Questões de Vestibular de Português - Variação Linguística
Foram encontradas 180 questões
Ano: 2019
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
FASEH
Provas:
Instituto Consulplan - 2019 - FASEH - Vestibular de Medicina - Tipo 01
|
Instituto Consulplan - 2019 - FASEH - Vestibular de Medicina |
Q1785720
Português
Texto associado
Vida pós-Zika
Com ajuda de mães, estudo descobre imunidade após
contato com o vírus.
Um estudo feito em parceria com 50 mães que tiveram
Zika durante a gravidez concluiu que a maior parte delas —
e de seus filhos — desenvolveu imunidade ao vírus. A
descoberta, feita por pesquisadores da Fiocruz e do Hospital
Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal
Fluminense, será apresentada hoje às mães.
As mulheres, que participam da pesquisa voluntariamente, tiveram a infecção durante a gestação e são
acompanhadas desde 2016, ao lado de seus filhos. Alguns
deles nasceram com a síndrome da Zika Congênita,
caracterizada principalmente pela microcefalia; outros têm
alterações neurológicas, embora não possuam a síndrome; e
o último grupo é assintomático.
No Hospital Antônio Pedro, 36 profissionais fazem o
acompanhamento clínico em que avaliam e estimulam o
desenvolvimento das crianças, moradoras de Niterói, São
Gonçalo, Maricá e Itaboraí. Ali, coletam o sangue que é
estudado por 22 cientistas da Fiocruz. Há três principais
linhas de pesquisa, sendo a de maior impacto para a
população a que resultou na descoberta sobre a imunidade.
Segundo Luzia Maria de Oliveira Pinto, pesquisadora do
Laboratório de Imunologia Viral do Instituto Oswaldo Cruz,
que coordena os estudos, os dados finais ainda estão sendo
concluídos, mas já se pode cravar que a maioria das pessoas
pesquisadas desenvolveu, sim, imunidade ao vírus.
Outros dois estudos estão sendo finalizados: um avalia
se a intensidade da resposta inflamatória do organismo para
combater o vírus na gravidez tem impacto no desfecho
clínico do bebê; e o outro verifica se as células podem
produzir proteínas e anticorpos contra o vírus.
— Sem essas mães não conseguiríamos fazer as
pesquisas. A consequência da infecção já aconteceu. Por isso
é um ato que não vai ajudá-las diretamente, mas pode
ajudar outras famílias, até porque podem ocorrer novas
epidemias — enfatiza a pesquisadora.
Mesmo sem poder se beneficiar diretamente do
impacto das pesquisas, nenhuma mãe atendida pelo Hospital
Antônio Pedro se recusou a colaborar com os cientistas.
— Por isso quisemos dar uma resposta a elas, mostrar:
“olha como vocês contribuíram para a ciência”. A maioria
dessas mães era produtiva, tinha emprego, e tudo mudou
completamente. A vida delas é dedicada às crianças. Levam
os filhos de duas a três vezes por semana para estimulação
com fisioterapia, psicologia, fonoaudióloga… São lutadoras
— afirma a coordenadora do projeto, Claudete Araújo
Cardoso, infectologista pediátrica da Faculdade de Medicina
da UFF.
A pesquisadora conta ainda que pretende acompanhar
os casos até os bebês crescerem:
— Essas crianças vão ter que continuar sendo
estimuladas. Como protocolo de pesquisa, o Ministério da Saúde orienta acompanhá-las por três anos, e decidimos
acompanhar por cinco. Mas vou acompanhá-las até virarem
adultas.
Na mesma semana em que descobriu que estava
grávida, manchas vermelhas apareceram no corpo de Kamila
Mitidieri, de 23 anos. Era Zika. Sophia nasceu com a síndrome.
Agora tem 2 anos e 9 meses e faz fisioterapia motora e
respiratória e frequenta a fonoaudióloga.
