Questões de Concurso Público Prefeitura de Ipuã - SP 2016 para Professor - Português

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Q1393206 Pedagogia
Concepções de linguagem alteram modo de ensinar


Na década de 1970, uma nova transformação conceitual mudou as práticas escolares. A linguagem deixou de ser entendida apenas como a expressão do pensamento para ser vista também como um instrumento de comunicação, envolvendo um interlocutor e uma mensagem que precisa ser compreendida. Todos os gêneros passaram a ser vistos como importantes instrumentos de transmissão de mensagens: o aluno precisaria aprender as características de cada um deles para reproduzi-los na escrita e também para identificá-los nos textos lidos. 

Ainda era essencial seguir um padrão preestabelecido, e qualquer anormalidade seria um ruído. Para contemplar a perspectiva, o acervo de obras estudadas acabou ampliado, já que o formato dos textos clássicos não servia de subsídio para a escrita de cartas, por exemplo. 

Em pouco tempo, no entanto, as correntes acadêmicas avançaram mais. Mikhail Bakhtin (1895-1975) apresentou uma nova concepção de linguagem, a enunciativo-discursiva, que considera o discurso uma prática social e uma forma de interação - tese que vigora até hoje. A relação interpessoal, o contexto de produção dos textos, as diferentes situações de comunicação, os gêneros, a interpretação e a intenção de quem o produz passaram a ser peças-chave. 

A expressão não era mais vista como uma representação da realidade, mas o resultado das intenções de quem a produziu e o impacto que terá no receptor. O aluno passou a ser visto como sujeito ativo, e não um reprodutor de modelos, e atuante - em vez de ser passivo no momento de ler e escutar.

(SANTOMAURO, Beatriz. O que ensinar em Língua Portuguesa. In: Revista Nova Escola. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/papelletras-interacao-social-432174.shtml?page=1. Acesso em 15/11/15).


Oralidade e Letramento

     Quanto à presença da escrita, pode-se dizer que, mesmo criada pelo engenho humano tardiamente em relação ao surgimento da oralidade, ela permeia hoje quase todas as práticas sociais dos povos em que penetrou. Até mesmo os analfabetos, em sociedades com escrita, estão sob a influência do que contemporaneamente se convencionou chamar de práticas de letramento, isto é, um tipo de processo histórico e social que não se confunde com a realidade representada pela alfabetização regular e institucional lembrada há pouco. Frisando mais uma vez o que dizia Street (1995), deve-se ter imenso cuidado diante da tendência à escolarização do letramento, que sofre de um mal crônico ao supor que só existe um letramento. O letramento não é o equivalente à aquisição da escrita. Existem “letramentos sociais” que surgem e se desenvolvem à margem da escola, não precisando por isso serem depreciados.
     A escrita é usada em contextos sociais básicos da vida cotidiana, em paralelo direto com a oralidade. Estes contextos são, entre outros: o trabalho; a escola; o dia-a-dia, a família; a vida burocrática; a atividade intelectual. Em cada um desses contextos, as ênfases e os objetivos do uso da escrita são variados e diversos. Inevitáveis relações entre escrita e contexto devem existir, fazendo surgir gêneros textuais e formas comunicativas, bem como terminologias e expressões típicas. Seria interessante que a escola soubesse algo mais sobre essa questão para enfrentar sua tarefa com maior preparo e maleabilidade, servindo até mesmo de orientação na seleção de textos e definição de níveis de linguagem a trabalhar. 
     Há, portanto, uma distinção bastante nítida entre a apropriação/distribuição da escrita e leitura (padrões de alfabetização) do ponto de vista formal e institucional e os usos/papéis da escrita e leitura (processos de letramento) enquanto práticas sociais mais amplas. Sabemos muito sobre métodos de alfabetização, mas sabemos pouco sobre processos de letramento; ou seja, sabemos pouco sobre a influência e penetração da escrita na sociedade. Mesmo pessoas ditas “iletradas”, ou seja, analfabetas, não deixam de estar sob a influência de estratégias da escrita em seu desempenho linguístico, o que torna o uso do termo “iletrado” muito problemático em sociedades com escrita (veja mais sobre o assunto em Tfouni, 1988; e Soares, 1998). 

(MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. Cap.1)
De acordo com as relações entre concepções de linguagem e modos de ensinar, é INCORRETO afirmar:
Alternativas
Q1393210 Pedagogia

Atente para o fragmento abaixo, excerto de obra de Irandé Antunes:


“Não pode haver uma prática eficiente sem fundamentação num corpo de princípios teóricos sólidos e objetivos. Não tenho dúvida: se nossa prática de professores se afasta do ideal é porque nos falta, entre outras muitas condições, um aprofundamento teórico acerca de como funciona o fenômeno da linguagem humana. O conhecimento teórico disponível a muitos professores, em geral, se limita a noções e regras gramaticais apenas, como se tudo o que é uma língua em funcionamento coubesse dentro do que é uma gramática.”


