Questões de Concurso Público Colégio Pedro II 2017 para Psicólogo

Leia o trecho a seguir:
“No ambiente escolar a medicalização é um processo de produção discursiva que justifica as dificuldades de aprendizagem, os comportamentos, ou seja, questões atinentes às situações cotidianas vividas nesse contexto, como sintomas de patologias. A identificação de problemas de aprendizagem como efeitos de um possível distúrbio, transtorno, síndrome ou deficiência influenciou significativamente na construção de um olhar pautado na racionalidade médica em relação aos modos de aprender e de ser na escola.”
(CHRISTOFARI, 2015. Disponível em: http://humanas.blog.scielo.org/blog/2015/12/17/a-medicalizacao-na-escola/).
Com base nessa abordagem e nos estudos de Foucault, é correto afirmar que

Um grupo de pesquisadores da USP escreveu um artigo intitulado “O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): um estudo introdutório” (Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 51-72, jan./abr. 2004), destacando as seguintes observações em relação a essa questão no período 1965-1970:
“Do ponto de vista da metodologia, predominaram nos institutos oficiais estudos exploratórios e descritivos, muitas vezes simples levantamentos de estatísticas escolares. Foram muitos os surveys ou caracterizações socioeconômicas de professores e alunos da rede pública de ensino fundamental e médio e as descrições da estrutura e funcionamento de unidades escolares”.
NÃO tem relação com as atuais análises a caracterização do fracasso escolar como

Uma vez que nos é encaminhado um aluno que se sente incapaz, teremos como desafio pensar em maneiras de intervir na produção da incapacidade. As professoras de nossas escolas nos mostram esse saber quando criam práticas, dinâmicas, tarefas, que permitem que seus alunos arrisquem, desejem. Mas, quando falamos de alunos que permanecem muito tempo sem aprender, ou com problemas disciplinares ou alunos com deficiências, principalmente deficiência mental, intensifica-se a procura de ajuda dos profissionais da saúde. (Marcondes, 2004).
A partir dos referenciais propostos por Adriana Marcondes, psicóloga do Serviço de Psicologia Aplicada da USP, é INCORRETO afirmar que

“As ideias atualmente em vigor no Brasil a respeito das dificuldades de aprendizagem escolar – dificuldades que, todos sabemos, se manifestam predominantemente entre crianças provenientes dos segmentos mais empobrecidos da população – têm uma história.” (Patto, 2015, p.35)
Maria Helena de Souza Patto tornou-se referência na história da Psicologia Escolar, no Brasil, fornecendo extensa revisão crítica sobre o tema “fracasso escolar”.
A partir deste referencial teórico, avalie as afirmativas a seguir:
I. O trabalho de Patto é considerado ultrapassado, uma vez que hoje não podemos prescindir do paradigma científico moderno, garantindo a possibilidade de mensuração do fenômeno psicológico de modo a efetivar soluções objetivas frente ao fracasso escolar II. As raízes históricas das concepções sobre o fracasso escolar apontam para o triunfo de uma classe e sua visão de mundo. Neste sentido, é importante entendermos o que se passa no séc. XIX quando a escola se coloca como uma instituição “redentora da humanidade”. III. A Psicologia Diferencial entendia que a genialidade seria hereditária. Em suas bases, encontraremos alguns dos principais pressupostos que nortearão a atuação psicológica nas instituições escolares, a saber: o uso dos métodos estatísticos, as pesquisas experimentais em laboratórios e a expansão dos testes psicológicos. IV. Contemporaneamente, a partir de uma crítica sobre os próprios paradigmas científicos, a Psicologia Escolar tem buscado redefinir o que chamamos de fracasso escolar. Assim, os processos de a avaliação psicológica deverão incluir o levantamento de informações sobre o cotidiano da criança, considerando sua rede de relações intersubjetivas.
Estão corretas

Em “Educação ‘bancária’ e educação libertadora”, Paulo Freire aponta alguns importantes questionamentos acerca de nossas práticas educativas. Sua obra sinaliza a necessidade de construirmos uma perspectiva crítica no cotidiano escolar.
Tomando a obra do autor como ponto de partida, avalie as afirmativas a seguir:
I. Freire afirma que, tradicionalmente, a relação educador – educando é “narradora, dissertadora” da realidade, podendo ser sintetizada em dois polos antagônicos: por um lado, haveria sujeitos como narradores de conteúdos e, por outro, ouvintes, pacientes, objetos do fazer educativo. II. Na visão bancária, o educador é o agente – “real sujeito” – da educação e os conteúdos são “retalhos da realidade”, transmitidos de forma contextualizada. III. Herdeira do paradigma científico clássico, a educação tradicional toma a cisão entre sujeito cognoscente e objeto cognoscível como pressuposto e afirma a neutralidade axiológica como balizadora de todo processo de construção de conhecimento. IV. A perspectiva criticada por Freire entende que o estudante é aquele que não sabe, devendo adaptar-se à autoridade do educador, à disciplina e à prescrição escolar.
Estão corretas