Questões de Concurso Público SESDEC-RO 2024 para Prestador Voluntário de Serviços Administrativos

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Q2372366 Português
O calor da sauna

Paulo Pestana


      “Já que…” – a junção do advérbio com o pronominal é quase sinônimo de problema. Serve para dar prosseguimento a algo que estamos fazendo ou querendo fazer, e aí começa uma interminável sequência de ações, complementos e adendos. Numa obra é fatal.

      E foi assim que começou a saga do nosso amigo, 15 anos atrás. Morador do bairro Sudoeste desde os primeiros dias, decidiu fazer uma reforma no apartamento. Não precisava, mas “já que…” (olha ele aí) um amigo tinha terminado uma obra, aproveitou o arquiteto.

     E “já que…” (de novo!) faria um projeto, pediu para acrescentar uma sauna na área da piscina da cobertura. Coisa simples. Os amigos estranharam. Nunca o viram numa sauna antes. Mas era um capricho, e com esses desejos repentinos não se discute; e “já que…” (mais uma vez) existia uma pequena casa de máquinas no local, seria moleza.

    Muitos “já-ques” depois, a obra foi entregue. A cozinha ficou mais ampla, o escritório mais confortável, a sala mais agradável e até o banheiro do quarto ganhou uma garibada. Satisfeito, nosso amigo curtia a casa como se fosse nova, um prazer onanista – no sentido figurado, claro, já que era exclusivo dele; nunca foi um exibido.

     E a sauna?, já pressinto a pergunta. Também ficou muito boa, caprichada, feita com material de primeira, motor último tipo. Como mimo, o arquiteto deixou uma essência de eucalipto e uma toalhinha branca. Não sei se por encanto com o resto do lar, mas ele nunca entrou na sauna, nunca apertou o botão de ligar. Até agora.

      15 anos se passaram e, enfim, ele resolveu estrear a sauna. De novo, os amigos estranharam. Eram dias escaldantes, com temperatura próxima dos quarenta graus; ou seja: a cidade inteira atrás de um refresco, de uma sombra, e ele chamou amigos para inaugurar a sauna, com direito a champanhe geladinha.

      Qualquer pessoa prevenida faria um teste antes, mas nosso amigo é um otimista. As pessoas chegaram e ele apertou o botão. Nada. Nem uma faísca. O motor, talvez cansado de esperar, não ligou. Mas como ensinou madame Clicquot Ponsardin, com champanhe não há tempo ruim. E a festa continuou.

        Com o calorão, não precisava mesmo de vapor para esquentar a sauna, e pelo menos o cheiro do eucalipto funcionou a contento.

       Dia seguinte, veio a ressaca moral, e nosso amigo chamou o eletricista que havia contratado para fazer uma revisão em todo o sistema elétrico da casa. “Já que…” (ele sempre volta!) seria feita mudança de fios e tomadas, que consertasse também a sauna, inclusive trocando o motor zero quilômetro, mas inútil, por uma máquina nova, menor e mais potente.

      O rapaz tinha muita boa vontade, mas, ao que parece, só isso. Quando foi instalar o motor no quadro de luz, encostou a chave de fenda nos dois polos, e ninguém precisa ser um unabomber para saber que isso dá em explosão. E o bum foi tão poderoso que apagou a luz de todo o bloco; muita gente saiu correndo.

         Até hoje os vizinhos olham nosso amigo de soslaio. E se alguém quiser briga é só falar em sauna com ele.

PESTANA, Paulo. O calor da sauna. Correio Braziliense, 13 de novembro de 2023. Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/ocalor-da-sauna/. Acesso em: 15 nov. 2023. Adaptado.

Glossário:

- Madame Clicquot Ponsardin: empresária francesa do ramo de bebidas. Passou a fazer vinho na região de Champagne, na França, no início do século XIX, à frente de um negócio falido que havia sido fundado pelo sogro em 1772. A bebida que leva sua alcunha é um dos champanhes mais reverenciados do planeta. (Adaptado de Veja, 09/09/2022)

- unabomber: Apelido dado pela polícia federal estadunidense (FBI) ao matemático Ted Kaczynski, que matou três pessoas e feriu mais 23 durante uma onda de bombardeios em massa entre 1978 e 1995. Os alvos de seus ataques pareciam sempre ser universidades e companhias aéreas. (Adaptado de BBC Brasil, 10/06/2023)

- onanista: Aquele que pratica o onanismo = 1. Coito interrompido antes da ejaculação. 2. Masturbação masculina. ("onanismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/onanismo.) 
Qual é o sentido veiculado pela expressão “já que”, que perpassa toda a crônica apresentada?
Alternativas
Q2372367 Português
O calor da sauna

Paulo Pestana


      “Já que…” – a junção do advérbio com o pronominal é quase sinônimo de problema. Serve para dar prosseguimento a algo que estamos fazendo ou querendo fazer, e aí começa uma interminável sequência de ações, complementos e adendos. Numa obra é fatal.

