Questões de Concurso Público CEFET-MG 2022 para Enfermeiro
Foram encontradas 50 questões
Ano: 2022
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CEFET-MG
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CEFET-MG
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Q1960734
Português
Texto associado
Se o projeto deste livro [O tempo e o cão: a atualidade das depressões]
se deve ao início de algumas análises com pessoas depressivas, o
processo mental de sua escrita inaugurou-se no dia em que atropelei
um cachorro. Foi um acidente anunciado, com poucos segundos
de antecipação, e mesmo assim inevitável, por conta da velocidade
normal dos acontecimentos na atualidade. Mal nos damos conta dela,
a banal velocidade da vida, até que algum mau encontro venha revelar
a sua face mortífera. Mortífera não apenas contra a vida do corpo, em
casos extremos, mas também contra a delicadeza inegociável da vida
psíquica. Naquele dia, acossada pelos caminhões que vinham atrás
de mim em uma autoestrada, ainda pude ver pelo retrovisor que o
animal ferido conseguiu atravessar o resto da rodovia e embrenharse no mato. Em questão de segundos, não escutei mais seu uivo de
dor nem pude conferir o dano que lhe fiz. O cão deixou de existir em
meu campo perceptivo, assim como poderia ter sido definitivamente
forcluído do registro da minha experiência; seu esquecimento se
somaria ao apagamento de milhares de outras percepções instantâneas
às quais nos limitamos a reagir rapidamente para, em seguida, com
igual rapidez, esquecê-las.
[...]
Poucos minutos depois do acidente, ainda na estrada, comecei a
esboçar em pensamento um texto a respeito da brutalidade da relação
dos sujeitos contemporâneos com o tempo. Do mau encontro que
poderia ter acabado com a vida daquele cão, restou uma ligeira mancha
escura no meu para-choque. Foi tão rápido o choque que não teria se
transformado em acontecimento se eu não sentisse a necessidade de
recorrer à cena diversas vezes, em pensamento, ao longo dos vinte
quilômetros que ainda me faltavam percorrer até o meu destino.
KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009. p.
16-17. (fragmento).
Glossário:
Forcluído: excluído.
A experiência vivida por Maria Rita Kehl permitiu-lhe desenvolver a tese
de que o
Ano: 2022
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Q1960735
Português
Texto associado
A questão refere-se ao texto a seguir.
Raízes da intolerância
Racismo, injúria e preconceito revelam rejeição à própria
condição humana
Muniz Sodré
Dados oficiais do Instituto de Segurança Pública mostram que o Rio
de Janeiro tem registrado aumento nos casos gerais de intolerância
religiosa, em que se incluem episódios de “injúria por preconceito”
e “preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional”.
Traduzindo: discriminam-se cada vez mais negros, nordestinos e
praticantes de cultos afro-brasileiros.
Não é surpresa a inclusão de nordestinos nesse espectro. Na história
do processo de seleção para a carreira diplomática, é possível deparar
com episódios reveladores de uma oblíqua tradição “estética”, que
não visava negativamente apenas os afro-brasileiros. Num desses,
o Barão do Rio Branco (1845-1910) rejeitou a candidatura do poeta
simbolista Antonio Francisco da Costa e Silva (1885-1950) por suposta
inadequação estética: “nordestino e estrábico”.
Esse critério seletivo se alterou oficialmente, mas suas raízes sociais
continuam à mostra em setores populares. Faz pouco tempo, o
sotaque de uma jovem paraibana num reality show provocou ataques
cruéis da audiência.
Sempre houve esse tipo de discriminação no Sul, porém de modo
mais atenuado em cidades tradicionalmente acolhedoras, como o Rio
de Janeiro, cuja institucionalidade popular foi tecida pelos migrantes
nordestinos nos morros e subúrbios. O carioca era uma mistura branda,
em que a dicotomia entre “nós” e “eles” não traduzia conflitos nem
ressentimentos. Pelo contrário, graças aos cultos afros e ao samba,
resultava numa originalidade civilizatória que até hoje garante à cidade
um lugar de visibilidade na cena internacional.
