Questões de Concurso Público UFJF 2017 para Assistente Social
Foram encontradas 60 questões
Q791982
Português
Texto associado
Texto 1
Desobediência Civil
Aldo Bizzocchi
Deveríamos nos rebelar contra injustiças linguísticas e arbitrariedades gramaticais?Se sim, como diferenciar
os desobedientes dos ignorantes?
Nem tudo o que é legal é justo (segundo Gandhi, uma lei injusta é uma forma de violência). O líder indiano foi
o maior expoente da desobediência civil, filosofia política formulada pelo americano Henry David Thoreau. A
ideia básica dessa filosofia é a de que é justo desobedecer a leis ou a governos injustos.
Mas leis injustas (supondo que haja um critério objetivo de justiça) nem sempre são criadas por razões
deliberadas; as mais das vezes, o legislador não se dá conta de todas as implicações de sua lei. Exemplo disso é
a legislação tributária brasileira, que faz os pobres pagarem relativamente mais em impostos do que os ricos.
A língua também é governada por leis. A ortografia, por sinal, é objeto de regulamentação federal. Já a
gramática, embora não tenha força de lei, é um conjunto de normas que exercem pressão tão coercitiva sobre
os falantes, especialmente em situações formais, quanto as de uma legislação. E ortógrafos e gramáticos
também erram, portanto também criam leis injustas – se não contra os falantes, pelo menos contra a língua.
É o caso daquela grafia que, embora oficial, não tem fundamento nem etimológico nem fonológico e mais cria
dificuldades do que facilita a vida das pessoas. É o caso também da regra sintática obsoleta que ainda é exigida
em concursos, e da concordância ou regência que atentam contra a lógica e a natureza da língua, mas são
tidas como canônicas pela gramática normativa. O que fazer com elas? A desobediência civil cabe nesses
casos?
Imposição
A regulamentação do idioma, embora não tenha efeito jurídico, sobretudo porque não prevê sanções cíveis ou
penais a quem a transgride (exceto a reprovação em concursos), acaba sendo mais tirânica que a legislação
propriamente dita. Afinal, não é possível enviar ao Congresso um projeto de lei de iniciativa popular para
mudar regras de gramática. Logo, discordar dessas regras e, mais, desobedecê-las (ou desobedecer a elas,
como exigem os gramáticos) constitui, na prática, um ato de desobediência civil.
Mas será que toda desobediência é justificável? De um lado, podemos ter abusos motivados por razões
ideológicas, algo como “Si hay gobierno en esta tierra, yo soy contra” (“Se há governo nessa terra, sou
contra”). Afinal, para os radicais, toda lei é uma forma de opressão (alguns, se pudessem, desacatariam até a
lei da gravidade!). De outro lado, como distinguir entre desobediência e ignorância? Em tese, qualquer um que
não saiba se expressar de acordo com a gramática pode alegar que o faz deliberadamente. Então será que
todo desvio é justificável?
Rebeldia tímida
Curiosamente, os atos de desobediência deliberada em relação à língua têm um caráter muito mais
conservador do que na política. E afetam mais a ortografia do que a gramática. Toda vez que ocorre uma
reforma ortográfica, não são raras as vozes a se levantarem contra ela, em defesa do sistema antigo. Fernando
Pessoa, por exemplo, pregava a desobediência civil à reforma de 1911. E, ainda hoje, muitos portugueses
resistem ao novo acordo ortográfico.
Já os “progressistas” da língua se limitam a criticar a timidez das reformas, mas não ousam desafiá-las,
abolindo por conta própria o h mudo ou coisas do gênero. E olhe que não faltam normas ruins e malfeitas em
matéria de ortografia. (...)
