Mitigar o perigoso desfecho dos jovens nem-nem?
O fenômeno dos jovens nem-nem, aqueles que nem trabalham nem estudam, é uma preocupação crescente, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Estudos recentes, incluindo dados do IBGE de 2022, mostram que cerca
de 20% dos jovens entre 15 e 29 anos se enquadram nesta categoria, ressaltando a necessidade urgente de abordagens inovadoras e eficazes.
Eles representam uma parcela significativa da população jovem, configurando um desafio para o país que aspira prosperar.
Diante deste cenário, diversas estratégias têm sido propostas e implementadas, tanto globalmente quanto no contexto brasileiro - apesar de em nosso país ser mais ‘estrutural’ o menor empenho das políticas educacionais voltadas para o adolescente.
Lembro-me de algumas palestras que ministrei em Brasília a convite de Anna Penido, que estava empenhada no fundamental 2, quando poucas eram as ações relevantes para esta fase. Neste Seminário Internacional Desafios e Oportunidades
para os Anos Finais do Ensino Fundamental, de 2017, promovido pelo Ministério da Educação, em parceria com o Banco Mundial, Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e o Instituto Inspirare, o evento reuniu adolescentes, especialistas e
gestores educacionais de todo o país para debater os desafios e as possibilidades para os anos finais do ensino fundamental.
Pena que pouco caminhamos desde então, pois potencializado pela pandemia, está menos provável a chegada do
adolescente ao ensino médio, quiçá sua conclusão.
No entanto, o ensino técnico tem se mostrado uma solução promissora em vários países. Na Alemanha, o sistema de
ensino técnico dual tem sido extremamente eficaz na preparação dos jovens para o mercado de trabalho. No Brasil, a valorização e promoção do ensino técnico como uma alternativa viável poderia oferecer caminhos claros para emprego e realização
profissional. Programas de qualificação profissional, especialmente para jovens de baixa renda, são essenciais para aumentar a
empregabilidade.
Exemplos como os Centros de Formação Profissional na Coreia do Sul mostram como esses programas podem ser efetivos.
No Brasil, a adaptação desses modelos poderia envolver parcerias entre governos, instituições educacionais e setor privado.
Além disso, intervenções focadas na juventude, que incluem orientação profissional, desenvolvimento e treinamento de habilidades cognitivas e socioemocionais e apoio no desenvolvimento de projetos de vida, são fundamentais.
Políticas públicas integradas que combinem educação, saúde, assistência social e desenvolvimento econômico podem
atender às necessidades específicas dos jovens nem-nem. Essa abordagem integrativa é essencial para criar um ambiente
propício ao desenvolvimento juvenil.
No Brasil, a implementação de políticas inspiradas em modelos bem-sucedidos de outros países, adaptadas ao contexto
local, pode oferecer novas oportunidades para os jovens. Isso inclui a expansão do acesso ao ensino técnico e profissionalizante,
bem como a criação de programas de mentorias e estágios que facilitem a transição para o mercado de trabalho.
Além disso, fortalecer o suporte à saúde mental dos jovens, oferecendo serviços acessíveis e eficazes, pode ajudar a mitigar
os fatores que contribuem para a marginalização dessa população. Investir em programas de qualificação profissional e na
reformulação do sistema educacional é crucial. Estes programas devem focar em habilidades práticas e técnicas, bem como as
soft skills: planejamento, organização e resolução de problemas. O objetivo é equipar os jovens com as ferramentas necessárias
para navegar no mercado de trabalho contemporâneo.
A solução para o desafio dos jovens nem-nem não é simples… e ‘nem’ impossível. Reforço: com abordagens inovadoras e
colaborativas, baseadas em modelos bem-sucedidos de outros países e adaptadas à realidade brasileira, é possível criar um
caminho para que esses jovens não apenas encontrem seu lugar na sociedade, mas também contribuam ativamente para o
crescimento e o desenvolvimento do país.
Ao investir em educação, suporte psicossocial e oportunidades econômicas, podemos ficar mais perto em garantir que
todos os jovens tenham o fundamental: a chance de um futuro mais promissor e equitativo.
(Adriana Fóz. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br. Acesso em: 05/02/2024.)