Mas é evidente que a sublimação carnavalesca da cidade jamais
conseguiu esconder o persistente racismo neocolonial. Sob a superfície
da hipocrisia social, estão latentes velhos esquemas discriminatórios,
que agora se exasperam na onda de um retrocesso mental frente à exposição pública de diferenças temidas pela consciência enferrujada
de frações de classe “média”. Essas mesmas de olhos fechados às
pequenas e grandes violências que desfiguraram o urbano remanescente
na paisagem do Rio.
SODRÉ, Muniz. Raízes da intolerância. Disponível em: https://www.geledes.org.br/raizes-daintolerancia/. Acesso em: 01 mai. 2022. (Adaptado).
A passagem do texto que expressa uma avaliação do autor como
estratégia de argumentação é:
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Q1960736
Português
Texto associado
A questão refere-se ao texto a seguir.
Raízes da intolerância
Racismo, injúria e preconceito revelam rejeição à própria
condição humana
Muniz Sodré
Dados oficiais do Instituto de Segurança Pública mostram que o Rio
de Janeiro tem registrado aumento nos casos gerais de intolerância
religiosa, em que se incluem episódios de “injúria por preconceito”
e “preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional”.
Traduzindo: discriminam-se cada vez mais negros, nordestinos e
praticantes de cultos afro-brasileiros.
Não é surpresa a inclusão de nordestinos nesse espectro. Na história
do processo de seleção para a carreira diplomática, é possível deparar
com episódios reveladores de uma oblíqua tradição “estética”, que
não visava negativamente apenas os afro-brasileiros. Num desses,
o Barão do Rio Branco (1845-1910) rejeitou a candidatura do poeta
simbolista Antonio Francisco da Costa e Silva (1885-1950) por suposta
inadequação estética: “nordestino e estrábico”.
Esse critério seletivo se alterou oficialmente, mas suas raízes sociais
continuam à mostra em setores populares. Faz pouco tempo, o
sotaque de uma jovem paraibana num reality show provocou ataques
cruéis da audiência.
Sempre houve esse tipo de discriminação no Sul, porém de modo
mais atenuado em cidades tradicionalmente acolhedoras, como o Rio
de Janeiro, cuja institucionalidade popular foi tecida pelos migrantes
nordestinos nos morros e subúrbios. O carioca era uma mistura branda,
em que a dicotomia entre “nós” e “eles” não traduzia conflitos nem
ressentimentos. Pelo contrário, graças aos cultos afros e ao samba,
resultava numa originalidade civilizatória que até hoje garante à cidade
um lugar de visibilidade na cena internacional.
Mas é evidente que a sublimação carnavalesca da cidade jamais
conseguiu esconder o persistente racismo neocolonial. Sob a superfície
da hipocrisia social, estão latentes velhos esquemas discriminatórios,
que agora se exasperam na onda de um retrocesso mental frente à exposição pública de diferenças temidas pela consciência enferrujada
de frações de classe “média”. Essas mesmas de olhos fechados às
pequenas e grandes violências que desfiguraram o urbano remanescente
na paisagem do Rio.
SODRÉ, Muniz. Raízes da intolerância. Disponível em: https://www.geledes.org.br/raizes-daintolerancia/. Acesso em: 01 mai. 2022. (Adaptado).
O último parágrafo do texto contrapõe-se ao argumento de que
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Q1960737
Português
Texto associado
Despertar para a realidade exige esforço e reflexão crítica.
Gabriela Lenz de Lacerda
A história do Brasil, como a própria história do mundo, é definida por
uma sucessão de violências.
A subjugação das mulheres tem relação com o próprio processo de
colonização, na medida em que se trata de formas de dominação e de
exploração necessárias ao desenvolvimento do capitalismo. A fim de
permitir a acumulação primitiva de capital, era necessário que as próprias
relações sociais fossem pautadas na violência e na hierarquização dos
seres humanos, com controle dos corpos que pudessem ser úteis ou
prejudiciais ao sistema.
