O texto a seguir é referência para a questão.
[...] O Brasil linguístico que vigorou até meados do século XVIII, no qual as línguas gerais ocupavam um espaço definitivo e se
difundiam rumo ao sertão a partir de dois grandes núcleos, Amazônia e entorno de São Paulo, acabou sendo substituído por um
espraiamento do português vinculado diretamente ao Nordeste, à lavoura que se servia da mão de obra escrava, aos negros
africanos. Nessa situação, fica nítido que eles teriam sido a linha de frente da real lusitanização do território, ao mesmo tempo que
iam transformando a língua aprendida numa coisa efetivamente nova, depois levada para outros pontos do país à medida que os
ciclos econômicos se sucediam, cada um com seu centro num ponto diferente do território.
Se é para pensarmos no português brasileiro como algo que se encontra num caldeirão, é preciso reconhecer quanto o conteúdo
desse caldeirão teve que ser mexido e remexido para produzir nossa atual paisagem linguística. E é preciso reconhecer também
que os primeiros e mais importantes desses movimentos foram determinados pela grande massa de falantes africanos que iam
carregando e modificando essa língua durante todo o processo. Refundado e recaracterizado por eles.
Apesar das adversidades, foi a língua falada por negros e mestiços que dominou o Brasil. Somos um país que fala português como
fruto direto dessa presença negra.
Talvez caiba deixar de lado por um momento a bela ideia da “última flor do Lácio”. O português brasileiro foi um broto africano, flor
de Luanda.
GALINDO, Caetano. Latim em pó. Companhia das Letras, 2023. p. 181-182.
lusitanização: diz-se das coisas referentes à colonização portuguesa. In: https://www.dicionarioinformal.com.br/
última flor do Lácio: a expressão “Última flor do Lácio, inculta e bela” é o primeiro verso de um famoso poema de Olavo Bilac, poeta brasileiro que
viveu no período de 1865 a 1918, e refere-se à filiação da língua portuguesa ao latim. In: https://www.jussiup.com.br/2019/04/ultima-flor-do-lacioinculta-e-bela.html
Luanda: capital de Angola, costa oeste da África do Sul