Longa foi a agonia, longa e cruel, de uma crueldade
minuciosa, fria, repisada, que me encheu de dor e estupefação.
Era a primeira vez que eu via morrer alguém. Conhecia a morte
de oitiva; quando muito a tinha visto já petrificada no rosto de
algum cadáver, que acompanhei ao cemitério, ou trazia a ideia
embrulhada nas amplificações de retórica dos professores de
coisas antigas – a morte aleivosa de César, a austera de
Sócrates, a orgulhosa de Catão. Todavia esse duelo do ser e do
não ser, a morte em ação, dolorida, contraída, convulsa, sem
aparelho político ou filosófico, a morte de uma pessoa amada,
essa foi a primeira vez que a pude encarar. Não chorei;
lembro-me de que não chorei.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Petrópolis: Vozes, 2017. p. 73.
Das alternativas, assinale a correta.