tola e falsa.

      Se déssemos a 100 pessoas a mesma quantidade de dinheiro e as mesmas oportunidades, em dois anos todas teriam destino diferente: algumas multiplicariam o dinheiro; outras o esbanjariam; outras o guardariam; outras ainda o dedicariam ao bem (ou ao mal) alheio.

      Então, quem sabe, querer apaziguar todas as crianças e jovens com medicamentos para que não estorvem os professores já desesperados por falta de estímulo e condições, ou para permitir aos pais se preocuparem menos, ou ajudar as babás enquanto os pais trabalham ou fazem academia ou simplesmente viajam, nem valerá a pena.

      Teremos mais crianças e jovens aturdidos, crianças e jovens mais violentos e inquietos quando a medicação for suspensa. Bastam, para desatenção, agitação e tantas dificuldades relacionadas, as circunstâncias de vida atual.

      Recentemente, uma pediatra experiente me relatou que a cada tantos anos aparecem em seu consultório mais crianças confusas, atônitas, agitadas demais, algumas apenas sofrendo por separações e novos casamentos, em que os filhos, que não querem se separar de ninguém, são puxados de um lado para o outro, sem casa fixa, um centro de referência, um casal de pais sempre os mesmos.

      Quem as traz são mães ou pais em igual estado. Correrias, compromissos, ansiedade por estar na crista da onda, por participar e ser o primeiro, por não ficar para trás, por não ser ignorado, por cumprir os horários, as prescrições, os comandos, tudo o que tantas pressões sociais e culturais ordenam, realmente estão nos tornando eternos angustiados e permanentes aflitos.

      Mudar de vida é difícil. Em lugar de correr mais, parar para pensar, roubar alguns minutos para olhar, contemplar, meditar, também é difícil, pois é fugir do padrão. Então seguimos em frente, nervosos com nossos filhos mais nervosos. Haja psicólogo, psiquiatra e medicamento para sermos todos uns repolhos iguais.

Lya Luft, disponível em [http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/lema-livre/iya-luft-repoihos-iguais/], publicado em 10/5/2014, consultado em 18/10/2014. 
Nos dois primeiros parágrafos do texto, Lya Luft:
Alternativas
Q616856 Português
                                          REPOLHOS IGUAIS

      Sempre me impressiona o impulso geral de igualar a todos ser diferente, sobretudo ser original, é defeito Parece perigoso E, se formos diferentes, quem sabe aqui e ali uma medicaçãozinha ajuda.

      Alguém é mais triste? Remédio nele. Deprimido? Remédio nele (ainda que tenha acabado de perder uma pessoa amada, um emprego, a saúde). Mais gordinho? Dieta nele. Mais alto? Remédio na adolescência para parar de crescer. Mais relaxado na escola? Esse é normal. Mais estudioso, estudioso demais? A gente se preocupa, vai virar nerd (se for menina, vai demorar a conseguir marido).

      Não podemos, mas queremos tornar tudo homogêneo, meninas usam o mesmo cabelo, a mesma roupa, os mesmos trejeitos; meninos, aquele boné virado. Igualdade antes de tudo, quando a graça, o poder, a força estão na diversidade. Narizes iguais, bocas iguais, sobrancelhas iguais, posturas iguais.

      Não se pode mais reprovar crianças e jovens na escola, pois são todos iguais. Serão? É feio, ou vergonhoso, ter mais talento, ser mais sonhador, ter mais sorte, sucesso, trabalhar mais e melhor.

      Vamos igualar tudo, como lavouras de repolhos, se possível... iguais. E assim, com tudo o que pode ser controlado com remédios, nos tornamos uma geração medicada. Não todos - deixo sempre aberto o espaço da exceção para ser realista, e respeitando o fato de que para muitos os remédios são uma necessidade —, mas uma parcela crescente da população é habitualmente medicada.

      Remédios para pressão alta, para dormir, para acordar, para equilibrar as emoções, para emagrecer, para ter músculos, para ter um desempenho sexual fantástico, para ter a ilusão de estar com 30 anos quando se tem 70 Faz alguns anos reina entre nós o diagnóstico de déficit de atenção para um número assustador de crianças.

