Questões de Concurso
Comentadas sobre português para prefeitura de orlândia - sp
Foram encontradas 40 questões
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Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Provas:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Consultor Jurídico
|
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Engenheiro Civil |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Terapeuta Ocupacional |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicopedagogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Nutricionista |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico Veterinário |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fonoaudiólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fisioterapeuta |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Enfermeiro |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Dentista A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Contador |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Assistente Social |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Arquiteto Urbanista |
Q2160549
Português
Texto associado
Os idiotas da objetividade
Sou da imprensa anterior ao copy desk. Tinha treze anos
quando me iniciei no jornal, como repórter de polícia. Na redação não havia nada da aridez atual e pelo contrário: — era uma
cova de delícias. O sujeito ganhava mal ou simplesmente não
ganhava. Para comer, dependia de um vale utópico de cinco ou
dez mil-réis. Mas tinha a compensação da glória. Quem redigia
um atropelamento julgava-se um estilista. E a própria vaidade
o remunerava. Cada qual era um pavão enfático. Escrevia na
véspera e no dia seguinte via-se impresso, sem o retoque de
uma vírgula. Havia uma volúpia autoral inenarrável. E nenhum
estilo era profanado por uma emenda, jamais.
Durante várias gerações foi assim e sempre assim. De
repente, explodiu o copy desk. Houve um impacto medonho.
Qualquer um na redação, seja repórter de setor ou editorialista, tem uma sagrada vaidade estilística. E o copy desk não
respeitava ninguém. Se lá aparecesse um Proust, seria reescrito do mesmo jeito. Sim, o copy desk instalou-se como a
figura demoníaca da redação.
Falei no demônio e pode parecer que foi o Príncipe das
Trevas que criou a nova moda. Não, o abominável Pai da Mentira não é o autor do copy desk. Quem o lançou e promoveu foi
Pompeu de Sousa. Era ainda o Diário Carioca, do Senador, do
Danton. Não quero ser injusto, mesmo porque o Pompeu é meu
amigo. Ele teve um pretexto, digamos assim, histórico, para
tentar a inovação.
Havia na imprensa uma massa de analfabetos. Saíam as
coisas mais incríveis. Lembro-me de que alguém, num crime
passional, terminou assim a matéria: — “E nem um goivinho
ornava a cova dela”. Dirão vocês que esse fecho de ouro é
puramente folclórico. Não sei e talvez. Mas saía coisa parecida. E o Pompeu trouxe para cá o que se fazia nos Estados
Unidos — o copy desk.
Começava a nova imprensa. Primeiro, foi só o Diário
Carioca; pouco depois, os outros, por imitação, o acompanharam.
Rapidamente, os nossos jornais foram atacados de uma
doença grave: — a objetividade. Daí para o “idiota da objetividade” seria um passo. Certa vez, encontrei-me com o
Moacir Werneck de Castro. Gosto muito dele e o saudei com
a mais larga e cálida efusão. E o Moacir, com seu perfil de
lord Byron, disse para mim, risonhamente: — “Eu sou um
idiota da objetividade”.
Também Roberto Campos, mais tarde, em discurso, diria:
— “Eu sou um idiota da objetividade”. Na verdade, tanto
Roberto como Moacir são dois líricos. Eis o que eu queria dizer:
— o idiota da objetividade inunda as mesas de redação e seu
autor foi, mais uma vez, Pompeu de Sousa. Aliás, devo dizer que
o copy desk e o idiota da objetividade são gêmeos e um explica
o outro.
E toda a imprensa passou a usar a palavra “objetividade”
como um simples brinquedo auditivo. A crônica esportiva via times e jogadores “objetivos”. Equipes e jogadores eram condenados por falta de objetividade. Um exemplo da nova linguagem foi o atentado de Toneleros. Toda a nação tremeu. Era
óbvio que o crime trazia, em seu ventre, uma tragédia nacional.
Podia ser até a guerra civil. Em menos de 24 horas o Brasil se
preparou para matar ou para morrer. E como noticiou o Diário
Carioca o acontecimento? Era uma catástrofe. O jornal deu-lhe
esse tom de catástrofe? Não e nunca. O Diário Carioca nada
concedeu à emoção nem ao espanto. Podia ter posto na manchete, e ao menos na manchete, um ponto de exclamação. Foi
de uma casta, exemplar objetividade. Tom estrita e secamente
informativo. Tratou o drama histórico como se fosse o atropelamento do Zezinho, ali da esquina.
Era, repito, a implacável objetividade. E, depois, Getúlio
deu um tiro no peito. Ali estava o Brasil, novamente, cara a
cara com a guerra civil. E que fez o Diário Carioca? A aragem
da tragédia soprou nas suas páginas? Jamais. No princípio do
século, mataram o rei e o príncipe herdeiro de Portugal
(segundo me diz o luso Álvaro Nascimento, o rei tinha o olho
perdidamente azul). Aqui, o nosso Correio da Manhã abria
cinco manchetes. Os tipos enormes eram um soco visual. E
rezava a quinta manchete: “HORRÍVEL EMOÇÃO!”. Vejam
vocês: — “HORRÍVEL EMOÇÃO!”.