      E foi assim que começou a saga do nosso amigo, 15 anos atrás. Morador do bairro Sudoeste desde os primeiros dias, decidiu fazer uma reforma no apartamento. Não precisava, mas “já que…” (olha ele aí) um amigo tinha terminado uma obra, aproveitou o arquiteto.

     E “já que…” (de novo!) faria um projeto, pediu para acrescentar uma sauna na área da piscina da cobertura. Coisa simples. Os amigos estranharam. Nunca o viram numa sauna antes. Mas era um capricho, e com esses desejos repentinos não se discute; e “já que…” (mais uma vez) existia uma pequena casa de máquinas no local, seria moleza.

    Muitos “já-ques” depois, a obra foi entregue. A cozinha ficou mais ampla, o escritório mais confortável, a sala mais agradável e até o banheiro do quarto ganhou uma garibada. Satisfeito, nosso amigo curtia a casa como se fosse nova, um prazer onanista – no sentido figurado, claro, já que era exclusivo dele; nunca foi um exibido.

     E a sauna?, já pressinto a pergunta. Também ficou muito boa, caprichada, feita com material de primeira, motor último tipo. Como mimo, o arquiteto deixou uma essência de eucalipto e uma toalhinha branca. Não sei se por encanto com o resto do lar, mas ele nunca entrou na sauna, nunca apertou o botão de ligar. Até agora.

      15 anos se passaram e, enfim, ele resolveu estrear a sauna. De novo, os amigos estranharam. Eram dias escaldantes, com temperatura próxima dos quarenta graus; ou seja: a cidade inteira atrás de um refresco, de uma sombra, e ele chamou amigos para inaugurar a sauna, com direito a champanhe geladinha.

      Qualquer pessoa prevenida faria um teste antes, mas nosso amigo é um otimista. As pessoas chegaram e ele apertou o botão. Nada. Nem uma faísca. O motor, talvez cansado de esperar, não ligou. Mas como ensinou madame Clicquot Ponsardin, com champanhe não há tempo ruim. E a festa continuou.

        Com o calorão, não precisava mesmo de vapor para esquentar a sauna, e pelo menos o cheiro do eucalipto funcionou a contento.

       Dia seguinte, veio a ressaca moral, e nosso amigo chamou o eletricista que havia contratado para fazer uma revisão em todo o sistema elétrico da casa. “Já que…” (ele sempre volta!) seria feita mudança de fios e tomadas, que consertasse também a sauna, inclusive trocando o motor zero quilômetro, mas inútil, por uma máquina nova, menor e mais potente.

      O rapaz tinha muita boa vontade, mas, ao que parece, só isso. Quando foi instalar o motor no quadro de luz, encostou a chave de fenda nos dois polos, e ninguém precisa ser um unabomber para saber que isso dá em explosão. E o bum foi tão poderoso que apagou a luz de todo o bloco; muita gente saiu correndo.

         Até hoje os vizinhos olham nosso amigo de soslaio. E se alguém quiser briga é só falar em sauna com ele.

PESTANA, Paulo. O calor da sauna. Correio Braziliense, 13 de novembro de 2023. Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/ocalor-da-sauna/. Acesso em: 15 nov. 2023. Adaptado.

Glossário:

- Madame Clicquot Ponsardin: empresária francesa do ramo de bebidas. Passou a fazer vinho na região de Champagne, na França, no início do século XIX, à frente de um negócio falido que havia sido fundado pelo sogro em 1772. A bebida que leva sua alcunha é um dos champanhes mais reverenciados do planeta. (Adaptado de Veja, 09/09/2022)

- unabomber: Apelido dado pela polícia federal estadunidense (FBI) ao matemático Ted Kaczynski, que matou três pessoas e feriu mais 23 durante uma onda de bombardeios em massa entre 1978 e 1995. Os alvos de seus ataques pareciam sempre ser universidades e companhias aéreas. (Adaptado de BBC Brasil, 10/06/2023)

- onanista: Aquele que pratica o onanismo = 1. Coito interrompido antes da ejaculação. 2. Masturbação masculina. ("onanismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/onanismo.) 
Ao transformar a expressão “já que” em “já-ques” (4º parágrafo), o cronista originou um vocábulo pertencente a qual classe de palavras?
Alternativas
Q2372368 Português
O calor da sauna

Paulo Pestana


      “Já que…” – a junção do advérbio com o pronominal é quase sinônimo de problema. Serve para dar prosseguimento a algo que estamos fazendo ou querendo fazer, e aí começa uma interminável sequência de ações, complementos e adendos. Numa obra é fatal.

