Leia o texto a seguir para responder à questão.
PRÉ-SAL
Antônio Prata
Dizem que otimista é o cara que vê o copo meio cheio, enquanto pessimista é quem o enxerga meio vazio. A
imagem é batida, mas vem a calhar, pois não é outro o tema desta crônica senão a água. Muita água. Trilhões
de litros de H2O, que serão acrescidos aos oceanos nas próximas décadas, quando as calotas polares
derreterem.
Os pessimistas, claro, só conseguem ver o lado ruim da mudança climática: a morte de milhões de pinguins,
focas, leões marinhos, ursos polares e a extinção de algumas espécies desconhecidas; o alagamento de certas
cidades litorâneas como Rio de Janeiro, Nova York, Xangai, Veneza, Barcelona e a perda de boa parte do
patrimônio histórico e cultural da humanidade; o aumento de catástrofes naturais como tufões, furacões, dilúvios,
enchentes e a desgraça humana decorrente desses aguaceiros. OK. O Rio é legal. As focas e a Piazza San
Marco, também. Mas focar-se (sem trocadilho) apenas nos aspectos negativos da lambança climática impedenos de perceber outros acontecimentos maravilhosos que se avizinham. Praia em São Paulo, por exemplo.
Claro que a tese ainda não é um consenso entre a comunidade científica. Alguns estudiosos, desses que só
conseguem ver a parte vazia do copo, afirmam que, por mais que a gente queime todo o petróleo existente, o
aumento do nível dos oceanos será apenas de alguns metros. Cientistas de ânimo mais solar, contudo, garantem
que o que conhecemos como Polo Norte é, literalmente, apenas a ponta do iceberg e, se tudo der certo, antes
de 2020, vai ter prédio na Berrini com vista pro mar.
Quanta coisa boa há de acontecer! Já pensou que belo cartão postal, a ponte estaiada com praia ao fundo? E
seus filhos colhendo mexilhões nos pés do Borba Gato? Consigo ver, facilmente, a 23 de Maio tomada por
ambulantes, vendendo óleo bronzeador, canga, Shhhhkol e Biscoito Globo. O Morumbi, com as casonas nas
colinas, debruçadas sobre o mar, será a Beverly Hills paulistana. E nossos restaurantes, já tão afamados, o que
não farão com peixes fresquinhos e frutos do mar, trazidos diretamente pela comunidade caiçara de Santo
Amaro? O lago do Ibirapuera não teve sempre a vocação para ser a nossa Rodrigo de Freitas? E qual o sonho
da Vila Nova Conceição, senão tornar-se a Barra da Tijuca?
Cruzemos os dedos, meus queridos paulistanos, pois muito em breve, quando as margens plácidas do Ipiranga
ouvirem um estrondo, não será o brado retumbante de um povo heroico, mas o som das ondas quebrando na
Avenida do Estado. E, nesse instante, o sol da liberdade, com seus raios fúlgidos, dourará os corpos estirados à
beira-mar. E ainda tem gente preocupada com o futuro. Tsc tsc...