Questões de Concurso Público SEE-MG 2015 para Professor de Educação Básica - Nível I - Grau A - Língua Portuguesa

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Q487199 Português
Texto I

                        Ler devia ser proibido

      A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
      Afinal de contas, ler faz muito mal as pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que Ihe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu- se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
      Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
      Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: O conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
      Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que Ihe é devido.
      Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
      Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
      Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
      O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria urn livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversive do que a leitura?
      É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova... Ler deve se coisa rara, não para qualquer um.
      Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
      Para obedecer não é preciso enxergar, o silencio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
      Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
      Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

                                                                                                                              (Guiomar de Grammon)


Tendo em vista o sentido global do texto, assinale a alternativa cuja frase sintetize a tese do texto:
Alternativas
Q487238 Português
A proposta curricular da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais trata de tópicos a serem desenvolvidos pelo professor. Entre os estudos, destacam-se as vozes do texto. Sobre o ensino desse tópico, analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta.

I. Um dos aspectos do funcionamento discursivo refere-se as vozes que perpassam o discurso, ou seja, reconhecer que sujeitos representam as vozes presentes no texto e saber que quem fala sempre é o autor da voz.
II.Uma das principals condições para aprender vozes do verbo refere-se a compreensão de que se há sujeitos que se enunciam; esses sujeitos falam de lugar determinado. Essa relação de pertencimento a um determinado espaço social encontra-se afetada pela ideologia. Este é o foco central: saber que os sujeitos que enunciam são portadores de outras vozes, além da própria voz.
III. Muito frequentemente, o aluno toma autor e locutor como termos sinônimos.

Estão corretas as afirmativas:
Alternativas
Q487239 Português
Para o ensino das vozes do texto, o Centro de Referência Virtual do Professor, criado pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, propõe atividades como identificar vozes locutoras no texto e seus respectivos alocutários. Em relação às atividades propostas, assinale a alternativa incorreta.
Alternativas
Q487240 Português
No Eixo Temático I da Proposta Curricular do Conteúdo Básico Comum (CBC), é previsto o estudo do tópico Modalização e argumentatividade. Sobre o ensino desse tema, analise as afirmativas e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).

( ) 0 estudo de recursos de modalização da língua não favorece a compreensão de enunciados e textos, mas sim o uso argumentativo que se pode fazer deles.
( ) Modalização e a possibilidade de qualquer voz deixar no texto pistas de sua perspectiva diante de algum conteúdo temático, de suas intenções e grau de comprometimento com o que diz, o que, por sua vez, orienta o destinatário previsto na construção de um “retrato” da enunciação.
( ) 0 aluno deve compreender e usar, produtiva e autonomamente, mecanismos de modalização e argumentatividade em textos de diferentes gêneros.
( )A maneira como o locutor pronuncia as palavras e os enunciados não é índice de modalização.
( ) Na língua escrita, para obter efeitos de sentido similares aos prosódicos, usamos marcações gráficas: sinais de pontuação, aspas, negritos e itálicos, variação de fonte ou tipo de letra, de tamanho ou corpo da fonte etc.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.

Alternativas
Q487241 Português
O conceito de modalização deve ser bem estruturado junto à classe, variando as atividades e os exemplos, que devem ser sempre apresentados em enunciados e textos. Sobre o ensino desse tópico, analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta.

I. O professor deve comparar critérios de classificação dos recursos de modalização do grupo ou turma com os critérios sistematizados por estudiosos e pesquisadores e apresentados.
II. Os alunos devem ter acesso a listas prontas de modalizadores para memorizá-las.
III. Em provas, o professor deve evitar questões apenas de classificação dos recursos de modalização, preferindo aquelas que avaliem a compreensão do texto pelo aluno e aquelas em que ele faça uso consciente de algum recurso para modalizar textos.

Estão corretas as afirmativas:
Alternativas
Respostas
1: C
2: B
3: D
4: A
5: A