Elas vão substituir você
Quando, em 1956, o cientista da computação americano
John McCarthy cunhou o termo “inteligência artificial”, durante
uma conferência na universidade de Dartmouth, nos Estados
Unidos, a intenção já era desenvolver máquinas capazes de
livrar os seres humanos de tarefas de alguma complexidade,
porém largamente enfadonhas.
“A proposta é usar todo o nosso conhecimento para
construir um programa de computador que saiba e, também,
conheça”, resumiu McCarthy, expressando uma ambição
que vem de muito antes de ele proferir tais palavras. Uma
narrativa mitológica judaica, por exemplo, já apresentava,
milênios atrás, a ideia de um ser artificial pensante, o Golem,
feito de barro e que serviria os humanos. Na Idade Média,
alquimistas chegaram a sonhar em dar vida à criatura por
eles batizada de Homunculus. Era apenas um devaneio que
o tempo e a ciência se encarregaram de trazer para o plano
das realidades.
E a inteligência artificial (IA) de hoje em dia, tal como foi
formulada por McCarthy, é a concretização dessa aspiração
que se confunde com a história. No entanto, no momento em
que a humanidade parece estar perto de construir um robô
capaz de substituir o homem em um sem-número de atividades – o Golem do século XXI –, o que poderia ser motivo de
unânime comemoração arrasta consigo o pavor de que tais
softwares deixem milhões de seres humanos desempregados. A preocupação é tamanha que o tema ganhou lugar de
destaque na agenda do Fórum Econômico Mundial – evento
anual que reúne líderes políticos e empresariais em Davos.
Segundo levantamento feito pela organização do fórum, a
soma de empregos perdidos para a IA será de 5 milhões nos
próximos dois anos. No estudo, as áreas de negócios mais
afetadas serão as administrativas e as industriais.
Um estudo publicado pela consultoria americana
McKinsey avalia que em torno de 50% das atividades tidas
como repetitivas serão automatizadas na próxima década.
Nesse período, no Brasil, 15,7 milhões de trabalhadores
serão afetados pela automação. Em todo o mundo, o legado
da mecanização avançada será de até 800 milhões de
pessoas à procura de oportunidades de trabalho. Desse
total, boa parte terá de se readaptar, mas 375 milhões deverão aprender competências inteiramente novas para não cair
no desemprego.
Nem tudo, entretanto, é pessimismo. Os economistas
ingleses Richard e Daniel Susskind, ambos professores de
Oxford, defendem a ideia de que quando atribuições são
extintas, ou modificadas, os seres humanos se transformam
no mesmo ritmo. “O benefício é que os profissionais farão
mais, em menos tempo”, defendem. Para eles, a bonança
tecnológica levará à criação de novos tipos de emprego.
(Veja, 31.01.2018. Adaptado)