Discórdias
E casos como o de “adequa” (ou “adéqua”, ou “adeqúa”?), que não tem uma grafia oficial (o
dicionário Houaiss é um caso isolado) porque para os gramáticos essa palavra simplesmente não existe? E o
hífen, pomo central da discórdia ortográfica da nossa língua, cujas normas de uso são tão herméticas quanto
ilógicas? (Se antes não havia qualquer sentido na grafia “cartão-postal”, agora temos de conviver também com
“conta-corrente”).
Com respeito à gramática (ou com desrespeito, se quisermos fazer um trocadilho de mau gosto), pululam os
casos de regras incoerentes, que o falante, em sua ingenuidade, acaba “corrigindo”, muitas vezes sem ter
consciência de que é um transgressor contumaz.
BIZZOCCHI, Aldo. Desobediência Civil. Revista Língua Portuguesa.
Editora Segmento. Ano 8, n.º 85, novembro
de 2012. (adaptado)
Releia o trecho:
“É o caso também da regra sintática obsoleta que ainda é exigida em concursos, e da concordância ou
regência que atentam contra a lógica e a natureza da língua, mas são tidas como canônicas pela
gramática normativa. O que fazer com elas? A desobediência civil cabe nesses casos?”
Marque a alternativa em que há ERRO de regência, do ponto de vista da gramática normativa, ainda que o uso
seja comum entre os falantes da língua:
Q791983
Português
Texto associado
Texto 1
Desobediência Civil
Aldo Bizzocchi
Deveríamos nos rebelar contra injustiças linguísticas e arbitrariedades gramaticais?Se sim, como diferenciar
os desobedientes dos ignorantes?
Nem tudo o que é legal é justo (segundo Gandhi, uma lei injusta é uma forma de violência). O líder indiano foi
o maior expoente da desobediência civil, filosofia política formulada pelo americano Henry David Thoreau. A
ideia básica dessa filosofia é a de que é justo desobedecer a leis ou a governos injustos.
Mas leis injustas (supondo que haja um critério objetivo de justiça) nem sempre são criadas por razões
deliberadas; as mais das vezes, o legislador não se dá conta de todas as implicações de sua lei. Exemplo disso é
a legislação tributária brasileira, que faz os pobres pagarem relativamente mais em impostos do que os ricos.
A língua também é governada por leis. A ortografia, por sinal, é objeto de regulamentação federal. Já a
gramática, embora não tenha força de lei, é um conjunto de normas que exercem pressão tão coercitiva sobre
os falantes, especialmente em situações formais, quanto as de uma legislação. E ortógrafos e gramáticos
também erram, portanto também criam leis injustas – se não contra os falantes, pelo menos contra a língua.
É o caso daquela grafia que, embora oficial, não tem fundamento nem etimológico nem fonológico e mais cria
dificuldades do que facilita a vida das pessoas. É o caso também da regra sintática obsoleta que ainda é exigida
em concursos, e da concordância ou regência que atentam contra a lógica e a natureza da língua, mas são
tidas como canônicas pela gramática normativa. O que fazer com elas? A desobediência civil cabe nesses
casos?
Imposição
A regulamentação do idioma, embora não tenha efeito jurídico, sobretudo porque não prevê sanções cíveis ou
penais a quem a transgride (exceto a reprovação em concursos), acaba sendo mais tirânica que a legislação
propriamente dita. Afinal, não é possível enviar ao Congresso um projeto de lei de iniciativa popular para
mudar regras de gramática. Logo, discordar dessas regras e, mais, desobedecê-las (ou desobedecer a elas,
como exigem os gramáticos) constitui, na prática, um ato de desobediência civil.
Mas será que toda desobediência é justificável? De um lado, podemos ter abusos motivados por razões
ideológicas, algo como “Si hay gobierno en esta tierra, yo soy contra” (“Se há governo nessa terra, sou
contra”). Afinal, para os radicais, toda lei é uma forma de opressão (alguns, se pudessem, desacatariam até a
lei da gravidade!). De outro lado, como distinguir entre desobediência e ignorância? Em tese, qualquer um que
não saiba se expressar de acordo com a gramática pode alegar que o faz deliberadamente. Então será que
todo desvio é justificável?
