A arte
A arte acompanha o ser humano desde
sempre. Defini-la, contudo, é tarefa difícil. Sobre ela
não existe um conceito universalmente pacífico. Os
clássicos buscavam entendê-la. Aristóteles a conceitua
como disposição permanente para produzir coisas de
um modo racional. Platão, por sua vez, como
capacidade de fazer algo por meio da inteligência,
através de um aprendizado. A arte para ele tem na
capacidade criadora do ser humano seu sentido geral.
O Renascimento proporcionou mudança na
mentalidade conceitual da arte ao separá-la dos ofícios
e das ciências. À época a poesia, por exemplo, passou
a ser considerada arte ao invés de um tipo de filosofia
ou mesmo profecia. A partir daí nota-se inclusive uma
melhora na percepção e na situação social do artista,
pois os nobres e os ricos europeus aguçaram seus
interesses pela beleza. A arte consagra-se como um
objeto de consumo estético da nobreza e das altas
classes sociais.
O romantismo culminou no século 19 com a
ideia de que a arte surge espontaneamente do
indivíduo, pois a obra artística emerge do interior do
artista e de sua própria linguagem natural. Valoriza-se
a sensibilidade e a fantasia. Arthur Schopenhauer
afirmou que a arte é uma via de escape do estado de
infelicidade do próprio homem, já que a arte é a
reconciliação entre a vontade e a consciência, entre o
objeto e o sujeito, alcançando um estado de
contemplação, de felicidade. Finalmente, a arte fala o
idioma da intuição, não o da reflexão. É ela uma forma
de liberar-se da vontade, de ir além do eu.
O esteticismo de finais do século 19 é uma
reação ao materialismo advindo com a Revolução
Industrial. Charles Baudelaire aponta vir a beleza da
paixão e, como cada indivíduo tem sua própria paixão,
também tem seu próprio conceito de beleza. Para ele
o artista é o herói da modernidade, cuja qualidade
principal é a melancolia, que é o anseio pela beleza
ideal.
No Brasil, entre 11 e 18 de fevereiro de 1922,
artistas propuseram uma nova visão de arte à luz de
uma estética inovadora inspirada na vanguarda
europeia, evento esse que, embora nascido em São
Paulo, ficou nacionalmente conhecido como a Semana
da Arte Moderna: uma manifestação artística cultural
que reuniu apresentações de danças, esculturas,
músicas, poesias e recitais. Uma ação que impactou e transformou a arte modernista brasileira. Tratou-se,
não há dúvidas, de uma emancipação estética
patrocinada por artistas, escritores, músicos e pintores.
Se para São Tomás de Aquino a arte é o reto
ordenamento da razão, para Pablo Picasso, a arte é a
mentira que nos ajuda a ver a verdade. Ambos estarão
certos. Quiçá, por isso, se aceita o conceito de arte
englobar todas as criações realizadas pelo ser humano
para expressar sua visão mais sensível acerca do
mundo, seja real ou imaginário. Através da arte o ser
humano expressa ideias, emoções, percepções e
sensações. Em consequência, a arte liberta e
emancipa.
A arte engloba arquitetura, cinema, dança,
desenho, escultura, fotografia, literatura, música,
pintura, poesia. Hoje em dia, em pleno século 21, até
mesmo a televisão, a moda, a publicidade e os
videojogos são por muitos considerados como
manifestações artísticas. Segundo René Huyghe, a
arte e o homem são indissociáveis. Não há arte sem
homem, muito menos homem sem arte. O ser isolado
ou a civilização que não chega à arte estão
ameaçados por uma secreta asfixia espiritual, por uma
turbação moral. Para a Unesco, a arte é chave para
formar gerações capazes de reinventar o mundo
herdado. Ela reforça a vitalidade das identidades
culturais e promove a relação com outras
comunidades.
A arte é a capacidade humana de criação. É a
expressão ou aplicação de habilidades criativas e a
imaginação para criar obras que são apreciadas
principalmente por sua beleza, intelecto ou poder
emocional. Seus resultados são obtidos por distintos
meios. A arte de cozinhar, de pintar quadros, de
grafitar, as artes plásticas, a arte de compor (poemas e
partituras musicais), a gravura, a impressão de livros e,
até mesmo, atrelados a um conceito mais severo,
meios hoje em dia causadores de grande repulsa
social, como a caça e a guerra, podem ser
considerados como arte. O ser humano e a arte estão
rigorosamente conectados. A arte liberta. E,
atualmente, a arte de viver cada vez mais se faz
indispensável para a emancipação humana.
Renato Zerbini Ribeiro Leão. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opini
ao/2020/01/26/internas_opiniao,823467/artigo-aarte.shtml (Adaptado)