      Não sou psiquiatra, mas a esta altura de minha vida criei e acompanhei e vi muitas crianças mais agitadas, ou distraídas, mas nem por isso precisadas de medicação a torto e a direito. Fala-se, não sei em que lugar deste mundo louco, em botar Ritalina na merenda das escolas públicas. Tal fúria de igualitarismo esconde uma ideologia tola e falsa.

      Se déssemos a 100 pessoas a mesma quantidade de dinheiro e as mesmas oportunidades, em dois anos todas teriam destino diferente: algumas multiplicariam o dinheiro; outras o esbanjariam; outras o guardariam; outras ainda o dedicariam ao bem (ou ao mal) alheio.

      Então, quem sabe, querer apaziguar todas as crianças e jovens com medicamentos para que não estorvem os professores já desesperados por falta de estímulo e condições, ou para permitir aos pais se preocuparem menos, ou ajudar as babás enquanto os pais trabalham ou fazem academia ou simplesmente viajam, nem valerá a pena.

      Teremos mais crianças e jovens aturdidos, crianças e jovens mais violentos e inquietos quando a medicação for suspensa. Bastam, para desatenção, agitação e tantas dificuldades relacionadas, as circunstâncias de vida atual.

      Recentemente, uma pediatra experiente me relatou que a cada tantos anos aparecem em seu consultório mais crianças confusas, atônitas, agitadas demais, algumas apenas sofrendo por separações e novos casamentos, em que os filhos, que não querem se separar de ninguém, são puxados de um lado para o outro, sem casa fixa, um centro de referência, um casal de pais sempre os mesmos.

      Quem as traz são mães ou pais em igual estado. Correrias, compromissos, ansiedade por estar na crista da onda, por participar e ser o primeiro, por não ficar para trás, por não ser ignorado, por cumprir os horários, as prescrições, os comandos, tudo o que tantas pressões sociais e culturais ordenam, realmente estão nos tornando eternos angustiados e permanentes aflitos.

      Mudar de vida é difícil. Em lugar de correr mais, parar para pensar, roubar alguns minutos para olhar, contemplar, meditar, também é difícil, pois é fugir do padrão. Então seguimos em frente, nervosos com nossos filhos mais nervosos. Haja psicólogo, psiquiatra e medicamento para sermos todos uns repolhos iguais.

Lya Luft, disponível em [http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/lema-livre/iya-luft-repoihos-iguais/], publicado em 10/5/2014, consultado em 18/10/2014. 
Na concepção da autora, tornar tudo homogêneo: 
Alternativas
Q616857 Português
                                          REPOLHOS IGUAIS

      Sempre me impressiona o impulso geral de igualar a todos ser diferente, sobretudo ser original, é defeito Parece perigoso E, se formos diferentes, quem sabe aqui e ali uma medicaçãozinha ajuda.

      Alguém é mais triste? Remédio nele. Deprimido? Remédio nele (ainda que tenha acabado de perder uma pessoa amada, um emprego, a saúde). Mais gordinho? Dieta nele. Mais alto? Remédio na adolescência para parar de crescer. Mais relaxado na escola? Esse é normal. Mais estudioso, estudioso demais? A gente se preocupa, vai virar nerd (se for menina, vai demorar a conseguir marido).

      Não podemos, mas queremos tornar tudo homogêneo, meninas usam o mesmo cabelo, a mesma roupa, os mesmos trejeitos; meninos, aquele boné virado. Igualdade antes de tudo, quando a graça, o poder, a força estão na diversidade. Narizes iguais, bocas iguais, sobrancelhas iguais, posturas iguais.

      Não se pode mais reprovar crianças e jovens na escola, pois são todos iguais. Serão? É feio, ou vergonhoso, ter mais talento, ser mais sonhador, ter mais sorte, sucesso, trabalhar mais e melhor.

      Vamos igualar tudo, como lavouras de repolhos, se possível... iguais. E assim, com tudo o que pode ser controlado com remédios, nos tornamos uma geração medicada. Não todos - deixo sempre aberto o espaço da exceção para ser realista, e respeitando o fato de que para muitos os remédios são uma necessidade —, mas uma parcela crescente da população é habitualmente medicada.

