Responda à questão com base no seguinte
texto:
A uma légua, pouco mais ou menos, da antiga vila de
Tamanduá, na província de Minas Gerais, e a pouca
distância da estrada que vai para a vizinha vila da Formiga,
via-se, há de haver quarenta anos, uma pequena e pobre
casa, mas alva, risonha e nova. Uma porta e duas
janelinhas formavam toda a sua frente. Um estreito
caminho, partindo da porta da casa, cortava o vargedo e ia
atravessar o capão e o córrego, por uma pontezinha de
madeira, fechada do outro lado por uma tronqueira de
varas. Junto à ponte, de um lado e outro do caminho,
viam-se duas corpulentas paineiras, cujos galhos,
entrelaçando-se no ar, formavam uma arcada de verdura,
à entrada do campo onde pastava o gado. Era uma bela
tarde de janeiro. Dois meninos brincavam à sombra das
paineiras: um rapazinho de doze a treze anos e uma
menina, que parecia ser pouco mais nova do que ele. A
menina era morena; de olhos grandes, negros e cheios de
vivacidade, de corpo esbelto e flexível como o pendão da
imbaúba. O rapaz era alvo, de cabelos castanhos, de olhar
meigo e plácido e em sua fisionomia como em todo o seu
ser transluziam indícios de uma índole pacata, doce e
branda.A menina, sentada sobre a relva, despencava um
molho de flores silvestres de que estava fabricando um
ramalhete, enquanto seu companheiro, atracando-se como
um macaco aos galhos das paineiras, balouçava-se no ar,
fazia mil passes e piruetas para diverti-la. Perto deles,
espalhados no vargedo, umas três ou quatro vacas e mais
algumas reses estavam tosando tranquilamente o fresco e
viçoso capim. O sol, que já não se via no céu, tocava com
uma luz de ouro os topes abaulados dos altos espigões;
uma aragem quase imperceptível mal rumorejava pelas
abas do capão e esvoaçava por aquelas baixadas cheias
de sombra.
Autor: Bernardo Guimarães. Trecho extraído da obra O
Seminarista.