Rebeldia tímida
Curiosamente, os atos de desobediência deliberada em relação à língua têm um caráter muito mais
conservador do que na política. E afetam mais a ortografia do que a gramática. Toda vez que ocorre uma
reforma ortográfica, não são raras as vozes a se levantarem contra ela, em defesa do sistema antigo. Fernando
Pessoa, por exemplo, pregava a desobediência civil à reforma de 1911. E, ainda hoje, muitos portugueses
resistem ao novo acordo ortográfico.
Já os “progressistas” da língua se limitam a criticar a timidez das reformas, mas não ousam desafiá-las,
abolindo por conta própria o h mudo ou coisas do gênero. E olhe que não faltam normas ruins e malfeitas em
matéria de ortografia. (...)
Discórdias
E casos como o de “adequa” (ou “adéqua”, ou “adeqúa”?), que não tem uma grafia oficial (o
dicionário Houaiss é um caso isolado) porque para os gramáticos essa palavra simplesmente não existe? E o
hífen, pomo central da discórdia ortográfica da nossa língua, cujas normas de uso são tão herméticas quanto
ilógicas? (Se antes não havia qualquer sentido na grafia “cartão-postal”, agora temos de conviver também com
“conta-corrente”).
Com respeito à gramática (ou com desrespeito, se quisermos fazer um trocadilho de mau gosto), pululam os
casos de regras incoerentes, que o falante, em sua ingenuidade, acaba “corrigindo”, muitas vezes sem ter
consciência de que é um transgressor contumaz.
BIZZOCCHI, Aldo. Desobediência Civil. Revista Língua Portuguesa.
Editora Segmento. Ano 8, n.º 85, novembro
de 2012. (adaptado)
Releia o trecho:
“Nem tudo o que é legal é justo (segundo Gandhi, uma lei injusta é uma forma de violência). O líder
indiano foi o maior expoente da desobediência civil, filosofia política formulada pelo americano Henry
David Thoreau.”
A frase apresentada entre parênteses, no trecho acima, tem a função de:
Q791984
Português
Texto associado
Texto 2
Política e Politicalha
Rui Barbosa
A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos
a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia; cria, apura, eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta
palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e
parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes.
Quem lhe dará o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o
sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam,
se excluem, se repulsam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições
respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma
função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação
consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos
negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países
moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.
In: ROSSIGNOLI, Walter. Português: teoria e prática. São Paulo, Ed. Ática. 2004. p.19.
Releia o seguinte período:
“A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos
indivíduos a atividade, a coragem, a previsão, a energia; cria, apura, eleva o merecimento.”
O termo destacado ilustra o uso conotativo da linguagem verbal, por meio do emprego de:
Q791985
Português
Texto associado
Texto 2
Política e Politicalha
Rui Barbosa
A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos
a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia; cria, apura, eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta
palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e
parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes.
Quem lhe dará o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o
sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam,
se excluem, se repulsam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições
respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma
função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação
consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos
negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países
moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.
In: ROSSIGNOLI, Walter. Português: teoria e prática. São Paulo, Ed. Ática. 2004. p.19.
O principal recurso coesivo presente no Texto 2 é:
Q791986
Português
Texto associado
Texto 2
Política e Politicalha
Rui Barbosa
A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos
a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia; cria, apura, eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta
palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e
parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes.
Quem lhe dará o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o
sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam,
se excluem, se repulsam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições
respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma
função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação
consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos
negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países
moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.
In: ROSSIGNOLI, Walter. Português: teoria e prática. São Paulo, Ed. Ática. 2004. p.19.
O texto de Rui Barbosa foi construído sob o recurso retórico da comparação entre conceitos
que, no universo considerado, se opõem. As sequências a seguir atestam essa observação, EXCETO: