Questões da Prova IF-MG - 2019 - IF-MG - Tecnólogo em Gestão Pública

Foram encontradas 8 questões

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Q1020343 Português

                                    PAI CONTRA MÃE


A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.

O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói.

(ASSIS, Machado de. “Pae contra mãe”. In: Relíquias de Casa Velha. Rio de Janeiro, H. Garnier Livreiro Editor, 1906, texto adaptado. Fragmento.)

Observe a frase a seguir: “A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais”. Assinale a opção em que a frase anterior foi reescrita COM prejuízo do seu sentido original:
Alternativas
Q1020342 Português

                                    PAI CONTRA MÃE


A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.

O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói.

(ASSIS, Machado de. “Pae contra mãe”. In: Relíquias de Casa Velha. Rio de Janeiro, H. Garnier Livreiro Editor, 1906, texto adaptado. Fragmento.)

O Texto 1, fragmento de um conto de Machado de Assis (1839-908), contextualiza alguns dos castigos sofridos pelos escravos brasileiros. Com relação às mudanças sociais que ocorreram com o fim escravidão, sobretudo em relação aos aparelhos e ofícios utilizados para castigar os escravos, considere as afirmativas a seguir:


I- Com a máscara de folha-deflandres era possível retomar a sobriedade e a honestidade porque o furto era resultado, por vezes, do alcoolismo.

II- O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões e facilitava a captura do escravo, não só pelo peso natural, mas também pelo sinal de reincidência.

III- Mesmo com o fim da escravidão, alguns aparelhos e ofícios, como a máscara de folhadeflandres, permaneceram para que a ordem social e humana fosse alcançada.

IV- A máscara de folha-de-flandres, assim como o ferro ao pescoço ou ao pé, além de grotescos, eram aparelhos cruéis.


Estão corretas as afirmativas

Alternativas
Q1020341 Português

O RACISMO DA ACADEMIA APAGOU A HISTÓRIA DE DANDARA E LUISA MAHIN


      A escravidão interrompeu a história da África e de seus descendentes, roubando séculos de produção intelectual em troca de trabalho forçado. O Brasil só aboliu a escravidão há menos de 131 anos e é natural ver alguns nomes de heróis afro-brasileiros sendo reconhecidos cada vez mais no Panteão da Pátria, um memorial cívico inaugurado em 1986 para homenagear personalidades brasileiras.

      No “Livro dos heróis e heroínas da pátria”, já constam nomes como Luís Gama, Anita Garibaldi, Zumbi dos Palmares e Heitor Villa-Lobos. Recentemente, o Senado aprovou a inclusão de duas lideranças negras: Dandara, líder quilombola que articulava as estratégias de Palmares ao lado do marido, Zumbi, e Luisa Mahin, considerada uma das maiores lideranças negras contra a escravidão na Bahia do século 19, mãe do abolicionista Luís Gama. Ambas são símbolos da luta feminina contra a escravidão.

      Assim como a maior parte dos personagens negros, o nome dessas duas guerreiras é envolto em polêmica. Historiadores desconectados da realidade negra questionam as fontes que comprovam a existência dessas mulheres porque só há relatos esparsos das suas vidas. Ambas acabaram alvos do desinteresse de historiadores da época, e ainda hoje existe uma dificuldade imensa em recuperar suas biografias por não haver um esforço em catalogar e analisar a tradição oral como fonte historiográfica. A maior parte da vida de Dandara, por exemplo, sobreviveu na forma de lendas, segundo a Fundação Palmares. Não há registros do local onde nasceu, tampouco da sua ascendência africana, tampouco sobraram evidências físicas sobre a Dandara após o ataque a Palmares.

     A mãe de Luís Gama é tratada da mesma maneira pela história. Não existem registros oficiais de suas participações nos levantes baianos. O primeiro documento que descreve Luisa é uma carta de seu filho Luís Gama. Segundo a historiadora Ligia Fonseca Ferreira, “a riqueza de detalhes e o testemunho pessoal atribuem veracidade à narração de Gama, ampliando as possibilidades de aceitação da personagem”. Luisa pertencia à nação nagô-jeje, originária do Golfo do Benin. Era do povo Mahin, daí seu sobrenome. Ela sempre negou o batismo e manteve suas tradições africanas acima das doutrinas cristãs. Sua casa teria sido o quartel general da Revolta dos Malês em 1835.

      A falta desses registros em papel, que nunca seriam obtidos de modo fácil ou que sequer existam, gera um questionamento que, a meu ver, é a face de um preconceito secular na historiografia, tema abordado por Joseph Ki-Zerbo, um dos mais respeitados historiadores africanos. Segundo Ki-Zerbo, os estereótipos raciais criadores de desprezo estão tão profundamente consolidados que corromperam inclusive os próprios conceitos da historiografia.

