Questões de Concurso Público Prefeitura de Crato - CE 2021 para Professor de Português

Foram encontradas 7 questões

Q1786834 Português

"Tudo em ’Torto arado’ é presente no mundo rural do Brasil. Há pessoas em condições análogas à escravidão"


     Quando Bibiana e Belonísia nasceram, tinham outros nomes. O baiano Itamar Vieira Junior tinha 16 anos quando começou a escrever Torto arado (Todavia), que ganhou nesta quinta-feira o Prêmio Jabuti de melhor romance, e suas protagonistas tinham outras identidades. A essência da narrativa, no entanto, permaneceu inalterada: a história de duas irmãs, contada a partir de sua relação com o pai e com a terra onde viviam. O título, retirado do poema Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, tampouco mudou. O que veio depois foi a vontade de levar a história para o sertão da Chapada Diamantina, longe da capital ou do Recôncavo Baiano, onde a maioria dos seus conterrâneos ambientam suas narrativas. "A gente fala do sertão, do semiárido, parece que se trata de uma coisa só, mas o sertão da Chapada tem uma regularidade de chuva, uma diversidade de paisagem, de mato, que salta aos olhos", conta Vieira Junior, hoje com 41 anos, ao EL PAÍS, por telefone.

    

    Profundamente influenciado pelas leituras de Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz, ele escreveu as primeiras 80 páginas da obra, mas o manuscrito se perdeu durante uma mudança da família. Vieira Junior só retomaria a história vinte anos depois, quando, formado geógrafo e funcionário público do INCRA, conheceu as realidades de indígenas, quilombolas, ribeirinhos e assentados no sertão baiano e maranhense. "Ao longo de 15 anos, aprendi muito sobre a vida no campo e vi um Brasil muito diverso do que vivemos cotidianamente nas cidades. Existe uma vida muito pulsante no campo, uma vida que está em risco, porque essas pessoas vivem em constante conflito na defesa de seus territórios. Tudo isso reacendeu a chama de escrever Torto arado", conta o escritor, que lembra que o Brasil é um dos países com maiores índices de violência no campo. No ano passado, foram registrados 1.883 conflitos, incluindo 32 assassinatos, de acordo com o levantamento anual realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

    

    Em 2017, quando escrevia a segunda - e definitiva - versão do romance, nove trabalhadores rurais com os quais Vieira Junior teve contato foram assassinados, seis deles em uma chacina. "Foi um ano brutal", lembra. São as vidas e lutas dessa gente que estão contadas em sua obra, que acompanha a família das irmãs Bibiana e Belonísia no cotidiano de Água Negra, uma fazenda onde os trabalhadores aram a terra sem receber salário, tendo apenas o direito de construir casebres de barro que precisam ser reconstruídos a cada chuva, pois o fazendeiro não autoriza construções de alvenaria. Quando não estão plantando e colhendo nas terras do patrão, cultivam roças nos próprios quintais para comer e ganhar um pouco dinheiro vendendo abóbora, feijão e batata na feira. São quase todos negros, descendentes de escravizados libertos havia poucas décadas, como é o próprio autor. Descendente de negros escravizados vindos de Serra Leoa e da Nigéria e de indígenas Tupinambás, Vieira Junior construiu um sertão real, que tem vida e verde, graças, em parte, às histórias dos avós paternos, que viveram no campo, na região de Coqueiros do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano.

    

    O torto arado que dá nome ao livro é um objeto que, usado pelos antepassados das protagonistas na lida com a terra, atravessa o tempo para representar essa herança escravocrata de tantas desigualdades. Narrado primeiramente por Bibiana, depois por Belonísia e, na terceira parte, por outra personagem, o romance já começa com o clímax de um acidente: crianças, as duas irmãs ? filhas de Zeca Chapéu Grande, um líder comunitário e espiritual encontram uma faca da avó Donana. A partir daí, a linguagem, central na narrativa desde a prosa melodiosa com que o autor escreve, torna-se ainda mais importante. O não dito é tão importante quanto o que está impresso no papel. Uma irmã torna-se a voz da outra, e, como estão descritos os gestos, mas não as palavras das personagens, o leitor não sabe quem foi mutilada até chegar a um terço do romance. 


