O texto mais célebre de A República é sem dúvida a
Alegoria da Caverna, em que Platão, utilizando-se de
linguagem alegórica, discute o processo pelo qual o ser humano
pode passar da visão habitual que tem das coisas, “a visão das
sombras”, unidirecional, condicionada pelos hábitos e
preconceitos que adquire ao longo de sua vida, até a visão do Sol,
que representa a possibilidade de alcançar o conhecimento da
realidade em seu sentido mais elevado e compreendê-la em sua
totalidade. A visão do Sol representa não só o alcance da
Verdade e, portanto, do conhecimento em sua acepção mais
completa, já que o Sol é “a causa de tudo”, mas também, como
diz Sócrates na conclusão dessa passagem: “Nos últimos limites
do mundo inteligível, aparece-me a ideia do Bem, que se percebe
com dificuldade, mas que não se pode ver sem se concluir que ela
é a causa de tudo o que há de reto e de belo. Acrescento que é
preciso vê-la se se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida
privada, seja na vida pública.”.
De acordo com este texto, a possibilidade de um indivíduo
tornar-se justo e virtuoso depende de um processo de
transformação pelo qual deve passar. Assim, afasta-se das
aparências, rompe com as cadeias de preconceitos e
condicionamentos e adquire o verdadeiro conhecimento. Tal
processo culmina com a visão da forma do Bem, representada
pela matéria do Sol. O sábio é aquele que atinge essa percepção.
Para Platão, conhecer o Bem significa tornar-se virtuoso. Aquele
que conhece a justiça não pode deixar de agir de modo justo.
Danilo Marcondes. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault.
1ª ed. Rio de Janeiro: Jahar, 2007, p. 31 (com adaptações).