Leia o texto que é um excerto do conto “Amor” de Clarice Lispector.
O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários
anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de
seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua
eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo
equilíbrio à tona da escuridão – e por um momento a
falta de sentido deixava-as tão livres que não sabiam
para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão
súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como
se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não
o eram.