(FONTE: El País. Texto de Joana Oliveira. Disponível em https://brasil.elpais.com/cultura/2020-12- 02/tudo-em-torto-arado-ainda-e-presente-no-mundo-rural-brasileiro-ha-pessoas-em-condicoes-analogas-a-escravidao.html)

A autora do texto emprega variadas estratégias para desenvolver seu tema. Divide-se entre a realidade e a ficção, como também entre o presente e o passado, por exemplo. Também alterna a autoria, em uma dimensão microestrutural, inserindo em seu texto trechos que correspondem a declarações do autor do romance, Itamar Vieira Júnior.


Que outra estratégia pode ser associada a esse jogo de construção de sentido?

Alternativas
Q1796654 Português
Leia atentamente o trecho a seguir e responda o que se pede:
"QUEBRAR OS HÁBITOS
Encontro numa folha de papel antiga umas frases em inglês, e de novo vejo que esqueci de anotar o nome do autor. Traduzo: ’Mas os grandes não podem guiar sua vida por você. Você precisará de um novo inventário de suas horas, de uma classificação mais severa do que vale a pena fazer e do que é simples passatempo. Precisará compreender que é frequentemente tão importante quebrar um bom hábito como quebrar um mau. Todos os hábitos são suspeitos’." (FONTE: LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 434.)
Sobre o uso da pontuação, podemos afirmar que:
Alternativas
Q1796658 Português
A construção de sentidos, feita por sujeitos historicamente situados, para interpretar fatos, ideias e fenômenos circundantes, seja ela prévia ou correntemente construída, tem papel determinante nos processos de estruturação da argumentação. Considerando a imagem a seguir, assinale a alternativa que contém a sequência correta de assertivas verdadeiras e falsas:
Imagem associada para resolução da questão
I. A argumentação do autor da publicação não segue a sequência argumento/contra-argumento/resposta. II. Para considerar o elemento resposta no processo de construção de ponto de vista, a formulação textual pode apresentar a resposta sob uma forma interrogativa, como vemos na imagem. III. Os elementos verbovisuais contextuais que acompanham o nome do autor (a patente militar; as bandeiras dos EUA, Israel e Brasil; a figura bovina; o nome do perfil @direitasiqueira) não são indispensáveis para a construção de sentidos na interpretação da mensagem. IV. Ao desconsiderar os elementos verbovisuais que não estão no corpo da mensagem, o processo interpretativo ainda consegue captar a ironia como processo estruturante da mensagem. V. O fato de a mensagem ser toda escrita em letras maiúsculas colabora para uma orientação interpretativa que reforça sua credibilidade.
Alternativas
Q1796659 Português
Considere o conjunto de frases listadas abaixo e assinale a alternativa que contém uma sentença que poderia figurar como título de um texto argumentativo em relação ao qual o este mesmo título poria em realce a postura crítica do co-enunciador, empenhado em ridicularizar as mal-sucedidas estratégias enunciativas dos enunciadores citados:
"Parece que ela foi morta pelo seu assassino" "Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça." "Os antigos prisioneiros terão a alegria de se reencontrar para lembrar os anos de sofrimento." "A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço." "O acidente fez um total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que não haja vítimas." "O acidente foi no tristemente célebre Retângulo das Bermudas." "Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um incêndio".
Alternativas
Q1796660 Português
A inserção de marcas de pessoa, lugar e tempo, quando são deslocadas as referências da enunciação para o enunciado, no processo chamado de debreagem enunciativa, são responsáveis por importantes efeitos de argumentação. Elementos que pertencem ao aqui e agora da comunicação real entre pessoas transportam-se para o enunciado como categorias semânticas, organizando uma estratégia enunciativa que simula, dentro do enunciado, a presença de elementos externos implicados na enunciação.
Considerando o texto a seguir, assinale a assertiva que contém uma afirmativa correta:
Antônio Áttico de Souza Leite não foi muito claro porque só escreveu sobre a Pedra do Reino, deixando de lado o que sucedeu depois. Acontece porém que minha bisavó, a Princesa Isabel, no momento de ser degolada, pariu, como o senhor deve se lembrar, um menino que rolou pela pedra abaixo. Esse menino foi meu avô, Dom Pedro Alexandre, criado pelo Padre Manuel José do Nascimento Bruno Wanderley. Quando ele cresceu, o Padre Wanderley casou-o com uma filha natural sua, Bruna Wanderley, minha avó. (FONTE: Ariano SUASSUNA. Romance d?A Pedra do Reino. Rio de Janeiro: José Olympio, 2014, p. 464)
Alternativas
Respostas
1: D
2: C
3: B
4: D
5: E