Nomofobia: uso exagerado das redes sociais pode gerar quadro de vício
A utilização de equipamentos eletrônicos é cada vez mais crescente na sociedade, ajuda em várias atividades do dia a dia
e auxilia, inclusive, na comunicação entre as pessoas. Porém, o uso exagerado, principalmente das redes sociais, pode gerar um
quadro de vício, que se caracteriza pela angústia e pelo desconforto gerados pela falta de acesso à comunicação via internet.
Apesar de ainda não ser uma patologia classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), essa condição é chamada de
nomofobia e os comportamentos desencadeados são um alerta para essa imersão da população em um mundo altamente
conectado.
A psicóloga Mirlene Mattos explica que essa patologia pode afetar várias áreas da vida do indivíduo. “Pode atrapalhar o
desempenho social, educacional, profissional, convívio com família e amigos, além de interferir cognitivamente”, explica.
Nesse caso, a utilização da internet pode começar por necessidade real, distração ou para fugir do tédio, mas, com o passar
do tempo, se torna um mecanismo de fuga da realidade. Segundo a psicóloga Amanda Medeiros, em quadros mais agravados,
há uma perda de sentidos da realidade, então o indivíduo não consegue identificar um cenário fora dessas redes e para além
da interação digital.
Além disso, os estímulos rápidos ocasionam a liberação de dopamina pelo cérebro, conhecida como hormônio do prazer
e da satisfação. À primeira vista, pode parecer bom, mas o uso exagerado cria um ciclo que faz o cérebro buscar cada vez mais
essa sensação.
Como na maioria das dependências, a nomofobia também é causada por muitos fatores. O contexto de vinculação
excessiva das tecnologias no dia a dia é um dos motores para o aparecimento da condição, uma vez que elas possuem a potência
de tirar os sujeitos do presente e direcionar para algo que, muitas vezes, é mais confortável que a realidade. Essa necessidade
humana de prazer e de se sentir bem é o ponto que a psicóloga Amanda Medeiros destaca como motivador para o aparecimento
da condição.
A ansiedade e a agonia provocadas por estar separado de dispositivos com acesso a redes sociais, ou apenas de imaginar
esse cenário, são os principais indicativos da nomofobia. A verificação constante do celular, a incapacidade de se afastar do
aparelho ou o medo de perder contato com internet são outros sinais dessa fobia. “Os sintomas podem ir desde o emocional
até o físico, como estresse, irritabilidade, angústia, solidão, dor de cabeça, dor ou pressão no peito, tontura e falta de ar”,
enumera a psicóloga Mirlene Mattos.
Amanda explica que esse estresse causado pelo medo de ficar incomunicável dificulta a manutenção e a criação de novas
relações humanas. “Em caráter comportamental, essa pessoa pode evitar estar em ambientes onde seja impossibilitada de usar
o celular”, exemplifica a especialista.
Os indivíduos mergulhados nesse vício acreditam que não podem se desconectar da internet e possuem um medo irracional
dessa separação. Isso afeta na conclusão de tarefas do cotidiano e aumenta a procrastinação. Além disso, pode atrapalhar o sono,
gerando cansaço físico.
Em um mundo altamente conectado, a procura de uma prevenção contra essa fobia é difícil, mas não impossível. Profissionais indicam um consumo mais consciente em relação ao conteúdo, ao tempo e à frequência de acesso à internet.
Além disso, o vício pode ser desencadeado por questões psicológicas prévias. A sensibilidade dos indivíduos nesses quadros
e o aparente apoio que as redes geram agravam a necessidade dessa fuga, característica principal da patologia. O tratamento
psicológico é interessante para que esses transtornos mentais não sejam gatilhos para o desenvolvimento da fobia.
O apoio emocional de amigos e familiares também ajuda no tratamento. A tentativa de criar relacionamentos, sem ser no
digital, e investir nos ciclos sociais, em que o indivíduo se sinta bem e seguro, é importante no processo de melhora. “A ressignificação desse símbolo de segurança e a promoção de vínculos saudáveis também em caráter presencial são essenciais para
uma vida plena”, ressalta Amanda.
(Iandara Pimentel Santana. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/revista-do-correio/2023/10. Acesso em: junho de 2024.)