Considerando a citação acima e em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a perspectiva metodológica a ser considerada no ensino gramatical deve se pautar nas concepções que se encontram na opção:

Alternativas
Q1393211 Pedagogia
No livro “Gramática Ensino Plural”, Luiz Carlos Travaglia apresenta diferentes concepções gramaticais, a partir de distintas concepções de língua, e as implicações destas para o ensino produtivo de língua materna. Atente para o excerto a seguir:
Para que ensinar teoria gramatical
Diante do grande conjunto de saberes obtidos pela ciência linguística nos últimos séculos, resta delimitar o que e quanto ensinar. Uma proposta de “currículo mínimo” envolveria aspectos como: a) unidades linguísticas fundamentais em cada plano (fonológico, morfológico, sintático, semântico) e nível (lexical, frasal, textual); b) flexões e categorias que expressam; c) as diferentes categorias gramaticais (gênero, número, pessoa, tempo, etc.); d) construções sintáticas; e) processos de formação de palavras e elementos constitutivos das palavras; f) funcionamento de todos estes recursos da língua em textos, para permitir a comunicação, incluindo noções básicas de textualidade, pragmática e argumentatividade; g) conhecimento da existência e abrangência de variedades linguísticas; h) discussão das normas de uso dessas variedades linguísticas, confrontando-as com a norma culta, prestigiada, tentando eliminar o preconceito que sempre foi inculcado em relação a elas.
(TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática Ensino Plural. São Paulo: Cortez, 2003. Cap. 5).


Com base na argumentação de Travaglia na obra em foco (que se coaduna à voz de autores como Irandé Antunes, José Carlos Azeredo, Marcos Bagno, entre outros), é CORRETO afirmar:
Alternativas
Q1393212 Pedagogia
Para Arthur Morais, percebe-se que “a escola cobra do aluno que ele escreva certo. Mas cria poucas oportunidades para refletir com ele sobre as dificuldades ortográficas de nossa língua”. Uma forma de superar esse desvio (e desafio) seria, em vez de se preocupar tanto em avaliar e verificar o conhecimento ortográfico dos alunos, a escola investisse mais “em ensinar, de fato, a ortografia.”
Para ele,
“A tarefa do aprendiz de ortografia é então multifacetada: envolve apropriar-se das restrições irregulares e regulares socialmente convencionadas, de modo a gerar não só a escrita de palavras, mas a escrita correta de palavras. Mesmo dentro do que chamamos de casos “regulares” há peculiaridades: ora o aprendiz precisa refletir sobre a categoria gramatical da palavra, ora precisa atentar para a posição do segmento sonoro dentro da palavra, ora precisa observar a tonicidade do segmento”.
(MORAIS, Arthur Gomes de. Ortografia: este peculiar objeto de conhecimento. In: MORAIS, Arthur G. de (Org.). O aprendizado da Ortografia. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007).
Atente para o texto abaixo, produzido por uma aluna do 6º ano do ensino fundamental, faixa etária 11 a 12 anos:

Querida professora, Eu queria agora te contar: sobre as minhas feria elas forão um masimo. tudo comecou qundo. Eu fui para a casa do meu tio, e lá tem um lote muito legal com 3 guangorras, muitas bicicletas. primeiro cheguei lá e meu tio estava pretis a sair com os meus primos para rudiar a panpulia, e ele me chamou para ir. Eu fui. Nos já tinhamos rudiado a panpulia varias veses, mais aqula fez nos marcou. Chegamos e aumosamos depois, eu e os meus primos ana e marcos gangorramos cada, um em uma gangorra, e anoiteceu o meu tio tinha conprado carne para um churrasquinho depois fomos dormir, e acordamos em uma grande alegria, e fomos brinca nem queriamos tomar café ninguem tinha ideia legau e ai que eu pensei vamos fazer uma festa jeca, e todos concordarão. Era o meu utimo dia e eu sabia da festa geca so que niguem sabia da supresa somente o meu tio ele fez um bolo lindo depois quando os convidados já ião ele chegou com o bolo e se dispediu de mim a professora desas ferias nunca irei esqueser depois a fouta das aulas. De sua aluna Maria.

Assinale a afirmação INCORRETA, considerando sua leitura da obra de Morais e do texto da aluna “Maria”:
Alternativas
Respostas
1: B
2: D
3: B
4: D