O Diário Carioca não pingou uma lágrima sobre o corpo
de Getúlio. Era a monstruosa e alienada objetividade. As
duas coisas pareciam não ter nenhuma conexão: — o fato e
a sua cobertura.
Estava um povo inteiro a se desgrenhar, a chorar lágrimas
de pedra. E a reportagem, sem entranhas, ignorava a pavorosa
emoção popular. Outro exemplo seria ainda o assassinato de
Kennedy.
Na velha imprensa as manchetes choravam com o leitor. A
partir do copy desk, sumiu a emoção dos títulos e subtítulos. E
que pobre cadáver foi Kennedy na primeira página, por exemplo, do Jornal do Brasil. A manchete humilhava a catástrofe. O
mesmo e impessoal tom informativo. Estava lá o cadáver ainda
quente. Uma bala arrancara o seu queixo forte, plástico, vital.
Nenhum espanto da manchete. Havia um abismo entre o Jornal
do Brasil e a tragédia, entre o Jornal do Brasil e a cara mutilada.
Pode-se falar na desumanização da manchete.
O Jornal do Brasil, sob o reinado do copy desk, lembra-
-me aquela página célebre de ficção. Era uma lavadeira que
se viu, de repente, no meio de uma baderna horrorosa. Tiro
e bordoada em quantidade. A lavadeira veio espiar a briga.
Lá adiante, numa colina, viu um baixinho olhando por um
binóculo. Ali estava Napoleão e ali estava Waterloo. Mas a santa
mulher ignorou um e outro; e veio para dentro ensaboar a sua
roupa suja. Eis o que eu queria dizer: — a primeira página do
Jornal do Brasil tem a mesma alienação da lavadeira diante dos
napoleões e das batalhas.
E o pior é que, pouco a pouco, o copy desk vem fazendo do
leitor um outro idiota da objetividade. A aridez de um se transmite ao outro. Eu me pergunto se, um dia, não seremos nós 80
milhões de copy desks? Oitenta milhões de impotentes do
sentimento. Ontem, falava eu do pânico de um médico famoso.
Segundo o clínico, a juventude está desinteressada do amor ou
por outra: — esquece antes de amar, sente tédio antes do desejo. Juventude copy desk, talvez.
Dirá alguém que o jovem é capaz de um sentimento
forte. Tem vida ideológica, ódio político. Não sei se contei
que vi, um dia, um rapaz dizer que dava um tiro no Roberto
Campos. Mas o ódio político não é um sentimento, uma
paixão, nem mesmo ódio. É uma pura, vil, obtusa palavra de
ordem.
(RODRIGUES, Nelson. Os idiotas da objetividade. In: __________. A
cabra vadia: novas confissões. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2017. p. 30-33.)
Assinale a única alternativa na qual a regência verbal NÃO
se justifica pelo mesmo motivo que em “Lembro-me de que
alguém, num crime passional, [...]” (4º§)
Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Provas:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Consultor Jurídico
|
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Engenheiro Civil |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Terapeuta Ocupacional |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicopedagogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Nutricionista |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico Veterinário |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fonoaudiólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fisioterapeuta |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Enfermeiro |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Dentista A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Contador |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Assistente Social |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Arquiteto Urbanista |
Q2160547
Português
Texto associado
Os idiotas da objetividade
Sou da imprensa anterior ao copy desk. Tinha treze anos
quando me iniciei no jornal, como repórter de polícia. Na redação não havia nada da aridez atual e pelo contrário: — era uma
cova de delícias. O sujeito ganhava mal ou simplesmente não
ganhava. Para comer, dependia de um vale utópico de cinco ou
dez mil-réis. Mas tinha a compensação da glória. Quem redigia
um atropelamento julgava-se um estilista. E a própria vaidade
o remunerava. Cada qual era um pavão enfático. Escrevia na
véspera e no dia seguinte via-se impresso, sem o retoque de
uma vírgula. Havia uma volúpia autoral inenarrável. E nenhum
estilo era profanado por uma emenda, jamais.
Durante várias gerações foi assim e sempre assim. De
repente, explodiu o copy desk. Houve um impacto medonho.
Qualquer um na redação, seja repórter de setor ou editorialista, tem uma sagrada vaidade estilística. E o copy desk não
respeitava ninguém. Se lá aparecesse um Proust, seria reescrito do mesmo jeito. Sim, o copy desk instalou-se como a
figura demoníaca da redação.
Falei no demônio e pode parecer que foi o Príncipe das
Trevas que criou a nova moda. Não, o abominável Pai da Mentira não é o autor do copy desk. Quem o lançou e promoveu foi
Pompeu de Sousa. Era ainda o Diário Carioca, do Senador, do
Danton. Não quero ser injusto, mesmo porque o Pompeu é meu
amigo. Ele teve um pretexto, digamos assim, histórico, para
tentar a inovação.