      Remédios para pressão alta, para dormir, para acordar, para equilibrar as emoções, para emagrecer, para ter músculos, para ter um desempenho sexual fantástico, para ter a ilusão de estar com 30 anos quando se tem 70 Faz alguns anos reina entre nós o diagnóstico de déficit de atenção para um número assustador de crianças.

      Não sou psiquiatra, mas a esta altura de minha vida criei e acompanhei e vi muitas crianças mais agitadas, ou distraídas, mas nem por isso precisadas de medicação a torto e a direito. Fala-se, não sei em que lugar deste mundo louco, em botar Ritalina na merenda das escolas públicas. Tal fúria de igualitarismo esconde uma ideologia tola e falsa.

      Se déssemos a 100 pessoas a mesma quantidade de dinheiro e as mesmas oportunidades, em dois anos todas teriam destino diferente: algumas multiplicariam o dinheiro; outras o esbanjariam; outras o guardariam; outras ainda o dedicariam ao bem (ou ao mal) alheio.

      Então, quem sabe, querer apaziguar todas as crianças e jovens com medicamentos para que não estorvem os professores já desesperados por falta de estímulo e condições, ou para permitir aos pais se preocuparem menos, ou ajudar as babás enquanto os pais trabalham ou fazem academia ou simplesmente viajam, nem valerá a pena.

      Teremos mais crianças e jovens aturdidos, crianças e jovens mais violentos e inquietos quando a medicação for suspensa. Bastam, para desatenção, agitação e tantas dificuldades relacionadas, as circunstâncias de vida atual.

      Recentemente, uma pediatra experiente me relatou que a cada tantos anos aparecem em seu consultório mais crianças confusas, atônitas, agitadas demais, algumas apenas sofrendo por separações e novos casamentos, em que os filhos, que não querem se separar de ninguém, são puxados de um lado para o outro, sem casa fixa, um centro de referência, um casal de pais sempre os mesmos.

      Quem as traz são mães ou pais em igual estado. Correrias, compromissos, ansiedade por estar na crista da onda, por participar e ser o primeiro, por não ficar para trás, por não ser ignorado, por cumprir os horários, as prescrições, os comandos, tudo o que tantas pressões sociais e culturais ordenam, realmente estão nos tornando eternos angustiados e permanentes aflitos.

      Mudar de vida é difícil. Em lugar de correr mais, parar para pensar, roubar alguns minutos para olhar, contemplar, meditar, também é difícil, pois é fugir do padrão. Então seguimos em frente, nervosos com nossos filhos mais nervosos. Haja psicólogo, psiquiatra e medicamento para sermos todos uns repolhos iguais.

Lya Luft, disponível em [http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/lema-livre/iya-luft-repoihos-iguais/], publicado em 10/5/2014, consultado em 18/10/2014. 
"Remédios para pressão alta, para dormir, para acordar, para equilibrar as emoções, para emagrecer, para ter museu os, para ter um desempenho sexual fantástico, para ter a ilusão de estar com 30 anos quando se tem 70 "

Levando-se em conta o que foi declarado pela autora no quinto parágrafo - “deixo sempre aberto o espaço da exceção para ser realista, e respeitando o fato de que para muitos os remédios são uma necessidade" - podemos afirmar que para ela, considerando-se o rol elencado no trecho em epígrafe, remédios seriam aceitos para tratar a anomalia ou sintoma descrito em qual alternativa? 
Alternativas
Q616858 Português
                                          REPOLHOS IGUAIS

      Sempre me impressiona o impulso geral de igualar a todos ser diferente, sobretudo ser original, é defeito Parece perigoso E, se formos diferentes, quem sabe aqui e ali uma medicaçãozinha ajuda.

      Alguém é mais triste? Remédio nele. Deprimido? Remédio nele (ainda que tenha acabado de perder uma pessoa amada, um emprego, a saúde). Mais gordinho? Dieta nele. Mais alto? Remédio na adolescência para parar de crescer. Mais relaxado na escola? Esse é normal. Mais estudioso, estudioso demais? A gente se preocupa, vai virar nerd (se for menina, vai demorar a conseguir marido).

      Não podemos, mas queremos tornar tudo homogêneo, meninas usam o mesmo cabelo, a mesma roupa, os mesmos trejeitos; meninos, aquele boné virado. Igualdade antes de tudo, quando a graça, o poder, a força estão na diversidade. Narizes iguais, bocas iguais, sobrancelhas iguais, posturas iguais.