      E foi assim que começou a saga do nosso amigo, 15 anos atrás. Morador do bairro Sudoeste desde os primeiros dias, decidiu fazer uma reforma no apartamento. Não precisava, mas “já que…” (olha ele aí) um amigo tinha terminado uma obra, aproveitou o arquiteto.

     E “já que…” (de novo!) faria um projeto, pediu para acrescentar uma sauna na área da piscina da cobertura. Coisa simples. Os amigos estranharam. Nunca o viram numa sauna antes. Mas era um capricho, e com esses desejos repentinos não se discute; e “já que…” (mais uma vez) existia uma pequena casa de máquinas no local, seria moleza.

    Muitos “já-ques” depois, a obra foi entregue. A cozinha ficou mais ampla, o escritório mais confortável, a sala mais agradável e até o banheiro do quarto ganhou uma garibada. Satisfeito, nosso amigo curtia a casa como se fosse nova, um prazer onanista – no sentido figurado, claro, já que era exclusivo dele; nunca foi um exibido.

     E a sauna?, já pressinto a pergunta. Também ficou muito boa, caprichada, feita com material de primeira, motor último tipo. Como mimo, o arquiteto deixou uma essência de eucalipto e uma toalhinha branca. Não sei se por encanto com o resto do lar, mas ele nunca entrou na sauna, nunca apertou o botão de ligar. Até agora.

      15 anos se passaram e, enfim, ele resolveu estrear a sauna. De novo, os amigos estranharam. Eram dias escaldantes, com temperatura próxima dos quarenta graus; ou seja: a cidade inteira atrás de um refresco, de uma sombra, e ele chamou amigos para inaugurar a sauna, com direito a champanhe geladinha.

      Qualquer pessoa prevenida faria um teste antes, mas nosso amigo é um otimista. As pessoas chegaram e ele apertou o botão. Nada. Nem uma faísca. O motor, talvez cansado de esperar, não ligou. Mas como ensinou madame Clicquot Ponsardin, com champanhe não há tempo ruim. E a festa continuou.

        Com o calorão, não precisava mesmo de vapor para esquentar a sauna, e pelo menos o cheiro do eucalipto funcionou a contento.

       Dia seguinte, veio a ressaca moral, e nosso amigo chamou o eletricista que havia contratado para fazer uma revisão em todo o sistema elétrico da casa. “Já que…” (ele sempre volta!) seria feita mudança de fios e tomadas, que consertasse também a sauna, inclusive trocando o motor zero quilômetro, mas inútil, por uma máquina nova, menor e mais potente.

      O rapaz tinha muita boa vontade, mas, ao que parece, só isso. Quando foi instalar o motor no quadro de luz, encostou a chave de fenda nos dois polos, e ninguém precisa ser um unabomber para saber que isso dá em explosão. E o bum foi tão poderoso que apagou a luz de todo o bloco; muita gente saiu correndo.

         Até hoje os vizinhos olham nosso amigo de soslaio. E se alguém quiser briga é só falar em sauna com ele.

PESTANA, Paulo. O calor da sauna. Correio Braziliense, 13 de novembro de 2023. Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/ocalor-da-sauna/. Acesso em: 15 nov. 2023. Adaptado.

Glossário:

- Madame Clicquot Ponsardin: empresária francesa do ramo de bebidas. Passou a fazer vinho na região de Champagne, na França, no início do século XIX, à frente de um negócio falido que havia sido fundado pelo sogro em 1772. A bebida que leva sua alcunha é um dos champanhes mais reverenciados do planeta. (Adaptado de Veja, 09/09/2022)

- unabomber: Apelido dado pela polícia federal estadunidense (FBI) ao matemático Ted Kaczynski, que matou três pessoas e feriu mais 23 durante uma onda de bombardeios em massa entre 1978 e 1995. Os alvos de seus ataques pareciam sempre ser universidades e companhias aéreas. (Adaptado de BBC Brasil, 10/06/2023)

- onanista: Aquele que pratica o onanismo = 1. Coito interrompido antes da ejaculação. 2. Masturbação masculina. ("onanismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/onanismo.) 
Ao afirmar que “até o banheiro do quarto ganhou uma garibada” (4º parágrafo), o autor do texto quis dizer que tal cômodo:
Alternativas
Q2372369 Português
O calor da sauna

Paulo Pestana


      “Já que…” – a junção do advérbio com o pronominal é quase sinônimo de problema. Serve para dar prosseguimento a algo que estamos fazendo ou querendo fazer, e aí começa uma interminável sequência de ações, complementos e adendos. Numa obra é fatal.