Havia na imprensa uma massa de analfabetos. Saíam as
coisas mais incríveis. Lembro-me de que alguém, num crime
passional, terminou assim a matéria: — “E nem um goivinho
ornava a cova dela”. Dirão vocês que esse fecho de ouro é
puramente folclórico. Não sei e talvez. Mas saía coisa parecida. E o Pompeu trouxe para cá o que se fazia nos Estados
Unidos — o copy desk.
Começava a nova imprensa. Primeiro, foi só o Diário
Carioca; pouco depois, os outros, por imitação, o acompanharam.
Rapidamente, os nossos jornais foram atacados de uma
doença grave: — a objetividade. Daí para o “idiota da objetividade” seria um passo. Certa vez, encontrei-me com o
Moacir Werneck de Castro. Gosto muito dele e o saudei com
a mais larga e cálida efusão. E o Moacir, com seu perfil de
lord Byron, disse para mim, risonhamente: — “Eu sou um
idiota da objetividade”.
Também Roberto Campos, mais tarde, em discurso, diria:
— “Eu sou um idiota da objetividade”. Na verdade, tanto
Roberto como Moacir são dois líricos. Eis o que eu queria dizer:
— o idiota da objetividade inunda as mesas de redação e seu
autor foi, mais uma vez, Pompeu de Sousa. Aliás, devo dizer que
o copy desk e o idiota da objetividade são gêmeos e um explica
o outro.
E toda a imprensa passou a usar a palavra “objetividade”
como um simples brinquedo auditivo. A crônica esportiva via times e jogadores “objetivos”. Equipes e jogadores eram condenados por falta de objetividade. Um exemplo da nova linguagem foi o atentado de Toneleros. Toda a nação tremeu. Era
óbvio que o crime trazia, em seu ventre, uma tragédia nacional.
Podia ser até a guerra civil. Em menos de 24 horas o Brasil se
preparou para matar ou para morrer. E como noticiou o Diário
Carioca o acontecimento? Era uma catástrofe. O jornal deu-lhe
esse tom de catástrofe? Não e nunca. O Diário Carioca nada
concedeu à emoção nem ao espanto. Podia ter posto na manchete, e ao menos na manchete, um ponto de exclamação. Foi
de uma casta, exemplar objetividade. Tom estrita e secamente
informativo. Tratou o drama histórico como se fosse o atropelamento do Zezinho, ali da esquina.
Era, repito, a implacável objetividade. E, depois, Getúlio
deu um tiro no peito. Ali estava o Brasil, novamente, cara a
cara com a guerra civil. E que fez o Diário Carioca? A aragem
da tragédia soprou nas suas páginas? Jamais. No princípio do
século, mataram o rei e o príncipe herdeiro de Portugal
(segundo me diz o luso Álvaro Nascimento, o rei tinha o olho
perdidamente azul). Aqui, o nosso Correio da Manhã abria
cinco manchetes. Os tipos enormes eram um soco visual. E
rezava a quinta manchete: “HORRÍVEL EMOÇÃO!”. Vejam
vocês: — “HORRÍVEL EMOÇÃO!”.
O Diário Carioca não pingou uma lágrima sobre o corpo
de Getúlio. Era a monstruosa e alienada objetividade. As
duas coisas pareciam não ter nenhuma conexão: — o fato e
a sua cobertura.
Estava um povo inteiro a se desgrenhar, a chorar lágrimas
de pedra. E a reportagem, sem entranhas, ignorava a pavorosa
emoção popular. Outro exemplo seria ainda o assassinato de
Kennedy.
Na velha imprensa as manchetes choravam com o leitor. A
partir do copy desk, sumiu a emoção dos títulos e subtítulos. E
que pobre cadáver foi Kennedy na primeira página, por exemplo, do Jornal do Brasil. A manchete humilhava a catástrofe. O
mesmo e impessoal tom informativo. Estava lá o cadáver ainda
quente. Uma bala arrancara o seu queixo forte, plástico, vital.
Nenhum espanto da manchete. Havia um abismo entre o Jornal
do Brasil e a tragédia, entre o Jornal do Brasil e a cara mutilada.
Pode-se falar na desumanização da manchete.
O Jornal do Brasil, sob o reinado do copy desk, lembra-
-me aquela página célebre de ficção. Era uma lavadeira que
se viu, de repente, no meio de uma baderna horrorosa. Tiro
e bordoada em quantidade. A lavadeira veio espiar a briga.
Lá adiante, numa colina, viu um baixinho olhando por um
binóculo. Ali estava Napoleão e ali estava Waterloo. Mas a santa
mulher ignorou um e outro; e veio para dentro ensaboar a sua
roupa suja. Eis o que eu queria dizer: — a primeira página do
Jornal do Brasil tem a mesma alienação da lavadeira diante dos
napoleões e das batalhas.