      Não se pode mais reprovar crianças e jovens na escola, pois são todos iguais. Serão? É feio, ou vergonhoso, ter mais talento, ser mais sonhador, ter mais sorte, sucesso, trabalhar mais e melhor.

      Vamos igualar tudo, como lavouras de repolhos, se possível... iguais. E assim, com tudo o que pode ser controlado com remédios, nos tornamos uma geração medicada. Não todos - deixo sempre aberto o espaço da exceção para ser realista, e respeitando o fato de que para muitos os remédios são uma necessidade —, mas uma parcela crescente da população é habitualmente medicada.

      Remédios para pressão alta, para dormir, para acordar, para equilibrar as emoções, para emagrecer, para ter músculos, para ter um desempenho sexual fantástico, para ter a ilusão de estar com 30 anos quando se tem 70 Faz alguns anos reina entre nós o diagnóstico de déficit de atenção para um número assustador de crianças.

      Não sou psiquiatra, mas a esta altura de minha vida criei e acompanhei e vi muitas crianças mais agitadas, ou distraídas, mas nem por isso precisadas de medicação a torto e a direito. Fala-se, não sei em que lugar deste mundo louco, em botar Ritalina na merenda das escolas públicas. Tal fúria de igualitarismo esconde uma ideologia tola e falsa.

      Se déssemos a 100 pessoas a mesma quantidade de dinheiro e as mesmas oportunidades, em dois anos todas teriam destino diferente: algumas multiplicariam o dinheiro; outras o esbanjariam; outras o guardariam; outras ainda o dedicariam ao bem (ou ao mal) alheio.

      Então, quem sabe, querer apaziguar todas as crianças e jovens com medicamentos para que não estorvem os professores já desesperados por falta de estímulo e condições, ou para permitir aos pais se preocuparem menos, ou ajudar as babás enquanto os pais trabalham ou fazem academia ou simplesmente viajam, nem valerá a pena.

      Teremos mais crianças e jovens aturdidos, crianças e jovens mais violentos e inquietos quando a medicação for suspensa. Bastam, para desatenção, agitação e tantas dificuldades relacionadas, as circunstâncias de vida atual.

      Recentemente, uma pediatra experiente me relatou que a cada tantos anos aparecem em seu consultório mais crianças confusas, atônitas, agitadas demais, algumas apenas sofrendo por separações e novos casamentos, em que os filhos, que não querem se separar de ninguém, são puxados de um lado para o outro, sem casa fixa, um centro de referência, um casal de pais sempre os mesmos.

      Quem as traz são mães ou pais em igual estado. Correrias, compromissos, ansiedade por estar na crista da onda, por participar e ser o primeiro, por não ficar para trás, por não ser ignorado, por cumprir os horários, as prescrições, os comandos, tudo o que tantas pressões sociais e culturais ordenam, realmente estão nos tornando eternos angustiados e permanentes aflitos.

      Mudar de vida é difícil. Em lugar de correr mais, parar para pensar, roubar alguns minutos para olhar, contemplar, meditar, também é difícil, pois é fugir do padrão. Então seguimos em frente, nervosos com nossos filhos mais nervosos. Haja psicólogo, psiquiatra e medicamento para sermos todos uns repolhos iguais.

Lya Luft, disponível em [http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/lema-livre/iya-luft-repoihos-iguais/], publicado em 10/5/2014, consultado em 18/10/2014. 
"Remédios para pressão alta, para dormir, para acordar, para equilibrar as emoções, para emagrecer, para ter museu os, para ter um desempenho sexual fantástico, para ter a ilusão de estar com 30 anos quando se tem 70 "

Quanto às vírgulas empregadas no período, elas se justificam por isolar: 
Alternativas
Q616859 Português
                                          REPOLHOS IGUAIS

      Sempre me impressiona o impulso geral de igualar a todos ser diferente, sobretudo ser original, é defeito Parece perigoso E, se formos diferentes, quem sabe aqui e ali uma medicaçãozinha ajuda.

