Questões de Vestibular UNESP 2021 para Vestibular- Conhecimentos Gerais - Área de Biológicas
Foram encontradas 10 questões
Ano: 2021
Banca:
VUNESP
Órgão:
UNESP
Prova:
VUNESP - 2021 - UNESP - Vestibular- Conhecimentos Gerais - Área de Biológicas |
Q1675388
Português
Texto associado
Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João
Guimarães Rosa.
Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português.
Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião
alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e,
como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a
própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde,
quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada
canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos
estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo
a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a
língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar
que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência
relegar o progresso no passado. [...]
Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de
“hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem
do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu
o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom
já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.
(Tutameia, 1979.)
De acordo com o narrador, o hipotrélico revela, em relação à
prática do neologismo, uma postura
Ano: 2021
Banca:
VUNESP
Órgão:
UNESP
Prova:
VUNESP - 2021 - UNESP - Vestibular- Conhecimentos Gerais - Área de Biológicas |
Q1675389
Português
Texto associado
Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João
Guimarães Rosa.
Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português.
Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião
alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e,
como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a
própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde,
quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada
canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos
estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo
a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a
língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar
que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência
relegar o progresso no passado. [...]
Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de
“hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem
do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu
o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom
já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.
(Tutameia, 1979.)
Considerando que “sonejar” constitui um neologismo formado pelo radical “sono” e pelo sufixo “-ejar”, que exprime aspecto frequentativo, “a inércia que soneja em cada canto do
espírito” (2o
parágrafo) contribui, segundo o narrador, para
Ano: 2021
Banca:
VUNESP
Órgão:
UNESP
Prova:
VUNESP - 2021 - UNESP - Vestibular- Conhecimentos Gerais - Área de Biológicas |
Q1675390
Português
Texto associado
Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João
Guimarães Rosa.
Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português.
Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião
alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e,
como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a
própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde,
quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada
canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos
estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo
a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a
língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar
que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência
relegar o progresso no passado. [...]
Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de
“hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem
do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu
o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom
já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.
(Tutameia, 1979.)
O efeito cômico do texto deriva, sobretudo, da ambiguidade
da expressão
Ano: 2021
Banca:
VUNESP
Órgão:
UNESP
Prova:
VUNESP - 2021 - UNESP - Vestibular- Conhecimentos Gerais - Área de Biológicas |
Q1675392
Português
Texto associado
Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João
Guimarães Rosa.
Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português.
Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião
alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e,
como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a
própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde,
quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada
canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos
estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo
a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a
língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar
que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência
relegar o progresso no passado. [...]
Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de
“hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem
do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu
o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom
já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.
(Tutameia, 1979.)
Retoma um termo mencionado anteriormente no texto a
palavra sublinhada em:
Ano: 2021
Banca:
VUNESP
Órgão:
UNESP
Prova:
VUNESP - 2021 - UNESP - Vestibular- Conhecimentos Gerais - Área de Biológicas |
Q1675395
Português
Texto associado
Leia o texto extraído
da primeira parte, intitulada “A terra”, da obra Os sertões, de
Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalística
da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para
o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e
foi publicada apenas em 1902.
Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897],
as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio1
frouxo de tiros espaçados e soturnos, encontramos, no
descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas
se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos,
icozeiros2
virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias3
de flores rutilantes, davam ao lugar a aparência exata de
algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única,
uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e
protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida
para os céus — um soldado descansava.
Descansava... havia três meses.
Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da
Mannlicher 4
estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma
banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-
-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada
de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os
mortos, não fora percebido. Não compartira, por isto, a vala
comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido
fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade
lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus,
para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas
fulgurantes...
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incutir a ilusão
exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um
verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria
— lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem
decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível.
Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares.
(Os sertões, 2016.)
1 canhoneio: descarga de canhões.
2
icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, flores de tom verde-pálido e frutos
bacáceos.
3
palmatória: planta da família das cactáceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas.
4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannlicher.
A linguagem do texto pode ser caracterizada como