E o pior é que, pouco a pouco, o copy desk vem fazendo do
leitor um outro idiota da objetividade. A aridez de um se transmite ao outro. Eu me pergunto se, um dia, não seremos nós 80
milhões de copy desks? Oitenta milhões de impotentes do
sentimento. Ontem, falava eu do pânico de um médico famoso.
Segundo o clínico, a juventude está desinteressada do amor ou
por outra: — esquece antes de amar, sente tédio antes do desejo. Juventude copy desk, talvez.
Dirá alguém que o jovem é capaz de um sentimento
forte. Tem vida ideológica, ódio político. Não sei se contei
que vi, um dia, um rapaz dizer que dava um tiro no Roberto
Campos. Mas o ódio político não é um sentimento, uma
paixão, nem mesmo ódio. É uma pura, vil, obtusa palavra de
ordem.
(RODRIGUES, Nelson. Os idiotas da objetividade. In: __________. A
cabra vadia: novas confissões. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2017. p. 30-33.)
Assinale a afirmativa na qual o “o” pertence à mesma classe
morfológica e exerce a mesma função sintática que em “E a
própria vaidade o remunerava.” (1º§)
Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Provas:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Consultor Jurídico
|
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Engenheiro Civil |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Terapeuta Ocupacional |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicopedagogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Nutricionista |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico Veterinário |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fonoaudiólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fisioterapeuta |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Enfermeiro |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Dentista A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Contador |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Assistente Social |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Arquiteto Urbanista |
Q2160546
Português
Texto associado
Os idiotas da objetividade
Sou da imprensa anterior ao copy desk. Tinha treze anos
quando me iniciei no jornal, como repórter de polícia. Na redação não havia nada da aridez atual e pelo contrário: — era uma
cova de delícias. O sujeito ganhava mal ou simplesmente não
ganhava. Para comer, dependia de um vale utópico de cinco ou
dez mil-réis. Mas tinha a compensação da glória. Quem redigia
um atropelamento julgava-se um estilista. E a própria vaidade
o remunerava. Cada qual era um pavão enfático. Escrevia na
véspera e no dia seguinte via-se impresso, sem o retoque de
uma vírgula. Havia uma volúpia autoral inenarrável. E nenhum
estilo era profanado por uma emenda, jamais.
Durante várias gerações foi assim e sempre assim. De
repente, explodiu o copy desk. Houve um impacto medonho.
Qualquer um na redação, seja repórter de setor ou editorialista, tem uma sagrada vaidade estilística. E o copy desk não
respeitava ninguém. Se lá aparecesse um Proust, seria reescrito do mesmo jeito. Sim, o copy desk instalou-se como a
figura demoníaca da redação.
Falei no demônio e pode parecer que foi o Príncipe das
Trevas que criou a nova moda. Não, o abominável Pai da Mentira não é o autor do copy desk. Quem o lançou e promoveu foi
Pompeu de Sousa. Era ainda o Diário Carioca, do Senador, do
Danton. Não quero ser injusto, mesmo porque o Pompeu é meu
amigo. Ele teve um pretexto, digamos assim, histórico, para
tentar a inovação.
Havia na imprensa uma massa de analfabetos. Saíam as
coisas mais incríveis. Lembro-me de que alguém, num crime
passional, terminou assim a matéria: — “E nem um goivinho
ornava a cova dela”. Dirão vocês que esse fecho de ouro é
puramente folclórico. Não sei e talvez. Mas saía coisa parecida. E o Pompeu trouxe para cá o que se fazia nos Estados
Unidos — o copy desk.
Começava a nova imprensa. Primeiro, foi só o Diário
Carioca; pouco depois, os outros, por imitação, o acompanharam.
Rapidamente, os nossos jornais foram atacados de uma
doença grave: — a objetividade. Daí para o “idiota da objetividade” seria um passo. Certa vez, encontrei-me com o
Moacir Werneck de Castro. Gosto muito dele e o saudei com
a mais larga e cálida efusão. E o Moacir, com seu perfil de
lord Byron, disse para mim, risonhamente: — “Eu sou um
idiota da objetividade”.
Também Roberto Campos, mais tarde, em discurso, diria:
— “Eu sou um idiota da objetividade”. Na verdade, tanto
Roberto como Moacir são dois líricos. Eis o que eu queria dizer:
— o idiota da objetividade inunda as mesas de redação e seu
autor foi, mais uma vez, Pompeu de Sousa. Aliás, devo dizer que
o copy desk e o idiota da objetividade são gêmeos e um explica
o outro.
E toda a imprensa passou a usar a palavra “objetividade”
como um simples brinquedo auditivo. A crônica esportiva via times e jogadores “objetivos”. Equipes e jogadores eram condenados por falta de objetividade. Um exemplo da nova linguagem foi o atentado de Toneleros. Toda a nação tremeu. Era
óbvio que o crime trazia, em seu ventre, uma tragédia nacional.