A inscrição dessas duas mulheres no Panteão da Pátria não é apenas um reconhecimento das figuras históricas, mas significa uma pequena ruptura na historiografia com viés colonial, um passo em direção à valorização da tradição negra brasileira como uma entidade histórica. Isso contribui para a construção e o fortalecimento da consciência étnica do povo afro-brasileiro. Sem isso, negros e indígenas seguirão à mercê da visão de quem os manteve cativos, exatamente como diz um famoso ditado africano: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caça seguirão glorificando o caçador.”

SANTOS, Ale. 4 jun. 2019. Disponível em: https://theintercept.com/2019/06/03/dandara-luisa-mahin-historia/. Acesso em: 20 jun. 2019. Adaptado.

Considere o fragmento a seguir: Recentemente, o Senado aprovou a inclusão de duas lideranças negras: Dandara, líder quilombola que articulava as estratégias de Palmares ao lado do marido, Zumbi, e Luisa Mahin, considerada uma das maiores lideranças negras contra a escravidão na Bahia do século 19, mãe do abolicionista Luís Gama.


Assinale a opção cujo trecho destacado tem a mesma função sintática do trecho em destaque no fragmento lido.

Alternativas
Q1020340 Português

O RACISMO DA ACADEMIA APAGOU A HISTÓRIA DE DANDARA E LUISA MAHIN


      A escravidão interrompeu a história da África e de seus descendentes, roubando séculos de produção intelectual em troca de trabalho forçado. O Brasil só aboliu a escravidão há menos de 131 anos e é natural ver alguns nomes de heróis afro-brasileiros sendo reconhecidos cada vez mais no Panteão da Pátria, um memorial cívico inaugurado em 1986 para homenagear personalidades brasileiras.

      No “Livro dos heróis e heroínas da pátria”, já constam nomes como Luís Gama, Anita Garibaldi, Zumbi dos Palmares e Heitor Villa-Lobos. Recentemente, o Senado aprovou a inclusão de duas lideranças negras: Dandara, líder quilombola que articulava as estratégias de Palmares ao lado do marido, Zumbi, e Luisa Mahin, considerada uma das maiores lideranças negras contra a escravidão na Bahia do século 19, mãe do abolicionista Luís Gama. Ambas são símbolos da luta feminina contra a escravidão.

      Assim como a maior parte dos personagens negros, o nome dessas duas guerreiras é envolto em polêmica. Historiadores desconectados da realidade negra questionam as fontes que comprovam a existência dessas mulheres porque só há relatos esparsos das suas vidas. Ambas acabaram alvos do desinteresse de historiadores da época, e ainda hoje existe uma dificuldade imensa em recuperar suas biografias por não haver um esforço em catalogar e analisar a tradição oral como fonte historiográfica. A maior parte da vida de Dandara, por exemplo, sobreviveu na forma de lendas, segundo a Fundação Palmares. Não há registros do local onde nasceu, tampouco da sua ascendência africana, tampouco sobraram evidências físicas sobre a Dandara após o ataque a Palmares.

     A mãe de Luís Gama é tratada da mesma maneira pela história. Não existem registros oficiais de suas participações nos levantes baianos. O primeiro documento que descreve Luisa é uma carta de seu filho Luís Gama. Segundo a historiadora Ligia Fonseca Ferreira, “a riqueza de detalhes e o testemunho pessoal atribuem veracidade à narração de Gama, ampliando as possibilidades de aceitação da personagem”. Luisa pertencia à nação nagô-jeje, originária do Golfo do Benin. Era do povo Mahin, daí seu sobrenome. Ela sempre negou o batismo e manteve suas tradições africanas acima das doutrinas cristãs. Sua casa teria sido o quartel general da Revolta dos Malês em 1835.

      A falta desses registros em papel, que nunca seriam obtidos de modo fácil ou que sequer existam, gera um questionamento que, a meu ver, é a face de um preconceito secular na historiografia, tema abordado por Joseph Ki-Zerbo, um dos mais respeitados historiadores africanos. Segundo Ki-Zerbo, os estereótipos raciais criadores de desprezo estão tão profundamente consolidados que corromperam inclusive os próprios conceitos da historiografia.

