TEXTO I
O estudo da leitura, da escrita, do uso de livros e da
circulação da informação no universo monástico requer
uma observação histórica, já que tais práticas sempre
foram centrais entre monges, seja no Medievo até a
contemporaneidade, ainda que caracterizadas por
momentos de menor ou maior predominância.
A leitura fomenta a cultura monástica desde as
suas origens, pois por meio dessa prática são
realizadas orações, estudos e o contato direto com as
Sagradas Escrituras.
Já a mediação da informação também esteve e está
presente no contexto monástico, uma vez que o mosteiro
é um espaço informacional por excelência, notadamente
a sua biblioteca: coleções são constituídas, inventários
e catálogos são desenvolvidos e a informação é
disponibilizada para os diferentes tipos de usuários,
desde o noviço até o monge.
A biblioteca monástica possui uma característica
comum às bibliotecas: é um espaço mediador na
medida em que, por meio de uma intervenção
intencional, busca promover o contato entre aquilo
que está separado: as pessoas e os registros do
conhecimento. [...]
Com base na multiplicidade de textos que passaram a
compor as bibliotecas monásticas e levando em conta
a sua relação com os objetivos institucionais e as
atividades por elas pressupostas, distinguem-se vários
núcleos de leitura: a leitura oficial, correspondente
à lectio divina, constituída sobre os textos que se
dirigem especificamente à celebração do ofício divino
e à formação espiritual, como são os textos bíblicos,
os comentários patrísticos, as obras dos mestres
de espiritualidade; a leitura escolar ou instrumental,
que atende ao estudo como objeto e ocupa um
lugar alternativo ao trabalho; a leitura recreativa,
deixada à iniciativa individual, facultativa e própria para
os tempos de ócio, sobre a qual tem prevalecimento
a necessidade do trabalho e a leitura transgressiva,
que, sendo ou não furtiva, é minimamente caucionada,
pois só a condescendência relativamente a ela permite
explicar a existência de textos que reputaríamos,
de alguma maneira, marginais, por não corresponderem
à finalidade específica da instituição monástica ou
por estarem mesmo em oposição aos seus objetivos,
e que, por não serem clandestinos, teremos de
considerar como ‘reservados’ quanto ao uso. Por mais
estranho que pareça, este último tipo de leitura não era
inteiramente excluído, já que os monges, eventualmente,
buscavam para sua formação textos fora dos mosteiros,
como em instituições universitárias.
ARAUJO, André. Leitura e mediação na cultura monástico-medieval. XIV Encontro Nacional de Pesquisa em
Ciência da Informação (ENANCIB 2013). Rio de Janeiro:
UFRJ, 2013. Disponível em: https://www.academia.
edu/6941443/LEITURA_E_MEDIA%C3%87%C3%83O_NA_
CULTURA_MON%C3%81STICO_MEDIEVAL?email_work_
card=thumbnail. Acesso em: 7 ago. 2023.