Podia ser até a guerra civil. Em menos de 24 horas o Brasil se
preparou para matar ou para morrer. E como noticiou o Diário
Carioca o acontecimento? Era uma catástrofe. O jornal deu-lhe
esse tom de catástrofe? Não e nunca. O Diário Carioca nada
concedeu à emoção nem ao espanto. Podia ter posto na manchete, e ao menos na manchete, um ponto de exclamação. Foi
de uma casta, exemplar objetividade. Tom estrita e secamente
informativo. Tratou o drama histórico como se fosse o atropelamento do Zezinho, ali da esquina.
Era, repito, a implacável objetividade. E, depois, Getúlio
deu um tiro no peito. Ali estava o Brasil, novamente, cara a
cara com a guerra civil. E que fez o Diário Carioca? A aragem
da tragédia soprou nas suas páginas? Jamais. No princípio do
século, mataram o rei e o príncipe herdeiro de Portugal
(segundo me diz o luso Álvaro Nascimento, o rei tinha o olho
perdidamente azul). Aqui, o nosso Correio da Manhã abria
cinco manchetes. Os tipos enormes eram um soco visual. E
rezava a quinta manchete: “HORRÍVEL EMOÇÃO!”. Vejam
vocês: — “HORRÍVEL EMOÇÃO!”.
O Diário Carioca não pingou uma lágrima sobre o corpo
de Getúlio. Era a monstruosa e alienada objetividade. As
duas coisas pareciam não ter nenhuma conexão: — o fato e
a sua cobertura.
Estava um povo inteiro a se desgrenhar, a chorar lágrimas
de pedra. E a reportagem, sem entranhas, ignorava a pavorosa
emoção popular. Outro exemplo seria ainda o assassinato de
Kennedy.
Na velha imprensa as manchetes choravam com o leitor. A
partir do copy desk, sumiu a emoção dos títulos e subtítulos. E
que pobre cadáver foi Kennedy na primeira página, por exemplo, do Jornal do Brasil. A manchete humilhava a catástrofe. O
mesmo e impessoal tom informativo. Estava lá o cadáver ainda
quente. Uma bala arrancara o seu queixo forte, plástico, vital.
Nenhum espanto da manchete. Havia um abismo entre o Jornal
do Brasil e a tragédia, entre o Jornal do Brasil e a cara mutilada.
Pode-se falar na desumanização da manchete.
O Jornal do Brasil, sob o reinado do copy desk, lembra-
-me aquela página célebre de ficção. Era uma lavadeira que
se viu, de repente, no meio de uma baderna horrorosa. Tiro
e bordoada em quantidade. A lavadeira veio espiar a briga.
Lá adiante, numa colina, viu um baixinho olhando por um
binóculo. Ali estava Napoleão e ali estava Waterloo. Mas a santa
mulher ignorou um e outro; e veio para dentro ensaboar a sua
roupa suja. Eis o que eu queria dizer: — a primeira página do
Jornal do Brasil tem a mesma alienação da lavadeira diante dos
napoleões e das batalhas.
E o pior é que, pouco a pouco, o copy desk vem fazendo do
leitor um outro idiota da objetividade. A aridez de um se transmite ao outro. Eu me pergunto se, um dia, não seremos nós 80
milhões de copy desks? Oitenta milhões de impotentes do
sentimento. Ontem, falava eu do pânico de um médico famoso.
Segundo o clínico, a juventude está desinteressada do amor ou
por outra: — esquece antes de amar, sente tédio antes do desejo. Juventude copy desk, talvez.
Dirá alguém que o jovem é capaz de um sentimento
forte. Tem vida ideológica, ódio político. Não sei se contei
que vi, um dia, um rapaz dizer que dava um tiro no Roberto
Campos. Mas o ódio político não é um sentimento, uma
paixão, nem mesmo ódio. É uma pura, vil, obtusa palavra de
ordem.
(RODRIGUES, Nelson. Os idiotas da objetividade. In: __________. A
cabra vadia: novas confissões. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2017. p. 30-33.)
“Quem redigia um atropelamento julgava-se um estilista. E a
própria vaidade o remunerava. Cada qual era um pavão enfático. Escrevia na véspera e no dia seguinte via-se impresso,
sem o retoque de uma vírgula. Havia uma volúpia autoral inenarrável. E nenhum estilo era profanado por uma emenda,
jamais.” (1º§). Em relação às palavras destacadas, analise as
afirmativas a seguir.
I. “Enfático” designa aquilo que dá seriedade, importância a algo e está empregada, no contexto, em sentido conotativo.
II. “Volúpia” designa luxúria ou grande prazer dos sentidos e sensações e está empregada, no contexto, em sentido denotativo.
III. “Profanado” designa aquilo que é sagrado e foi tratado com desprezo, ofendido, maculado e está empregada, no contexto, em sentido conotativo.
Está correto o que se afirma em
I. “Enfático” designa aquilo que dá seriedade, importância a algo e está empregada, no contexto, em sentido conotativo.
II. “Volúpia” designa luxúria ou grande prazer dos sentidos e sensações e está empregada, no contexto, em sentido denotativo.
