Questões de Concurso Público SAP-SP 2018 para Oficial Administrativo

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Q885344 Português

                                 Guardar (Antônio Cícero).


Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.

Em cofre perde-se a coisa à vista.


Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por

admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.


Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela,

isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,

isto é, estar por ela ou ser por ela.


Por isso, melhor se guarda o voo de um pássaro

Do que um pássaro sem voos.


Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,

por isso se declara e declama um poema:

Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

Guarde o que quer que guarda um poema:

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar.  

Quanto à interpretação do texto indique se as afirmações a seguir são falsas (F) ou verdadeiras (V) e assinale a alternativa correta.


( ) - O verbo guardar tem no poema o sentido de olhar, fitar, admirar.

( ) - No poema, guardar está em sintonia com contemplar, mostrar ao mundo.

( ) - O eu lírico para comprovar sua definição de guardar compara seu raciocínio com o voo de um pássaro e com a publicação de um poema.

( ) - No contexto do poema, guardar significa não preservar, em palavras escritas, sentimentos especiais.

Alternativas
Q885359 Português

Poema em linha reta (Álvaro de Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos, 

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

De acordo com o poema, marque a alternativa correta referente aos itens seguintes.


(I) O poema é construído a partir da conciliação do eu lírico e os outros.

(II) Desde o primeiro verso do poema, o eu lírico estabelece uma resistência entre sua postura pessimista e a responsabilidade pelos outros.

(III) O eu lírico apresenta fatos que mostram sua realidade.

(IV) Analisando os versos “Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.” / “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”, entende-se que o eu lírico é um solitário, porque só ele tem coragem de assumir que é infame.

Alternativas
Respostas
1: C
2: B