      Alguém é mais triste? Remédio nele. Deprimido? Remédio nele (ainda que tenha acabado de perder uma pessoa amada, um emprego, a saúde). Mais gordinho? Dieta nele. Mais alto? Remédio na adolescência para parar de crescer. Mais relaxado na escola? Esse é normal. Mais estudioso, estudioso demais? A gente se preocupa, vai virar nerd (se for menina, vai demorar a conseguir marido).

      Não podemos, mas queremos tornar tudo homogêneo, meninas usam o mesmo cabelo, a mesma roupa, os mesmos trejeitos; meninos, aquele boné virado. Igualdade antes de tudo, quando a graça, o poder, a força estão na diversidade. Narizes iguais, bocas iguais, sobrancelhas iguais, posturas iguais.

      Não se pode mais reprovar crianças e jovens na escola, pois são todos iguais. Serão? É feio, ou vergonhoso, ter mais talento, ser mais sonhador, ter mais sorte, sucesso, trabalhar mais e melhor.

      Vamos igualar tudo, como lavouras de repolhos, se possível... iguais. E assim, com tudo o que pode ser controlado com remédios, nos tornamos uma geração medicada. Não todos - deixo sempre aberto o espaço da exceção para ser realista, e respeitando o fato de que para muitos os remédios são uma necessidade —, mas uma parcela crescente da população é habitualmente medicada.

      Remédios para pressão alta, para dormir, para acordar, para equilibrar as emoções, para emagrecer, para ter músculos, para ter um desempenho sexual fantástico, para ter a ilusão de estar com 30 anos quando se tem 70 Faz alguns anos reina entre nós o diagnóstico de déficit de atenção para um número assustador de crianças.

      Não sou psiquiatra, mas a esta altura de minha vida criei e acompanhei e vi muitas crianças mais agitadas, ou distraídas, mas nem por isso precisadas de medicação a torto e a direito. Fala-se, não sei em que lugar deste mundo louco, em botar Ritalina na merenda das escolas públicas. Tal fúria de igualitarismo esconde uma ideologia tola e falsa.

      Se déssemos a 100 pessoas a mesma quantidade de dinheiro e as mesmas oportunidades, em dois anos todas teriam destino diferente: algumas multiplicariam o dinheiro; outras o esbanjariam; outras o guardariam; outras ainda o dedicariam ao bem (ou ao mal) alheio.

      Então, quem sabe, querer apaziguar todas as crianças e jovens com medicamentos para que não estorvem os professores já desesperados por falta de estímulo e condições, ou para permitir aos pais se preocuparem menos, ou ajudar as babás enquanto os pais trabalham ou fazem academia ou simplesmente viajam, nem valerá a pena.

      Teremos mais crianças e jovens aturdidos, crianças e jovens mais violentos e inquietos quando a medicação for suspensa. Bastam, para desatenção, agitação e tantas dificuldades relacionadas, as circunstâncias de vida atual.

      Recentemente, uma pediatra experiente me relatou que a cada tantos anos aparecem em seu consultório mais crianças confusas, atônitas, agitadas demais, algumas apenas sofrendo por separações e novos casamentos, em que os filhos, que não querem se separar de ninguém, são puxados de um lado para o outro, sem casa fixa, um centro de referência, um casal de pais sempre os mesmos.

      Quem as traz são mães ou pais em igual estado. Correrias, compromissos, ansiedade por estar na crista da onda, por participar e ser o primeiro, por não ficar para trás, por não ser ignorado, por cumprir os horários, as prescrições, os comandos, tudo o que tantas pressões sociais e culturais ordenam, realmente estão nos tornando eternos angustiados e permanentes aflitos.

      Mudar de vida é difícil. Em lugar de correr mais, parar para pensar, roubar alguns minutos para olhar, contemplar, meditar, também é difícil, pois é fugir do padrão. Então seguimos em frente, nervosos com nossos filhos mais nervosos. Haja psicólogo, psiquiatra e medicamento para sermos todos uns repolhos iguais.

Lya Luft, disponível em [http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/lema-livre/iya-luft-repoihos-iguais/], publicado em 10/5/2014, consultado em 18/10/2014. 
Depreendemos do texto que, a ideia de colocar Ritalina nas merendas escolares, para a autora: 
Alternativas
Respostas
1: B
2: A
3: A
4: D
5: D