III. “Profanado” designa aquilo que é sagrado e foi tratado com desprezo, ofendido, maculado e está empregada, no contexto, em sentido conotativo.
Está correto o que se afirma em
Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Provas:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Consultor Jurídico
|
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Engenheiro Civil |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Terapeuta Ocupacional |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicopedagogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Psicólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Nutricionista |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico Veterinário |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fonoaudiólogo |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Médico A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Fisioterapeuta |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Enfermeiro |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Dentista A |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Contador |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Assistente Social |
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Arquiteto Urbanista |
Q2160543
Português
Texto associado
Os idiotas da objetividade
Sou da imprensa anterior ao copy desk. Tinha treze anos
quando me iniciei no jornal, como repórter de polícia. Na redação não havia nada da aridez atual e pelo contrário: — era uma
cova de delícias. O sujeito ganhava mal ou simplesmente não
ganhava. Para comer, dependia de um vale utópico de cinco ou
dez mil-réis. Mas tinha a compensação da glória. Quem redigia
um atropelamento julgava-se um estilista. E a própria vaidade
o remunerava. Cada qual era um pavão enfático. Escrevia na
véspera e no dia seguinte via-se impresso, sem o retoque de
uma vírgula. Havia uma volúpia autoral inenarrável. E nenhum
estilo era profanado por uma emenda, jamais.
Durante várias gerações foi assim e sempre assim. De
repente, explodiu o copy desk. Houve um impacto medonho.
Qualquer um na redação, seja repórter de setor ou editorialista, tem uma sagrada vaidade estilística. E o copy desk não
respeitava ninguém. Se lá aparecesse um Proust, seria reescrito do mesmo jeito. Sim, o copy desk instalou-se como a
figura demoníaca da redação.
Falei no demônio e pode parecer que foi o Príncipe das
Trevas que criou a nova moda. Não, o abominável Pai da Mentira não é o autor do copy desk. Quem o lançou e promoveu foi
Pompeu de Sousa. Era ainda o Diário Carioca, do Senador, do
Danton. Não quero ser injusto, mesmo porque o Pompeu é meu
amigo. Ele teve um pretexto, digamos assim, histórico, para
tentar a inovação.
Havia na imprensa uma massa de analfabetos. Saíam as
coisas mais incríveis. Lembro-me de que alguém, num crime
passional, terminou assim a matéria: — “E nem um goivinho
ornava a cova dela”. Dirão vocês que esse fecho de ouro é
puramente folclórico. Não sei e talvez. Mas saía coisa parecida. E o Pompeu trouxe para cá o que se fazia nos Estados
Unidos — o copy desk.
Começava a nova imprensa. Primeiro, foi só o Diário
Carioca; pouco depois, os outros, por imitação, o acompanharam.
Rapidamente, os nossos jornais foram atacados de uma
doença grave: — a objetividade. Daí para o “idiota da objetividade” seria um passo. Certa vez, encontrei-me com o
Moacir Werneck de Castro. Gosto muito dele e o saudei com
a mais larga e cálida efusão. E o Moacir, com seu perfil de
lord Byron, disse para mim, risonhamente: — “Eu sou um
idiota da objetividade”.
Também Roberto Campos, mais tarde, em discurso, diria:
— “Eu sou um idiota da objetividade”. Na verdade, tanto
Roberto como Moacir são dois líricos. Eis o que eu queria dizer:
— o idiota da objetividade inunda as mesas de redação e seu
autor foi, mais uma vez, Pompeu de Sousa. Aliás, devo dizer que
o copy desk e o idiota da objetividade são gêmeos e um explica
o outro.
E toda a imprensa passou a usar a palavra “objetividade”
como um simples brinquedo auditivo. A crônica esportiva via times e jogadores “objetivos”. Equipes e jogadores eram condenados por falta de objetividade. Um exemplo da nova linguagem foi o atentado de Toneleros. Toda a nação tremeu. Era
óbvio que o crime trazia, em seu ventre, uma tragédia nacional.
Podia ser até a guerra civil. Em menos de 24 horas o Brasil se
preparou para matar ou para morrer. E como noticiou o Diário
Carioca o acontecimento? Era uma catástrofe. O jornal deu-lhe
esse tom de catástrofe? Não e nunca. O Diário Carioca nada
concedeu à emoção nem ao espanto. Podia ter posto na manchete, e ao menos na manchete, um ponto de exclamação. Foi
de uma casta, exemplar objetividade. Tom estrita e secamente
informativo. Tratou o drama histórico como se fosse o atropelamento do Zezinho, ali da esquina.
Era, repito, a implacável objetividade. E, depois, Getúlio
deu um tiro no peito. Ali estava o Brasil, novamente, cara a
cara com a guerra civil. E que fez o Diário Carioca? A aragem
da tragédia soprou nas suas páginas? Jamais. No princípio do
século, mataram o rei e o príncipe herdeiro de Portugal
(segundo me diz o luso Álvaro Nascimento, o rei tinha o olho
perdidamente azul). Aqui, o nosso Correio da Manhã abria
cinco manchetes. Os tipos enormes eram um soco visual. E
rezava a quinta manchete: “HORRÍVEL EMOÇÃO!”. Vejam
vocês: — “HORRÍVEL EMOÇÃO!”.