Mais de 500 anos depois, não conseguimos romper essa persistência
história e, não por acaso, vivemos hoje no país mais desigual da América
Latina e em um dos mais desiguais do mundo. As violências praticadas
contra mulheres, contra descendentes dos africanos e indígenas
escravizados e contra a natureza são a herança que recebemos. Nós,
que habitamos essa porção de terra batizada de Brasil, fundada pela
violência, precisamos ter em mente que o racismo, o sexismo e a
desconexão com a natureza não apenas estruturam a nossa sociedade.
São estruturantes também da nossa própria subjetividade.
Despertar para a realidade pressupõe, assim, refletirmos de forma crítica
e profunda sobre o nosso próprio racismo, sexismo e colonialismo.
Se queremos realmente contribuir para a construção de um mundo
melhor, mais justo e igualitário, temos que retomar a lição de Paulo
Freire (2014): toda ação libertadora é necessariamente acompanhada
de uma profunda reflexão. Somente compreendendo a nossa própria
posição na estrutura social – nossos privilégios e vulnerabilidades –
e lembrando que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta
sozinho”, podemos, juntos, nos libertar em comunhão. A revolução
começa – mas não termina – dentro de nós!...
LACERDA, Gabriela Lenz de. Despertar para a realidade exige esforço e reflexão crítica.
Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/sororidade-em-pauta/despertar-para-a-
-realidade-exige-esforco-e-reflexao-critica/. Acesso em 09 mai. 2022.
Sobre os articuladores textuais destacados no excerto de artigo de
opinião, pode-se afirmar que:
I. A conjunção “como” estabelece relação de comparação entre a história do Brasil e a dos demais países do globo terrestre.
II. A locução “na medida em que” cria a relação de causalidade entre a subjugação das mulheres e as formas de dominação e de exploração próprias do capitalismo.
III. O conectivo “assim” introduz a conclusão sobre o que é necessário para o nosso despertar sobre a nossa própria realidade.
IV. O “se” estabelece a condição para recuperarmos os ensinamentos de Paulo Freire.
Estão corretas as afirmativas
I. A conjunção “como” estabelece relação de comparação entre a história do Brasil e a dos demais países do globo terrestre.
II. A locução “na medida em que” cria a relação de causalidade entre a subjugação das mulheres e as formas de dominação e de exploração próprias do capitalismo.
III. O conectivo “assim” introduz a conclusão sobre o que é necessário para o nosso despertar sobre a nossa própria realidade.
IV. O “se” estabelece a condição para recuperarmos os ensinamentos de Paulo Freire.
Estão corretas as afirmativas
Ano: 2022
Banca:
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Q1960738
Português
Texto associado
A questão refere-se ao texto a seguir.
O que pode um funk?
Ivana Bentes
[...] Retomando essa figura meio arquetípica do Brasil, o funk
feminino de Anitta incorporou as questões de gênero conjugando a
malandragem com um feminino plural.
Vai, Malandra, o clipe, traz verdadeiros memes visuais,
culturais e musicais que valem por um tratado sociológico. Ainda não
se escreveu, e faz falta, um tratado sobre os corpos pensantes das
mulheres, para além do imaginário em torno da bunda, da raba, do
bumbum, do traseiro da mulher brasileira, que virou um disparador de
questões sensações! O corpo sexualizado na era da sua ressignificação
pelas próprias mulheres!
Um corpo que o funk, o samba, o biquíni de fita isolante, toda
a cultura solar carioca já vem dizendo, tem tempo, que não precisa ser
apenas objeto e signo de assujeitamento, toda vez que quiser se exibir.
A bunda (e o corpo das mulheres) pode se deslocar da
objetificação para a subjetivação! A bunda viva de Anitta com sua
celulite sem photoshop é sujeito e não objeto. Se as mulheres fazem o
que quiserem com seus corpos (a Marcha das Vadias explicou isso para
a classe média), elas podem inclusive se “autoexplorarem”, ensina o
funk. A bunda ostentação de Anitta no início do clipe já aponta para
esse outro feminismo (de mulheres brancas, apenas? Acho que não!).
BENTES, Ivana. O que pode um funk? Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/anittavai-malandra-ivana-bentes/. Acesso em 28 abr. 2022.
O texto refuta a tese de que