INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder à quesão.
A utilidade da ciência inútil
“A arte é inútil”. Com esta frase, Chico Buarque inicia
o DVD Romance. A explicação vem logo em seguida:
uma música não é composta pensando-se em para que
serve. Porém, através das letras e canções as pessoas
que não falam português podem aprender a língua, e a
melodia pode servir de fundo musical para um namoro.
Recentemente, um texto publicado na Folha de S. Paulo
se contrapôs à utilização de verba pública para o
financiamento do telescópio James Webb. O cerne da
argumentação baseou-se na relação custo / benefício
para a sociedade, tendo como foco a utilidade da
pesquisa básica. É a famosa questão: “para que serve
isso?”. O questionamento, feito normalmente por
estudantes de primeiros anos, é ouvido com frequência
por professores de disciplinas básicas.
A máxima irônica “Para que serve um recém-nascido?”,
proferida por cientistas como Benjamin Franklin e
Michael Faraday, [...] revela a miopia de quem exige que,
para justificar o estudo e o investimento em pesquisa
básica, alguma utilidade imediata deve estar prevista.
De acordo com a lógica da serventia, a pesquisa básica de
Max Planck, um dos precursores da mecânica quântica
lá no início do século 20, nunca teria sido fomentada.
Vários conceitos estudados lá atrás, sem nenhuma
aplicação naquele momento, hoje dão suporte para o
desenvolvimento de lasers e aparelhos de ressonância
magnética para a medicina, por exemplo.
Exemplos de descobertas científicas feitas por mero
acaso, durante o desenvolvimento de algum projeto,
são tão frequentes que trouxeram para o universo
da ciência o termo “serendipidade”. A palavra consta
no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
De acordo com o dicionário Priberam, o termo significa
“a faculdade ou o ato de descobrir coisas agradáveis
por acaso”.
É claro que nem todo projeto dará início a uma revolução
científica. Assim como a maioria da população não dará
uma contribuição para a Humanidade como Marie Curie
ou Isaac Newton. A dificuldade é saber quando será
produzida alguma descoberta que dará uma grande
contribuição para a Humanidade.
Nesse raciocínio, é importante que as agências de
fomento reservem parte da verba disponível para
assumir, inclusive, o custo de uma pesquisa básica
mal-sucedida.
YAMASHITA, Marcelo Takeshi. A utilidade da ciência inútil.
Jornal da Unesp, 2022. Disponível em: https://jornal.unesp.
br/2022/10/20/a-utilidade-da-ciencia-inutil/.
Acesso em: 16 jun. 2023. [Fragmento]