O Diário Carioca não pingou uma lágrima sobre o corpo
de Getúlio. Era a monstruosa e alienada objetividade. As
duas coisas pareciam não ter nenhuma conexão: — o fato e
a sua cobertura.
Estava um povo inteiro a se desgrenhar, a chorar lágrimas
de pedra. E a reportagem, sem entranhas, ignorava a pavorosa
emoção popular. Outro exemplo seria ainda o assassinato de
Kennedy.
Na velha imprensa as manchetes choravam com o leitor. A
partir do copy desk, sumiu a emoção dos títulos e subtítulos. E
que pobre cadáver foi Kennedy na primeira página, por exemplo, do Jornal do Brasil. A manchete humilhava a catástrofe. O
mesmo e impessoal tom informativo. Estava lá o cadáver ainda
quente. Uma bala arrancara o seu queixo forte, plástico, vital.
Nenhum espanto da manchete. Havia um abismo entre o Jornal
do Brasil e a tragédia, entre o Jornal do Brasil e a cara mutilada.
Pode-se falar na desumanização da manchete.
O Jornal do Brasil, sob o reinado do copy desk, lembra-
-me aquela página célebre de ficção. Era uma lavadeira que
se viu, de repente, no meio de uma baderna horrorosa. Tiro
e bordoada em quantidade. A lavadeira veio espiar a briga.
Lá adiante, numa colina, viu um baixinho olhando por um
binóculo. Ali estava Napoleão e ali estava Waterloo. Mas a santa
mulher ignorou um e outro; e veio para dentro ensaboar a sua
roupa suja. Eis o que eu queria dizer: — a primeira página do
Jornal do Brasil tem a mesma alienação da lavadeira diante dos
napoleões e das batalhas.
E o pior é que, pouco a pouco, o copy desk vem fazendo do
leitor um outro idiota da objetividade. A aridez de um se transmite ao outro. Eu me pergunto se, um dia, não seremos nós 80
milhões de copy desks? Oitenta milhões de impotentes do
sentimento. Ontem, falava eu do pânico de um médico famoso.
Segundo o clínico, a juventude está desinteressada do amor ou
por outra: — esquece antes de amar, sente tédio antes do desejo. Juventude copy desk, talvez.
Dirá alguém que o jovem é capaz de um sentimento
forte. Tem vida ideológica, ódio político. Não sei se contei
que vi, um dia, um rapaz dizer que dava um tiro no Roberto
Campos. Mas o ódio político não é um sentimento, uma
paixão, nem mesmo ódio. É uma pura, vil, obtusa palavra de
ordem.
(RODRIGUES, Nelson. Os idiotas da objetividade. In: __________. A
cabra vadia: novas confissões. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2017. p. 30-33.)
“O Diário Carioca nada concedeu à emoção nem ao espanto.”
(8º§). Ocorre crase pelo mesmo motivo em:
Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Prova:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Bombeiro Municipal |
Q2155202
Português
Texto associado
A riqueza e o primoroso esmero do trajar, o porte altivo e
senhoril, certo balanceio afetado e langoroso dos movimentos
davam-lhe esse ar pretensioso, que acompanha toda moça
bonita e rica, ainda mesmo quando está sozinha. Mas com todo
esse luxo e donaire de grande senhora nem por isso sua grande
beleza deixava de ficar algum tanto eclipsada em presença das
formas puras e corretas, da nobre singeleza, e dos tão naturais
e modestos ademanes da cantora. Todavia Malvina era linda,
encantadora mesmo, e posto que vaidosa da sua formosura e
alta posição, transluzia-lhe nos grandes e meigos olhos azuis
toda a nativa bondade do seu coração.
Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida
para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou
que terminasse a última copla.
— Isaura!... disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora.
— Ah! é a senhora?! — respondeu Isaura voltando-se
sobressaltada.
— Não sabia que estava aí me escutando.
— Pois que tem isso?... continua a cantar... tens a voz
tão bonita!... mas eu antes quisera que cantasses outra
coisa; porque é que você gosta tanto dessa cantiga tão triste,
que você aprendeu não sei onde?...
— Gosto dela, porque acho-a bonita e porque... ah! não
devo falar...
— Fala, Isaura. Já não te disse que nada me deves esconder, e nada recear de mim?...
— Porque me faz lembrar da minha mãe, que eu não
conheci, coitada!... Mas se a senhora não gosta dessa cantiga,
não a cantarei mais.
— Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que
és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores
bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria
inveja a muita gente livre. Gozas da estima dos teus senhores.
Deram-te uma educação, como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço.
(A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Fragmento.)
