Alguns linguistas acreditam que o Homo erectus, há mais
ou menos 1 milhão e meio de anos, já tinha uma linguagem. Os
argumentos que eles dão são que o Homo erectus tinha um
cérebro relativamente grande e usava ferramentas de pedra
primitivas, porém bastante padronizadas. Essa hipótese pode ser
verdadeira, mas pode também estar bem longe do correto.
O uso de ferramentas certamente não requer linguagem.
Chimpanzés usam galhos como ferramentas para caçar cupins, ou
pedras para quebrar nozes. Obviamente, mesmo as ferramentas
mais primitivas do Homo erectus (pedras lascadas) são muito
mais sofisticadas que qualquer coisa usada por chimpanzés, mas
ainda assim não há uma razão convincente para crer que essas
pedras não pudessem ter sido produzidas sem linguagem.
O tamanho do cérebro é igualmente problemático como
indicador da presença de linguagem, porque ninguém tem uma
boa ideia de quanto cérebro exatamente é necessário para a
linguagem. Além disso, a capacidade para a linguagem pode ter
permanecido latente no cérebro por milhões de anos, sem ter sido
de fato colocada em uso.
Guy Deutscher. O desenrolar da linguagem. Renato Basso e Guilherme Henrique May (Trad.).
Campinas: Mercado de Letras, 2014, p. 28-29 (com adaptações).