      E foi assim que começou a saga do nosso amigo, 15 anos atrás. Morador do bairro Sudoeste desde os primeiros dias, decidiu fazer uma reforma no apartamento. Não precisava, mas “já que…” (olha ele aí) um amigo tinha terminado uma obra, aproveitou o arquiteto.

     E “já que…” (de novo!) faria um projeto, pediu para acrescentar uma sauna na área da piscina da cobertura. Coisa simples. Os amigos estranharam. Nunca o viram numa sauna antes. Mas era um capricho, e com esses desejos repentinos não se discute; e “já que…” (mais uma vez) existia uma pequena casa de máquinas no local, seria moleza.

    Muitos “já-ques” depois, a obra foi entregue. A cozinha ficou mais ampla, o escritório mais confortável, a sala mais agradável e até o banheiro do quarto ganhou uma garibada. Satisfeito, nosso amigo curtia a casa como se fosse nova, um prazer onanista – no sentido figurado, claro, já que era exclusivo dele; nunca foi um exibido.

     E a sauna?, já pressinto a pergunta. Também ficou muito boa, caprichada, feita com material de primeira, motor último tipo. Como mimo, o arquiteto deixou uma essência de eucalipto e uma toalhinha branca. Não sei se por encanto com o resto do lar, mas ele nunca entrou na sauna, nunca apertou o botão de ligar. Até agora.

      15 anos se passaram e, enfim, ele resolveu estrear a sauna. De novo, os amigos estranharam. Eram dias escaldantes, com temperatura próxima dos quarenta graus; ou seja: a cidade inteira atrás de um refresco, de uma sombra, e ele chamou amigos para inaugurar a sauna, com direito a champanhe geladinha.

      Qualquer pessoa prevenida faria um teste antes, mas nosso amigo é um otimista. As pessoas chegaram e ele apertou o botão. Nada. Nem uma faísca. O motor, talvez cansado de esperar, não ligou. Mas como ensinou madame Clicquot Ponsardin, com champanhe não há tempo ruim. E a festa continuou.

        Com o calorão, não precisava mesmo de vapor para esquentar a sauna, e pelo menos o cheiro do eucalipto funcionou a contento.

       Dia seguinte, veio a ressaca moral, e nosso amigo chamou o eletricista que havia contratado para fazer uma revisão em todo o sistema elétrico da casa. “Já que…” (ele sempre volta!) seria feita mudança de fios e tomadas, que consertasse também a sauna, inclusive trocando o motor zero quilômetro, mas inútil, por uma máquina nova, menor e mais potente.

      O rapaz tinha muita boa vontade, mas, ao que parece, só isso. Quando foi instalar o motor no quadro de luz, encostou a chave de fenda nos dois polos, e ninguém precisa ser um unabomber para saber que isso dá em explosão. E o bum foi tão poderoso que apagou a luz de todo o bloco; muita gente saiu correndo.

         Até hoje os vizinhos olham nosso amigo de soslaio. E se alguém quiser briga é só falar em sauna com ele.

PESTANA, Paulo. O calor da sauna. Correio Braziliense, 13 de novembro de 2023. Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/ocalor-da-sauna/. Acesso em: 15 nov. 2023. Adaptado.

Glossário:

- Madame Clicquot Ponsardin: empresária francesa do ramo de bebidas. Passou a fazer vinho na região de Champagne, na França, no início do século XIX, à frente de um negócio falido que havia sido fundado pelo sogro em 1772. A bebida que leva sua alcunha é um dos champanhes mais reverenciados do planeta. (Adaptado de Veja, 09/09/2022)

- unabomber: Apelido dado pela polícia federal estadunidense (FBI) ao matemático Ted Kaczynski, que matou três pessoas e feriu mais 23 durante uma onda de bombardeios em massa entre 1978 e 1995. Os alvos de seus ataques pareciam sempre ser universidades e companhias aéreas. (Adaptado de BBC Brasil, 10/06/2023)

- onanista: Aquele que pratica o onanismo = 1. Coito interrompido antes da ejaculação. 2. Masturbação masculina. ("onanismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/onanismo.) 
No oitavo parágrafo, a expressão “a contento” fomenta o entendimento de que o cheiro da essência de eucalipto funcionou de maneira:
Alternativas
Q2372370 Português
O calor da sauna

Paulo Pestana


      “Já que…” – a junção do advérbio com o pronominal é quase sinônimo de problema. Serve para dar prosseguimento a algo que estamos fazendo ou querendo fazer, e aí começa uma interminável sequência de ações, complementos e adendos. Numa obra é fatal.