Assinale a alternativa que apresenta uma proposta de reescrita que mantém a correção gramatical e o sentido original do
trecho: [...] “posto que vaidosa da sua formosura e alta posição, transluzia-lhe nos grandes e meigos olhos azuis toda a
nativa bondade do seu coração.” (1º§).
Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Prova:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Bombeiro Municipal |
Q2155200
Português
Texto associado
A riqueza e o primoroso esmero do trajar, o porte altivo e
senhoril, certo balanceio afetado e langoroso dos movimentos
davam-lhe esse ar pretensioso, que acompanha toda moça
bonita e rica, ainda mesmo quando está sozinha. Mas com todo
esse luxo e donaire de grande senhora nem por isso sua grande
beleza deixava de ficar algum tanto eclipsada em presença das
formas puras e corretas, da nobre singeleza, e dos tão naturais
e modestos ademanes da cantora. Todavia Malvina era linda,
encantadora mesmo, e posto que vaidosa da sua formosura e
alta posição, transluzia-lhe nos grandes e meigos olhos azuis
toda a nativa bondade do seu coração.
Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida
para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou
que terminasse a última copla.
— Isaura!... disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora.
— Ah! é a senhora?! — respondeu Isaura voltando-se
sobressaltada.
— Não sabia que estava aí me escutando.
— Pois que tem isso?... continua a cantar... tens a voz
tão bonita!... mas eu antes quisera que cantasses outra
coisa; porque é que você gosta tanto dessa cantiga tão triste,
que você aprendeu não sei onde?...
— Gosto dela, porque acho-a bonita e porque... ah! não
devo falar...
— Fala, Isaura. Já não te disse que nada me deves esconder, e nada recear de mim?...
— Porque me faz lembrar da minha mãe, que eu não
conheci, coitada!... Mas se a senhora não gosta dessa cantiga,
não a cantarei mais.
— Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que
és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores
bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria
inveja a muita gente livre. Gozas da estima dos teus senhores.
Deram-te uma educação, como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço.
(A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Fragmento.)
No que tange à posição de sílabas tônicas, a única opção que
contempla um par de termos de mesma classificação é:
Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Prova:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Bombeiro Municipal |
Q2155195
Português
Texto associado
A riqueza e o primoroso esmero do trajar, o porte altivo e
senhoril, certo balanceio afetado e langoroso dos movimentos
davam-lhe esse ar pretensioso, que acompanha toda moça
bonita e rica, ainda mesmo quando está sozinha. Mas com todo
esse luxo e donaire de grande senhora nem por isso sua grande
beleza deixava de ficar algum tanto eclipsada em presença das
formas puras e corretas, da nobre singeleza, e dos tão naturais
e modestos ademanes da cantora. Todavia Malvina era linda,
encantadora mesmo, e posto que vaidosa da sua formosura e
alta posição, transluzia-lhe nos grandes e meigos olhos azuis
toda a nativa bondade do seu coração.
Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida
para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou
que terminasse a última copla.
— Isaura!... disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora.
— Ah! é a senhora?! — respondeu Isaura voltando-se
sobressaltada.
— Não sabia que estava aí me escutando.
— Pois que tem isso?... continua a cantar... tens a voz
tão bonita!... mas eu antes quisera que cantasses outra
coisa; porque é que você gosta tanto dessa cantiga tão triste,
que você aprendeu não sei onde?...
— Gosto dela, porque acho-a bonita e porque... ah! não
devo falar...
— Fala, Isaura. Já não te disse que nada me deves esconder, e nada recear de mim?...
— Porque me faz lembrar da minha mãe, que eu não
conheci, coitada!... Mas se a senhora não gosta dessa cantiga,
não a cantarei mais.
— Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que
és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores
bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria
inveja a muita gente livre. Gozas da estima dos teus senhores.
Deram-te uma educação, como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço.
(A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Fragmento.)
No trecho [...] “ah! não devo falar [...]” (7º§), a classificação
morfológica dos termos destacados corresponde, respectivamente, a
Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Prova:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Ajudante Operacional |
Q2155112
Português
Texto associado
Crônica da vida que passa
Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por
eles toda a tristeza da celebridade.
A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma
alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser
olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação
de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo
nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que
se torna célebre fica sem vida íntima: tornam‐se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo
o seu traje; e aquelas suas mínimas ações – ridiculamente humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, côa‐as a lente da
celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evidência
a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muitogrosseiro
para se poder ser célebre à vontade.
Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas
as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua
obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida,
que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na
sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável.
Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz.
E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também.
Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a
pena sê‐lo. Deixar‐se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão
ao baixo‐instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas
vistas e nos ouvidos.
Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que
“homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os destinos, torna‐se‐me inegável; parece‐me que esse é não só o mais
belo, mas o maior dos destinos.
(PESSOA, Fernando. Páginas íntimas e de autointerpretação. Lisboa:
Edições Ática, [s.d.]. p. 66‐67.)
Quanto à classe gramatical das palavras, dentre os termos
destacados, identifique o que se difere dos demais.