Questões de Concurso Público Prefeitura de Sabará - MG 2017 para AEB - Assistente Social
Foram encontradas 2 questões
Ano: 2017
Banca:
CONSULPLAN
Órgão:
Prefeitura de Sabará - MG
Prova:
CONSULPLAN - 2017 - Prefeitura de Sabará - MG - AEB - Assistente Social |
Q1699611
Português
Texto associado
A dona do ar
Quando completou três anos de idade, em 1922, Rosa Helena Schorling, conhecida como Rosita, ganhou de
presente um velocípede de madeira construído pelo pai. Aos 12, o brinquedo havia ficado para trás e seu principal meio
de transporte era um Opel 1896 de fabricação alemã e direção do lado direito. Aos 19, tornou-se a oitava brasileira apta
a pilotar aviões e, aos 21, se tornou a primeira mulher a saltar de paraquedas no País.
Hoje, por força de seus 94 anos, caminha mais devagar, mas olha o céu do mesmo modo como olhava quando
avistou, pela primeira vez, o imenso balão prateado Graf Zeppelin, que sobrevoou o território capixaba em 1932,
inaugurando o tráfego aéreo entre a Europa e a América Latina. O acordo feito com o pai era o seguinte: primeiro Rosa
Helena terminaria os estudos no tradicional colégio de freiras em que aprendia letras, ciências, piano e costura. Depois,
tão logo conquistasse o canudo de professora-normalista, estaria autorizada a estudar aviação.
O trato foi cumprido. Em 1938, começou o curso, orientada a observar o terreno e sentir a altitude e os comandos.
“No ar, eu me sinto livre como em nenhum outro lugar”, define a aviadora que o presidente Getúlio Vargas chamava de
“capixaba endiabrada”.
Diante do xeque-mate de um noivo que a mandou escolher entre voar e o casamento, ficou com o avião. Aos 35
anos, por causa da morte do pai, Rosita voltou ao interior para cuidar da mãe e trabalhar como professora. As crianças,
curiosas, a enchiam de perguntas sobre suas peripécias no ar. Casou-se anos depois, na década de 1960, e teve um
único filho. O bebê, no entanto, viveu apenas cinco meses e 16 dias. “Perdi muita gente”, lamenta. O pai, sem dúvida,
foi o maior incentivador. Um dia, o general que presidia o Aeroclube do Brasil quis conhecer a família da aluna. Diante
do pai de Rosita, João Ricardo Schorling, perguntou:
– E se alguma coisa acontecer a ela?
Decidido como a filha, Schorling respondeu prontamente:
– Então ela terá a morte dos seus sonhos.
(Ana Laura Nahas. Vida simples, janeiro de 2014.)
Dentre as expressões destacadas a seguir, todas apresentam a mesma indicação quanto ao sentido que representam
na frase em que estão inseridas, com EXCEÇÃO de:
Ano: 2017
Banca:
CONSULPLAN
Órgão:
Prefeitura de Sabará - MG
Prova:
CONSULPLAN - 2017 - Prefeitura de Sabará - MG - AEB - Assistente Social |
Q1699615
Português
Texto associado
Feliz aniversário
[...] E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos.
Zilda, a dona da casa, arrumara a mesa cedo, enchera-a de guardanapos de papel colorido e copos de papelão
alusivos à data, espalhara balões sungados pelo teto em alguns dos quais estava escrito “Happy Birthday!”, em outros
“Feliz Aniversário!”. No centro havia disposto o enorme bolo açucarado. Para adiantar o expediente, enfeitara a mesa
logo depois do almoço, encostara as cadeiras à parede, mandara os meninos brincar no vizinho para não desarrumar a
mesa.
E, para adiantar o expediente, vestira a aniversariante logo depois do almoço. Pusera-lhe desde então a presilha
em torno do pescoço e o broche, borrifara-lhe um pouco de água-de-colônia para disfarçar aquele seu cheiro de
guardado — sentara-a à mesa. E desde as duas horas a aniversariante estava sentada à cabeceira da longa mesa vazia,
tesa na sala silenciosa.
De vez em quando consciente dos guardanapos coloridos. Olhando curiosa um ou outro balão estremecer aos
carros que passavam. E de vez em quando aquela angústia muda: quando acompanhava, fascinada e impotente, o voo
da mosca em torno do bolo. [...]
Os músculos do rosto da aniversariante não a interpretavam mais, de modo que ninguém podia saber se ela estava
alegre. Estava era posta à cabeceira. Tratava-se de uma velha grande, magra, imponente e morena. Parecia oca.
— Oitenta e nove anos, sim senhor! disse José, filho mais velho agora que Jonga tinha morrido. — Oitenta e nove
anos, sim senhora! disse esfregando as mãos em admiração pública e como sinal imperceptível para todos.
Todos se interromperam atentos e olharam a aniversariante de um modo mais oficial. Alguns abanaram a cabeça
em admiração como a um recorde. Cada ano vencido pela aniversariante era uma vaga etapa da família toda. Sim
senhor! disseram alguns sorrindo timidamente.
— Oitenta e nove anos!, ecoou Manoel que era sócio de José. É um brotinho!, disse espirituoso e nervoso, e todos
riram, menos sua esposa.
A velha não se manifestava.
Alguns não lhe haviam trazido presente nenhum. Outros trouxeram saboneteira, uma combinação de jérsei, um
broche de fantasia, um vasinho de cactos — nada, nada que a dona da casa pudesse aproveitar para si mesma ou para
seus filhos, nada que a própria aniversariante pudesse realmente aproveitar constituindo assim uma economia: a dona
da casa guardava os presentes, amarga, irônica.
— Oitenta e nove anos! repetiu Manoel aflito, olhando para a esposa.
A velha não se manifestava...
(Clarice Lispector. “Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998. Fragmento.)
Considerando o contexto, assinale o significado corretamente atribuído ao vocábulo destacado.