      E foi assim que começou a saga do nosso amigo, 15 anos atrás. Morador do bairro Sudoeste desde os primeiros dias, decidiu fazer uma reforma no apartamento. Não precisava, mas “já que…” (olha ele aí) um amigo tinha terminado uma obra, aproveitou o arquiteto.

     E “já que…” (de novo!) faria um projeto, pediu para acrescentar uma sauna na área da piscina da cobertura. Coisa simples. Os amigos estranharam. Nunca o viram numa sauna antes. Mas era um capricho, e com esses desejos repentinos não se discute; e “já que…” (mais uma vez) existia uma pequena casa de máquinas no local, seria moleza.

    Muitos “já-ques” depois, a obra foi entregue. A cozinha ficou mais ampla, o escritório mais confortável, a sala mais agradável e até o banheiro do quarto ganhou uma garibada. Satisfeito, nosso amigo curtia a casa como se fosse nova, um prazer onanista – no sentido figurado, claro, já que era exclusivo dele; nunca foi um exibido.

     E a sauna?, já pressinto a pergunta. Também ficou muito boa, caprichada, feita com material de primeira, motor último tipo. Como mimo, o arquiteto deixou uma essência de eucalipto e uma toalhinha branca. Não sei se por encanto com o resto do lar, mas ele nunca entrou na sauna, nunca apertou o botão de ligar. Até agora.

      15 anos se passaram e, enfim, ele resolveu estrear a sauna. De novo, os amigos estranharam. Eram dias escaldantes, com temperatura próxima dos quarenta graus; ou seja: a cidade inteira atrás de um refresco, de uma sombra, e ele chamou amigos para inaugurar a sauna, com direito a champanhe geladinha.

      Qualquer pessoa prevenida faria um teste antes, mas nosso amigo é um otimista. As pessoas chegaram e ele apertou o botão. Nada. Nem uma faísca. O motor, talvez cansado de esperar, não ligou. Mas como ensinou madame Clicquot Ponsardin, com champanhe não há tempo ruim. E a festa continuou.

        Com o calorão, não precisava mesmo de vapor para esquentar a sauna, e pelo menos o cheiro do eucalipto funcionou a contento.

       Dia seguinte, veio a ressaca moral, e nosso amigo chamou o eletricista que havia contratado para fazer uma revisão em todo o sistema elétrico da casa. “Já que…” (ele sempre volta!) seria feita mudança de fios e tomadas, que consertasse também a sauna, inclusive trocando o motor zero quilômetro, mas inútil, por uma máquina nova, menor e mais potente.

      O rapaz tinha muita boa vontade, mas, ao que parece, só isso. Quando foi instalar o motor no quadro de luz, encostou a chave de fenda nos dois polos, e ninguém precisa ser um unabomber para saber que isso dá em explosão. E o bum foi tão poderoso que apagou a luz de todo o bloco; muita gente saiu correndo.

         Até hoje os vizinhos olham nosso amigo de soslaio. E se alguém quiser briga é só falar em sauna com ele.

PESTANA, Paulo. O calor da sauna. Correio Braziliense, 13 de novembro de 2023. Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/ocalor-da-sauna/. Acesso em: 15 nov. 2023. Adaptado.

Glossário:

- Madame Clicquot Ponsardin: empresária francesa do ramo de bebidas. Passou a fazer vinho na região de Champagne, na França, no início do século XIX, à frente de um negócio falido que havia sido fundado pelo sogro em 1772. A bebida que leva sua alcunha é um dos champanhes mais reverenciados do planeta. (Adaptado de Veja, 09/09/2022)

- unabomber: Apelido dado pela polícia federal estadunidense (FBI) ao matemático Ted Kaczynski, que matou três pessoas e feriu mais 23 durante uma onda de bombardeios em massa entre 1978 e 1995. Os alvos de seus ataques pareciam sempre ser universidades e companhias aéreas. (Adaptado de BBC Brasil, 10/06/2023)

- onanista: Aquele que pratica o onanismo = 1. Coito interrompido antes da ejaculação. 2. Masturbação masculina. ("onanismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/onanismo.) 
Qual é o sentido veiculado pela palavra grifada no trecho “Como mimo, o arquiteto deixou uma essência de eucalipto e uma toalhinha branca.” (5º parágrafo)?
Alternativas
Respostas
1: A
2: B
3: D
4: C
5: D