— Ela está se desenvolvendo bem melhor. Aprendeu
até a falar “mãe”. Eu sempre soube que ela precisaria de um
cuidado maior do que uma criança que não tem nada. Há
três meses consegui um emprego, mas tive que sair porque
a dona do salão não aceitava que eu levasse minha filha ao
médico.
Apesar das dificuldades do dia a dia, ela não hesita em
ajudar nas pesquisas e enfrenta seus temores:
— Realmente eu odeio tirar sangue, mas toda vez que
me pedem eu tiro. Tenho vontade de ter outro filho, mas
tenho medo.
Logo depois que Elisangela Patricia, de 37 anos, recebeu
o diagnóstico de Zika, descobriu que estava grávida. Na hora,
os médicos disseram que seu filho teria microcefalia, mas não
foi o que aconteceu. Ele nasceu sem sintomas, mas, com o
passar do tempo, alterações foram sendo descobertas.
Samuel Travassos, de 2 anos e 10 meses, tem pequenos cistos
no cérebro, atraso no desenvolvimento e suspeita de
autismo.
— Fico com ele o tempo todo, 24 horas por dia. É
cansativo, não consigo cuidar de mim, tenho pressão alta e
bronquite, mas ele precisa mais que eu. É grudado em mim,
toma meu tempo todo, mas eu sempre participo de tudo. Se
dizem que tem uma pesquisa, eu ajudo, mesmo não
sabendo o que é. Tem que estudar, que pesquisar. Eles
ajudam a gente, e a gente ajuda eles.
(TATSCH, Constança. O Globo. 05 de outubro de 2019.)
A expressão do discurso informal e suas características
podem ser vistas em alguns trechos do texto. Indica-se um
exemplo de construção representativa da linguagem
coloquial em:
Ano: 2021
Banca:
COMVEST - UNICAMP
Órgão:
UNICAMP
Prova:
COMVEST - UNICAMP - 2021 - UNICAMP - Vestibular - Primeira Fase - Provas E e G - Exatas e Tecnológicas - Humanas e Artes |
Q1713573
Português
Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante
talvez seja desigualdade. E nem é uma boa palavra,
incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de
desespero, des de desesperança. Des, definitivamente,
não é um bom prefixo. Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não
importa em que dicionário. Doravante ouviremos falar
muito nela. De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre, mas está
escrita no destino de todos os busões da cidade, sentido
centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade,
no sinal fechado, fez seu primeiro rap, “tem gente com
fome, tem gente com fome, tem gente com fome”, somente
com esses substantivos. Você ainda não conhece o
Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender
que vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da
Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o valetransporte na catraca e simbora – mais de 30 quilômetros.
O patrão jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que
um humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por
todas as razões sociais que a gente bem conhece. Evitei as estatísticas nessa crônica. Podia matar de
desesperança os leitores, os números rendem manchete,
mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa,
só há uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mirese na desigualdade, talvez não haja mais jeito de achar
que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de
fazer um país.
(Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html?fbclid=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_snM DUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020.)
Assinale a alternativa que identifica corretamente recursos linguísticos explorados pelo autor nessa crônica.
(Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html?fbclid=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_snM DUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020.)
Assinale a alternativa que identifica corretamente recursos linguísticos explorados pelo autor nessa crônica.
Ano: 2021
Banca:
UNIFESP
Órgão:
UNIFESP
Prova:
UNIFESP - 2021 - UNIFESP - Vestibular - 1º Dia - Língua Portuguesa/ Língua Inglesa / Redação |
Q1682901
Português
Texto associado
— Agora você vai me contar uma história de amor — disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites artificiais.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de concluir o mestrado de contador de histórias, e estava com a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um país onde só havia água, eram águas e mais águas, e o governo como tudo mais se fazia em embarcações atracadas ou em movimento, conforme o tempo. Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos, mas não era feliz, porque Sertória, objeto dos seus sonhos, se recusava a casar com ele. Osmundo ofereceu-lhe um belo navio embandeirado, que ela recusou. Só aceitaria uma frota de dez caravelas, para si e para seus familiares.
Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas não tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou em afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas, topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. Voltou à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não tinham sido inventados. Continuou humilde satélite de Sertória, que ultimamente passeava de uma lancha para outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a inscrição “Amor imortal”. Acabou.
— Mas que significa isso? — perguntou o moço, insatisfeito. — Não entendi nada.
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos devem ser contados, e não entendidos; exatamente como a vida.
O entendimento dos contos
— Agora você vai me contar uma história de amor — disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites artificiais.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de concluir o mestrado de contador de histórias, e estava com a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um país onde só havia água, eram águas e mais águas, e o governo como tudo mais se fazia em embarcações atracadas ou em movimento, conforme o tempo. Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos, mas não era feliz, porque Sertória, objeto dos seus sonhos, se recusava a casar com ele. Osmundo ofereceu-lhe um belo navio embandeirado, que ela recusou. Só aceitaria uma frota de dez caravelas, para si e para seus familiares.
Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas não tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou em afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas, topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. Voltou à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não tinham sido inventados. Continuou humilde satélite de Sertória, que ultimamente passeava de uma lancha para outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a inscrição “Amor imortal”. Acabou.
— Mas que significa isso? — perguntou o moço, insatisfeito. — Não entendi nada.
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos devem ser contados, e não entendidos; exatamente como a vida.
(Contos plausíveis, 2012.)
Observa-se o emprego de expressão própria da linguagem
coloquial no trecho
Q1405275
Português
As gravações de “Cuitelinho” (Sírio Possenti)
“Cuitelinho” é o título de belíssima canção “folclórica”, já gravada por dezenas de cantores. Sua letra é corpus muito interessante para quem quiser saber como é o português falado no Brasil. Sendo música do folclore, tem evidentemente muitas características da gramática do português popular. Ouvindo as diversas gravações, descobrem-se pelo menos duas coisas: a primeira é que há muita variação, especialmente de pronúncia ou sotaque; a segunda, bem mais curiosa, deixando os detalhes de lado, refere-se ao fato de que, quanto menos “letrados” são os cantores, mais eles corrigem a letra, confirmando a tese de que a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante.
(http://goo.gl/QTUzd. Acesso: 28/03/2013. Adaptado.)
O que as correções feitas pelos intérpretes na pronúncia da letra “Cuitelinho” revelam acerca da relação entre ideologia e variação linguística?
“Cuitelinho” é o título de belíssima canção “folclórica”, já gravada por dezenas de cantores. Sua letra é corpus muito interessante para quem quiser saber como é o português falado no Brasil. Sendo música do folclore, tem evidentemente muitas características da gramática do português popular. Ouvindo as diversas gravações, descobrem-se pelo menos duas coisas: a primeira é que há muita variação, especialmente de pronúncia ou sotaque; a segunda, bem mais curiosa, deixando os detalhes de lado, refere-se ao fato de que, quanto menos “letrados” são os cantores, mais eles corrigem a letra, confirmando a tese de que a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante.
(http://goo.gl/QTUzd. Acesso: 28/03/2013. Adaptado.)
O que as correções feitas pelos intérpretes na pronúncia da letra “Cuitelinho” revelam acerca da relação entre ideologia e variação linguística?
Q1405069
Português
Texto associado
Cuitelinho
Cheguei na beira do porto
Onde as onda se espaia
As garça dá meia volta
E senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia ai ai
Ai quando eu vim
da minha terra
Despedi da parentaia
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaias
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes bataia ai ai
A tua saudade corta
Como aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma a outra faia
E os óio se enche d’água
Que até a vista se atrapaia ai
(http://goo.gl/vsUiC. Acesso: 14/03/2013. Adaptado.)
Esse texto está expresso em uma variante linguística fundamentada em um fator