Elas estão levando a cultura indígena para a universidade
Conheça quatro brasileiras que têm se destacado na área acadêmica com os saberes de seus
povos
Pietra, Rute, Naine e Kellen têm algo em comum além de serem mulheres indígenas. Com
carreiras acadêmicas e/ou de pesquisadoras em plena ascensão, elas almejam honrar os
ancestrais, compartilhar ensinamentos de seus povos de origem e, sobretudo, contribuir
para (re)contar a história dos indígenas no Brasil sob outros pontos de vista - os de quem cresceu
em aldeias e entendem as lutas na pele.
O ambiente da faculdade, para elas, é mais do que um compromisso ou uma oportunidade:
é outro território que, sim, a despeito das dificuldades, também lhes pertence.
Pietra Dolamita (Kowawa Kapukaja)
"Eu sou o sonho dos meus ancestrais", define Pietra Dolamita/Kowawa Kapukaja, indígena
da etnia Apurinã oriunda do Médio Purus, no sul do Amazonas. A fala potente expressa não só
orgulho, mas gratidão pela construção de uma carreira acadêmica em várias vertentes.
Formada em Direito pelo Universidade Católica de Pelotas (UCPel) em 2004, ela também
é mestra em Antropologia Social pela mesma instituição e em Educação pelo Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul). Atualmente, se dedica ao doutorado
sanduíche em Antropologia Social na Universidade Federal Fluminense (UFF) em parceria com a
Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3.
Rute Anacé
Nascida na reserva indígena Taba dos Anacé, no Ceará, desde menina Rute, hoje com 25
anos, sabia que no futuro seria pesquisadora e concentrou todas as energias e esforços que pôde
para realizar o objetivo. "Aos 17 anos, entrei no bachelarado de Ciências Sociais na Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia sabendo o que queria falar, fazer e pesquisar. Para mim, a
universidade sempre foi um ambiente estratégico para contar outro viés da História, um viés
epistemológico da luta indígena", afirma.
Determinada, chegou - literalmente - longe. Hoje Rute Anacé vive na Espanha, onde faz
doutorado em Ciências Sociais na prestigiada Universidad de Salamanca. A fonte de sua pesquisa
é o povo Anacé e sua luta por território, tema que também permeou seu trabalho de conclusão de
curso da graduação.
Naine Terena
A ativista, educadora, artista e pesquisadora indígena do povo Terena possui um currículo
invejável. Não à toa, foi convidada por Fabiano Piuba, Secretário de Formação Cultural, Livro e
Leitura do Ministério da Cultura para ser diretora de Educação e Formação Artística do MinC.
"Meu plano atual é contribuir com esse campo em reconstrução", diz ela, que nasceu em Cuiabá
(MT) e hoje mora em Brasília (DF).
Kellen Natalice Vilharva (Xamiri Hu’y Rendy)
Nascida em Japorã (MS), a bióloga faz parte da etnia Guarani Kaiowá e viveu na reserva
indígena de Jaguapiru, em Dourados. Hoje mora em Campinas (SP), onde faz doutorado no
Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Sempre gostei das áreas biológicas, desde o
Ensino Médio. Me identifiquei com o curso e passei na Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul. As áreas da Biologia são várias, o que eu gosto e trabalho hoje em dia é a Etnofarmacologia.
A pesquisa que venho desenvolvendo é relacionada às plantas medicinais e à medicina tradicional
do meu povo Guarani Kaiowá", conta.
(https://www.terra.com.br/nos/elas-estao-levando-a-cultura-indigena-para-auniversidade,58f31dcfb4fabf1ccb4a9219386522bcx3b2t93q.html)