A inscrição dessas duas mulheres no Panteão da Pátria não é apenas um reconhecimento das figuras históricas, mas significa uma pequena ruptura na historiografia com viés colonial, um passo em direção à valorização da tradição negra brasileira como uma entidade histórica. Isso contribui para a construção e o fortalecimento da consciência étnica do povo afro-brasileiro. Sem isso, negros e indígenas seguirão à mercê da visão de quem os manteve cativos, exatamente como diz um famoso ditado africano: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caça seguirão glorificando o caçador.”

SANTOS, Ale. 4 jun. 2019. Disponível em: https://theintercept.com/2019/06/03/dandara-luisa-mahin-historia/. Acesso em: 20 jun. 2019. Adaptado.

Releia: “A inscrição dessas duas mulheres no Panteão da Pátria não é apenas um reconhecimento das figuras históricas, mas significa uma pequena ruptura na historiografia com viés colonial [...].” As duas orações que compõem esse fragmento apresentam uma relação semântica de
Alternativas
Q1020339 Português

O RACISMO DA ACADEMIA APAGOU A HISTÓRIA DE DANDARA E LUISA MAHIN


      A escravidão interrompeu a história da África e de seus descendentes, roubando séculos de produção intelectual em troca de trabalho forçado. O Brasil só aboliu a escravidão há menos de 131 anos e é natural ver alguns nomes de heróis afro-brasileiros sendo reconhecidos cada vez mais no Panteão da Pátria, um memorial cívico inaugurado em 1986 para homenagear personalidades brasileiras.

      No “Livro dos heróis e heroínas da pátria”, já constam nomes como Luís Gama, Anita Garibaldi, Zumbi dos Palmares e Heitor Villa-Lobos. Recentemente, o Senado aprovou a inclusão de duas lideranças negras: Dandara, líder quilombola que articulava as estratégias de Palmares ao lado do marido, Zumbi, e Luisa Mahin, considerada uma das maiores lideranças negras contra a escravidão na Bahia do século 19, mãe do abolicionista Luís Gama. Ambas são símbolos da luta feminina contra a escravidão.

      Assim como a maior parte dos personagens negros, o nome dessas duas guerreiras é envolto em polêmica. Historiadores desconectados da realidade negra questionam as fontes que comprovam a existência dessas mulheres porque só há relatos esparsos das suas vidas. Ambas acabaram alvos do desinteresse de historiadores da época, e ainda hoje existe uma dificuldade imensa em recuperar suas biografias por não haver um esforço em catalogar e analisar a tradição oral como fonte historiográfica. A maior parte da vida de Dandara, por exemplo, sobreviveu na forma de lendas, segundo a Fundação Palmares. Não há registros do local onde nasceu, tampouco da sua ascendência africana, tampouco sobraram evidências físicas sobre a Dandara após o ataque a Palmares.

     A mãe de Luís Gama é tratada da mesma maneira pela história. Não existem registros oficiais de suas participações nos levantes baianos. O primeiro documento que descreve Luisa é uma carta de seu filho Luís Gama. Segundo a historiadora Ligia Fonseca Ferreira, “a riqueza de detalhes e o testemunho pessoal atribuem veracidade à narração de Gama, ampliando as possibilidades de aceitação da personagem”. Luisa pertencia à nação nagô-jeje, originária do Golfo do Benin. Era do povo Mahin, daí seu sobrenome. Ela sempre negou o batismo e manteve suas tradições africanas acima das doutrinas cristãs. Sua casa teria sido o quartel general da Revolta dos Malês em 1835.

      A falta desses registros em papel, que nunca seriam obtidos de modo fácil ou que sequer existam, gera um questionamento que, a meu ver, é a face de um preconceito secular na historiografia, tema abordado por Joseph Ki-Zerbo, um dos mais respeitados historiadores africanos. Segundo Ki-Zerbo, os estereótipos raciais criadores de desprezo estão tão profundamente consolidados que corromperam inclusive os próprios conceitos da historiografia.

A inscrição dessas duas mulheres no Panteão da Pátria não é apenas um reconhecimento das figuras históricas, mas significa uma pequena ruptura na historiografia com viés colonial, um passo em direção à valorização da tradição negra brasileira como uma entidade histórica. Isso contribui para a construção e o fortalecimento da consciência étnica do povo afro-brasileiro. Sem isso, negros e indígenas seguirão à mercê da visão de quem os manteve cativos, exatamente como diz um famoso ditado africano: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caça seguirão glorificando o caçador.”

SANTOS, Ale. 4 jun. 2019. Disponível em: https://theintercept.com/2019/06/03/dandara-luisa-mahin-historia/. Acesso em: 20 jun. 2019. Adaptado.

O racismo atribuído à academia justifica-se, no texto, pelo fato de
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Respostas
1: A
2: E
3: A
4: A
5: C