As tecnologias de contar e escrever histórias não seguiram
um caminho linear. A própria escrita foi inventada pelo menos
duas vezes, primeiro na Mesopotâmia e depois nas Américas. Os
sacerdotes indianos se recusavam a escrever as histórias sagradas
por medo de perder o controle sobre elas. Professores
carismáticos (como Sócrates) se recusaram a escrever. Algumas
invenções posteriores foram adotadas somente de forma seletiva,
como quando os eruditos árabes usaram o papel chinês, mas não
demonstraram nenhum interesse por outra invenção chinesa, a
impressão. As invenções relacionadas à escrita tinham muitas
vezes efeitos colaterais inesperados. Preservar textos antigos
significava manter vivas artificialmente as línguas. Desde então,
passou-se a estudar línguas mortas e alguns textos acabaram
sendo declarados sagrados.
Martin Puchner. O mundo da escrita: como a literatura transformou a civilização.
Pedro Maia Soares (Trad.). São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 18 (com adaptações).