Questões de Concurso Público SEC-BA 2018 para Professor Padrão P - Língua Portuguesa
Foram encontradas 12 questões
A Cachoeira de Paulo Afonso, de Castro Alves, compreende uma série de 33 poemas que encenam o drama trágico de Maria e Lucas em meio à sublime natureza sertaneja. O poema “Lucas”, cuja primeira estrofe foi transcrita abaixo, encontra-se no proêmio do poema, que se incumbe da apresentação do protagonista e do ambiente no qual a narrativa se desenvolve.
LUCAS
QUEM FOSSE naquela hora,
Sobre algum tronco lascado
Sentar-se no descampado
Da solitária ladeira,
Veria descer da serra,
Onde o incêndio vai sangrento,
A passo tardio e lento,
Um belo escravo da terra
Cheio de viço e valor...
Era o filho das florestas!
Era o escravo lenhador!
Que bela testa espaçosa,
Que olhar franco e triunfante!
E sob o chapéu de couro
Que cabeleira abundante!
De marchetada jiboia
Pende-lhe a rasto o facão...
E assim... erguendo o machado
Na larga e robusta mão...
Aquele vulto soberbo,
— Vivamente alumiado, —
Atravessa o descampado
Como uma estátua de bronze
Do incêndio ao fulvo clarão.
(ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 321)
Sobre os recursos estilísticos mobilizados no texto em análise, são feitas as seguintes afirmações:
I. Da “testa espaçosa” e mirada “triunfante”, passando pelo chapéu de couro, a vasta cabeleira até o adereço de pele de jiboia que lhe prende o facão, o olhar do leitor é guiado ao longo de detalhes descritivos do personagem, selecionados pelo eu lírico.
II. A presença de Lucas, em andar calmo e demorado, diante de cenário luminoso, evoca as noções de destemidez e resiliência. Como uma fortaleza tanto moral quanto física, Lucas é descrito pelo eu lírico, num dístico que condensa as qualidades do personagem: “Um belo escravo da terra/Cheio de viço e valor...”.
III. A aura ígnea constituída ao entorno da figura de Lucas lhe confere altivez e nobreza, corroboradas pelo símile da “estátua de bronze”, que eleva o escravo à condição de figura ilustre, objeto das artes plásticas.
IV. O tempo verbal do presente predomina, assim como a colocação dos advérbios de lugar e tempo. O discurso é marcado por locuções vocativas e apóstrofes que convertem a exposição de Lucas em sublime emoção.
Para compor uma adequada análise crítica do texto, é correto o que se afirma em
Segue um fragmento do primeiro texto do livro Sobre pessoas, de Antônio Torres.
Para começar
Quereria um começo com a delicadeza de Fernando Sabino, em A última crônica, que cada vez que releio mais me encanta. E agora a ela retorno, em busca de ensinamentos. (...)
Foi em tais circunstâncias, a confabular consigo mesmo pelas ruas do Rio, que Fernando Sabino acabou por nos legar uma pequena obra-prima. (...)
Este aqui de vez em quando batia perna ao lado do mestre, nos calçadões à beira-mar, Copacabana-Ipanema-Leblon.
Numa dessas vezes, ele perguntou:
– Você já leu o meu livro sobre a Zélia?
Por essa eu não esperava. Uma pedra no meio do caminho. Sinuca de bico. Cul-de-sac.
Persignando-me mentalmente diante da imagem de Nossa Senhora do Amparo, a padroeira do Junco, onde nasci, e dizendo-me “Nas horas de Deus e da Virgem Maria, amém”, criei coragem e respondi que Zélia, uma paixão era o único livro dele que eu jamais leria. (...)
Como bom mineiro, ficou em silêncio, remoendo a sua falha trágica ao declarar: “Zélia sou eu”. No calor da hora, a sua brincadeira não teve graça.
Levaram-na a sério demais. Como se ele acreditasse, verdadeiramente, que a personagem que causara um terremoto na economia dos cidadãos, na era Collor, tivesse o mesmo status literário da heroína de Gustave Flaubert, Madame Bovary. (...)
Mas por que, e para que o chatear ainda mais, quando privava de sua camaradagem, durante uma caminhada para desenferrujar as pernas, desanuviar a mente, e suar todas as tristezas? – eu me perguntava. Ora, ora, quem mandou Fernando Sabino tocar no assunto? Pensei que ele ia ficar zangado, a ponto de cortar a nossa relação, para sempre.
Numa manhã de domingo o telefone tocou e era o próprio, de viva voz.
Disse:
– Acordei hoje com vontade de ligar para o Mário de Andrade, o Rubem Braga, o Paulo Mendes Campos, o Otto Lara Resende e o Hélio Pellegrino. Como nenhum deles pode atender...
Foi um começo de conversa e tanto. Ao final, convidou-me para um drinque em sua casa.
– Que tal amanhã? – perguntei-lhe.
– Ih! Amanhã não dá. Ao descobrirem que fiz oitenta anos, me empurraram para os exames médicos. Assim que me livrar dessas chateações, telefono para combinar.
Não telefonou mais. Só iria voltar a vê-lo já embalado para a última viagem, no cemitério São João Batista.
Ah, Fernando. Para começar, que falta que você faz.
(TORRES, Antônio. Para começar. In: Sobre pessoas. Disponível em: www.antoniotorres.com.br. Acesso: 20 dez. 2017. Fragmento)
Em relação à construção e à linguagem do texto, aplica-se a seguinte análise: